Suspensão da cooperação entre EUA e China afeta o combate às mudanças climáticas

A suspensão da cooperação chinesa com os Estados Unidos sobre o aquecimento global preocupa especialistas, que, no entanto, esperam que o atrito entre as duas potências em uma frente tão importante para o futuro da humanidade seja apenas temporário.

Na conferência climática da ONU COP26, no final de 2021 em Glasgow, Washington e Pequim anunciaram um acordo surpresa para fortalecer sua cooperação.

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No entanto, após a visita da presidente da Câmara dos EUA, Nancy Pelosi, a Taiwan, a China suspendeu nesta sexta-feira toda a cooperação com os americanos em várias áreas, incluindo o combate às mudanças climáticas.

"É obviamente preocupante", disse à AFP Alden Meyer, analista do grupo de pesquisa E3G.

"É impossível enfrentar a emergência climática se as duas principais economias e os dois maiores emissores de gases de efeito estufa não agirem, e é sempre melhor que o façam em colaboração", acrescentou.

A cooperação sino-americana é fundamental para todos os "problemas preocupantes", estimou também o secretário-geral da ONU, António Guterres.

A decisão chinesa traz à tona muitas questões.

"Esta é uma decisão tática ou uma estratégia de longo prazo? A China quer dizer que a cooperação é impossível enquanto houver tensões?", perguntou Alden Meyer.

"Quais são as condições para reabrir o diálogo? O que pode ser feito enquanto isso para limitar os danos e reconstruir a confiança?", escreveu Li Shuo, do Greenpeace, no Twitter.

E o que vai acontecer na conferência climática das Nações Unidas no Egito em novembro, a COP27?

"As respostas serão importantes não só para ambos os países, mas também para o planeta", insistiu o ativista.

Desde a era pré-industrial, a temperatura da Terra aumentou em média 1,2°C, gerando ondas de calor cada vez mais intensas e recorrentes, secas, inundações e tempestades em todos os continentes.

E, de acordo com especialistas do Painel de Mudanças Climáticas da ONU (IPCC), pode aumentar em +2,8°C até 2100, mesmo que os Estados cumpram seus compromissos de redução de emissões de gases de efeito estufa.

Esses compromissos foram ainda mais enfraquecidos pela crise econômica causada pela pandemia de covid-19 e pela guerra na Ucrânia, que levou, em particular, ao relançamento de usinas a carvão.

Neste contexto, para François Gemenne, membro do IPCC, a decisão chinesa é "um desastre total para o clima", "comparável à saída dos EUA do acordo de Paris", que visa trazer o aquecimento global para abaixo de +2°C, se possível a +1,5°C.

A saída dos Estados Unidos do acordo de Paris, uma decisão de Donald Trump e revertida por Joe Biden, foi acompanhada por um retrocesso na política climática interna e externa americana, dizem especialistas.

O anúncio da China "certamente não é uma retirada do cenário climático internacional ou uma rejeição da ação climática", disse à AFP David Waskow, do Instituo de Recursos Mundiais.

"Romper com a diplomacia não significa que a China renuncie a seus compromissos", concordou Mohamed Adow, do do grupo de pesquisa Power Shift Africa.

"De muitas maneiras, a China está à frente dos Estados Unidos em sua luta contra o aquecimento global", afirmou Adow à AFP.

Biden prometeu reduzir as emissões dos EUA em 50-52% até 2030 em relação aos níveis de 2005 e alcançar a neutralidade de carbono até 2050.

Mas suas ambições foram frustradas pela recusa, até agora, do Congresso em aprovar seus planos sobre meio ambiente, embora alguns progressos tenham sido feitos recentemente.

A China - maior emissora de gases de efeito estufa em valores absolutos, mas muito atrás dos Estados Unidos em termos de emissões per capita - prometeu atingir seu pico de emissões em 2030 e a neutralidade de carbono em 2060.

Havendo ou não cooperação com os Estados Unidos, a China será "pressionada por outros países - os da União Europeia, os países vulneráveis - para fortalecer seus compromissos", previu Alden Meyer.

abd/led/dg/ll/am

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