Área desmilitarizada da Finlândia retoma debate sobre sua capacidade de defesa contra a Rússia
A guerra na Ucrânia faz com que os finlandeses se preocupem com o arquipélago de Aland, no Báltico, onde a presença militar está proibida em virtude de um tratado assinado com a Rússia em 1856 e que poderia ser um ponto fraco em sua defesa.
O pedido de adesão do país nórdico à Otan, motivado pela invasão da Ucrânia, trouxe de volta à mesa o debate sobre o status militar deste arquipélago autônomo de 30.000 habitantes, situado entre a Suécia e a Finlândia.
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"Sempre pensamos: quem vai querer nos atacar se não temos nada que mereça ser capturado?", disse à AFP Ulf Grüssner, de 81 anos.
"Mas isso mudou com a guerra de Putin na Ucrânia", afirma este aposentado que vive em Mariehamn, a capital do arquipélago que celebrou esta semana um século de autonomia.
Segundo uma pesquisa publicada no início de junho, 58% dos finlandeses desejam uma presença militar nas ilhas Aland, para dissuadir a Rússia de qualquer ação violenta.
Em mais um sinal da preocupação das autoridades finlandesas por sua segurança, nesta sexta-feira o ministério do Interior anunciou que construirá muros para reforçar algumas partes da fronteira de 1.300 quilômetros que compartilha com a Rússia.
No que diz respeito ao arquipélago de Aland, no seu pedido de adesão à Otan entregue no final de maio, Helsinque afirma que pretende preservar a desmilitarização e respeitar o acordo em vigor com a Rússia. Mas é uma posição considerada ingênua pelos especialistas.
Este arquipélago "é o calcanhar de Aquiles da defesa finlandesa", comentou à AFP Alpo Rusi, ex-assessor da Presidência do país.
"A preocupação é se a Finlândia reagirá com rapidez suficiente, militarmente falando, no caso de uma invasão", considera este diplomata que trabalhou para o ex-presidente Martti Ahtisaari, vencedor do Prêmio Nobel da Paz.
Nas duas guerras mundiais, os exércitos disputaram o controle das ilhas Aland.
"Por que acreditar que as tropas não se precipitarão para controlar Aland o mais rápido possível?", questiona Charly Salonius-Pasternak, pesquisador no Instituto Finlandês de Relações Internacionais.
No entanto, o governo local se opõe a modificar seu status.
"Por que mudar? Acho que é um fator de estabilidade no mar Báltico que estejamos desmilitarizados", opina Veronica Thörnroos, presidente do Executivo local.
Segundo ela, o exército finlandês poderia intervir "muito rapidamente" em caso de ataque contra o arquipélago.
Ocupado por Moscou antigamente, o arquipélago se desmilitarizou com a retirada da Rússia czarista, em virtude de um tratado assinado em 1856 após sua derrota na guerra da Crimeia.
Grüssner teme que a antiga casa da família e a desmilitarização sirvam de "pretexto" para o aumento da presença russa no arquipélago.
"É improvável, mas por outro lado não é impossível", afirma.