Vítimas ainda aguardam justiça cinco anos após grande incêndio em moradia social de Londres

As vítimas da Grenfell Tower, um prédio de moradia social londrino de 24 andares que queimou como uma tocha matando 72 pessoas, a maioria imigrantes, relembraram o quinto aniversário da tragédia nesta terça-feira (14), ainda esperando que a justiça seja feita.

Pela manhã, sobreviventes e familiares das vítimas assistiram a uma cerimônia religiosa na Abadia de Westminster, com a presença, entre outras, da ex-primeira-ministra Theresa May e do prefeito de Londres Sadiq Khan.

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Em 14 de junho de 2017, um freezer com defeito iniciou um incêndio que se espalhou rapidamente pela torre, localizada no bairro nobre de North Kensington, em Londres, devido ao revestimento de fachada altamente inflamável, feito de chapas de alumínio e polietileno.

Em uma tragédia que chocou o país, 71 moradores perderam a vida e um bebê nasceu morto. Dezenas de famílias ficaram desabrigadas, deslocadas por anos para acomodações temporárias.

Cinco anos depois, três delas permanecem sem moradia permanente e nenhuma acusação criminal foi apresentada, porque a polícia decidiu aguardar o fim de uma investigação que pode durar até 2023.

À tarde, a associação de vítimas organiza uma missa ecumênica, que contará com a presença do príncipe William, 39, segundo na linha de sucessão ao trono britânico, e sua esposa Kate, 40.

O duque e a duquesa de Cambridge também participarão de uma oferenda de flores em frente à torre, diante da qual se encontrarão com sobreviventes e familiares.

Entre eles estará o português Tiago Alves, 25 anos, que morava com os pais e a irmã no 13º andar e assistia à televisão quando o fogo começou de madrugada.

"Meu pai abriu a porta e gritou que tínhamos que nos vestir e sair", embora a ordem oficial fosse ficar dentro e esperar os socorristas, lembrou.

"Descemos correndo, mas meu pai não parava de bater na porta de todos os moradores do 13º andar", contou.

Alves já notava a falta de manutenção de um prédio administrado pelo governo local do distrito londrino de Kensington e Chelsea e o contraste com as luxuosas casas próprias da área.

"Você atravessava a rua e via a diferença entre a moradia social e uma casa de 5 milhões de libras. O governo tinha um problema de atitude conosco. Para eles, éramos apenas pessoas vivendo em uma habitação social", disse ele à Big Issue.

Agora, Alves e sua família militam "para que algo assim não volte a acontecer".

"A única maneira de obter justiça é continuar nossa luta, continuar nossa campanha por mudança", declarou à agência de notícias britânica PA.

As vítimas "enfrentaram a negação constante dos responsáveis de que Grenfell estava coberto por um revestimento tão inflamável quanto gasolina", denuncia Matt Wrack, secretário-geral do sindicato dos bombeiros.

Os socorristas foram criticados por seu atraso e sua resposta ao incêndio, mas muitos deles, que dizem ainda estar traumatizados com o que aconteceu, devem participar de uma marcha silenciosa organizada após a missa ecumênica.

"Eles suportaram a espera por acusações criminais que continuam até hoje. Eles inspiram a todos com sua luta implacável por justiça e continuamos solidários com eles a cada passo do caminho", acrescentou Wrack.

Em um país onde todas as prefeituras locais devem fornecer um certo número de moradias sociais, cerca de 640.000 pessoas vivem em prédios que mantêm o mesmo revestimento altamente inflamável em suas fachadas, segundo dados do jornal The Time.

Incapaz de arcar com o alto custo de remover o revestimento, os moradores não apenas se encontram em uma situação perigosa, mas viram suas parcelas de seguro aumentarem e, em alguns casos, precisam pagar por um serviço caro de resposta contra incêndios 24 horas por dia.

Além disso, a maioria não pode vender ou alugar seus apartamentos - que os ocupantes podem comprar - porque os bancos não estão dispostos a conceder hipotecas para esses imóveis.

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