Twitter de Musk terá mais liberdade, ou mais mensagens de ódio?

A compra do Twitter pelo bilionário Elon Musk tem criado um temor, baseado em sua concepção de liberdade de expressão, de que a rede social se transforme em uma enxurrada de mensagens de ódio. Agora, os especialistas esperam ver como será nova política de moderação de conteúdos.

Após a compra da plataforma por parte do proprietário da Tesla e da SpaceX, muitas vozes manifestaram preocupação com um eventual retrocesso sobre o delicado tema da sua regulação.

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"Senhor Musk: a liberdade de expressão é formidável, os discurso de ódio são inaceitáveis", resumiu o presidente da organização americana para a defesa dos direitos civis NAACP, Derrick Johnson.

"A última (coisa) de que precisamos é um Twitter que feche os olhos, de forma deliberada, para os discursos violentos contra os usuários (...) em particular contra as mulheres, as pessoas não binárias e outras", disse o diretor de tecnologia e direitos humanos da Anistia Internacional, Michael Kleinman.

Enfrentando há dois anos notícias falsas e desinformação sobre a covid-19, a Organização Mundial da Saúde (OMS) pediu a Elon Musk que assuma sua "enorme responsabilidade" sobre o tema, enquanto a Federação Internacional dos Jornalistas (FIJ) vê nesta aquisição uma "ameaça ao pluralismo da liberdade de imprensa" e um "terreno favorável para a desinformação".

"A reação extrema dos anticorpos dos que temem a liberdade de expressão fala por si mesma", tuitou Musk, na terça-feira (26), em sua nova rede social adquirida por US$ 44 bilhões.

Os conservadores americanos e seguidores de extrema direita do presidente Jair Bolsonaro aplaudiram a compra, considerando-a o fim de uma forma de "censura".

Resta saber o que o homem mais rico do mundo vai fazer com uma plataforma que conta com 217 milhões de usuários ativos. Deste total, 80% estão fora dos Estados Unidos.

O Twitter diz lutar há anos para suprimir, ou moderar, os discursos de ódio, ou até encerrar contas de personalidades, como fez com o ex-presidente republicano Donald Trump, em janeiro de 2021. A exclusão se deu após a invasão ao Capitólio e pelas acusações infundadas de que Joe Biden roubou-lhe a vitória na eleição presidencial de 2020.

"É muito mais fácil criticar a plataforma, de fora, dizendo que ela não apoia a liberdade de expressão, do que fazê-la funcionar e pôr em prática uma política de moderação dos conteúdos", alerta Joshua Tucker, codiretor do Centro para as Redes Sociais e a Política (CSMaP, na sigla em inglês) da Universidade de Nova York.

Segundo Tucker, Musk poderá enviar uma mensagem, se abrir o Twitter a "autoridades políticas conservadores", como Trump, oferta já rejeitada por ele.

"Mas há uma verdadeira diferença entre este tipo de grande gesto e a gestão diária da plataforma, onde os mecanismos de moderação tentam lutar contra mensagens violentas, ou ameaças de violência", disse o especialista à AFP.

Na terça-feira, o comissário europeu do Mercado Interno, Thierry Breton, advertiu o Twitter que "terá de cumprir totalmente as regras europeias", em particular, a Digital Services Act (DSA, Lei de Serviços Digitais), que pretende obrigar as grandes plataformas a lutarem contra os conteúdos ilegais.

Uma maior abertura certamente seduzirá aqueles que consideram a rede do passarinho azul uma prisão para os discursos que não cumprem o que é considerado "politicamente correto".

Mas, "caso se torne um espaço de conteúdos de ódio e expulse os jornalistas, o Twitter perderá seu valor", considerou Karen North, professora de comunicação da Escola de Annenberg, da Universidade da Carolina do Sul.

"Uma boa forma de matar o Twitter é retirá-lo da bolsa e reduzir, de maneira inconsequente, a moderação dos conteúdos", afirmou Paul Barrett, diretor adjunto do Centro Stern para Direito Humanos da Universidade de Nova York.

Segundo ele, o resultado seria "um tsunami de spams, pornografia, discursos de ódio, do QAnon (grupo de extrema direita americana), estupidez sobre as 'eleições roubadas', etc... Adeus aos usuários comuns, adeus aos anunciantes", pontuou.

Elon Musk considera o contrário: o Twitter está perdendo terreno e precisa se reinventar.

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