Países ocidentais dispostos a endurecer o tom contra o Irã por programa nuclear

O Conselho de Ministros da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) iniciou nesta segunda-feira (6) uma reunião em que deve examinar um projeto de resolução ocidental para advertir o Irã, em meio às negociações estagnadas sobre o programa nuclear de Teerã.

O texto elaborado por Estados Unidos, Reino Unido, França e Alemanha urge o Irã a "cooperar plenamente" com a AIEA e, caso aprovado pelos 35 membros do conselho que permanecerão reunidos na Áustria até sexta-feira, seria a primeira resolução crítica ao país desde junho de 2020.

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A reunião começou nesta segunda-feira com a presença do diretor geral da agência, Rafael Grossi.

A impaciência aumenta entre as potências ocidentais diante da República Islâmica, que se afasta cada vez mais de seus compromissos nucleares e restringe sua colaboração com a agência da ONU responsável por atestar o caráter pacífico de seu programa.

Em um relatório recente, a AIEA denunciou a ausência de "respostas satisfatórias e tecnicamente críveis" por parte do Irã sobre os restos de urânio enriquecido encontrados em três instalações não declaradas do país.

Mesmo que estas atividades sejam anteriores ao ano 2003, "nada justifica a incapacidade sistemática do Irã de cooperar de maneira séria na investigação da agência", declarou à AFP Kelsey Davenport, especialista da Arms Control Association.

"Uma resolução crítica é necessária para enviar uma mensagem, para destacar que esta obstrução terá consequências", acrescentou.

O Irã prometeu uma resposta "imediata" a qualquer ação "política" dos países ocidentais. E advertiu contra uma iniciativa "não construtiva" no momento em que as negociações para tentar ressuscitar o acordo de 2015 sobre seu programa nuclear estão paralisadas.

As discussões começaram em abril de 2021 com o objetivo de reintroduzir o governo dos Estados Unidos no pacto assinado entre Teerã e as principais potências mundiais para evitar o desenvolvimento de uma bomba atômica no Irã, uma intenção que este país sempre negou.

Durante a presidência de Donald Trump, Washington se retirou do acordo, que considerava insuficiente, e restabeleceu as sanções econômicas contra a República Islâmica.

A aprovação da resolução do conselho da AIEA poderia "interromper o processo de negociações", advertiram China e Rússia, que também assinaram o acordo inicial com Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha e França.

No Twitter, o embaixador russo Mikhail Ulyanov pediu a intensificação dos esforços diplomáticos e não um desafio ao Irã com o texto.

Apesar do ambiente tenso, Clément Therme, pesquisador associado do Instituto Internacional de Estudos Iranianos (Rasanah) não prevê uma ruptura das discussões neste momento.

"No contexto da guerra na Ucrânia, os europeus não estão dispostos a abrir uma nova crise com o Irã", opina. "O documento está formulado de maneira a deixar a porta aberta".

As negociações esbarram na recusa do presidente americano a ceder a uma demanda crucial para Teerã: retirar o exército ideológico iraniano da Guarda Revolucionária da lista de "organizações terroristas" de Washington.

A Casa Branca quer evitar críticas da oposição republicana antes das eleições de meio de mandato programadas para novembro.

Se Biden teme "um custo político elevado, isto é pequeno em comparação à ameaça de um Irã com a arma nuclear", insiste Kelsey Davenport, que pede ao governo americano que encontre "soluções criativas".

De acordo com as estimativas da AIEA, a República Islâmica dispõe atualmente de 43,1 kg de urânio enriquecido a 60%.

"Uma quantidade que, se enriquecida 90%, é suficiente para construir uma bomba em 10 dias no pior dos cenários", afirma a especialista.

Davenport disse que os últimos passos do armamento podem levar ainda um ou dois anos de desenvolvimento, mas podem ser "difíceis de detectar", o que significa que é "urgente reimpor limites" e retomar o regime de inspeções da AIEA.

anb/ybl/dbh/mar/es/fp

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Irã diplomacia energia AIEA Joe Biden Donald Trump

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