Justiça francesa rejeita extradição à Itália de ex-membros das Brigadas Vermelhas

O tribunal de apelação de Paris rejeitou nesta quarta-feira (29) a extradição de dez ex-membros das Brigadas Vermelhas e de outros grupos de extrema esquerda, reclamada pela Itália por atos de terrorismo durante os "Anos de Chumbo".

O tribunal baseou-se no princípio do respeito pela vida privada e familiar e de um julgamento justo, previsto na Convenção Europeia de Direitos Humanos para justificar o seu parecer desfavorável à extradição.

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"Estou muito feliz pelo meu cliente. Temia que ele terminasse seus dias na prisão", disse o advogado de defesa Jean-Louis Chalanset, após a decisão ser recebida com alívio por pessoas próximas aos ex-militantes.

Esses oito homens e duas mulheres - atualmente com entre 61 e 78 anos - encontraram refúgio na França nas décadas de 1980 e 1990, onde reconstruíram suas vidas graças ao então presidente François Mitterrand, que prometeu não extraditá-los caso abandonassem a luta armada.

Mas, em 2021, após meses de discussões, o atual presidente centrista Emmanuel Macron decidiu reverter a promessa do socialista e favorecer a aplicação dos pedidos de extradição da Itália, onde já foram condenados.

Os "Anos de Chumbo", assim chamados por causa da violência armada, marcaram a história da Itália sobretudo pelos ataques e ações das Brigadas Vermelhas, incluindo o sequestro e assassinato em 1978 do então ex-primeiro-ministro Aldo Moro.

Este período de lutas sociais violentas, marcado por ações de grupos revolucionários de extrema-direita e extrema-esquerda, resultou em mais de 360 mortos, milhares de feridos, 10.000 detidos e 5.000 condenações.

O advogado do Estado italiano, William Julié, disse que aguardará para ver se o Ministério Público francês recorrerá da decisão.

Durante as audiências, aqueles que concordaram em falar relembraram suas raízes em território francês. "Mandar-me para morrer na prisão aos 70 anos (...) seria um castigo típico do obscurantismo", disse Marina Petrella.

Esta ex-integrante das Brigadas Vermelhas, de 67 anos, insistiu no trauma que os processos causam às suas duas filhas e ao seu neto, após 30 anos de inserção na França, onde trabalhou como assistente social.

"Não entendo por que depois de 40 anos, a Itália não pode considerar uma anistia", disse outro ex-militante, Sergio Tornaghi, de 64 anos, que questiona o interesse de Roma em continuar a "persegui-los".

Na Itália, no entanto, há um amplo consenso sobre a extradição dos exilados. "As sentenças podem ser discutidas e criticadas, mas devem ser sempre respeitadas", comentou à AFP Ambra Minervini, vice-presidente de uma associação de vítimas.

"O caminho da justiça só pode terminar com a execução da sentença", acrescentou dias atrás a mulher, cujo pai, um magistrado, foi assassinado em 1980 pelas Brigadas Vermelhas.

mk-tjc/mb/mr

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