Pequeno povoado russo enterra jovem morto na Ucrânia

Nikita Avrov tinha 20 anos e cara de menino quando foi morto na Ucrânia. No enterro deste piloto de tanque, nesta segunda-feira (11), não houve dúvida: ele morreu por uma boa causa: sua pátria, a Rússia.

Seu caixão, cercado de flores, foi exposto brevemente da casa da família de dois andares, no povoado de Luga, a 150 km de São Petersburgo, sob a bandeira de sua divisão de infantaria mecanizada.

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Cerca de 60 pessoas foram homenageá-lo e depositar flores. Depois, cinco soldados acompanhados de seu oficial carregaram o caixão deste jovem, que viveu menos tempo do que Vladimir Putin tem no poder.

Nesta pequena cidade de 30.000 habitantes não há sinal de oposição ao conflito iniciado em 24 de fevereiro e que confronta as tropas russas à feroz resistência dos soldados ucranianos, chamados por Moscou de "neonazistas".

Ao invés disso, carros exibem a letra "Z", exposta em muitos veículos militares russos e que se tornou um símbolo do apoio à ofensiva.

Segundo as autoridades locais, Avrov era responsável por um tanque de assalto. Ele morreu no fim de março em Izium, uma pequena cidade do leste da Ucrânia invadida pela Rússia, no meio do caminho entre Kharkhiv e Sloviansk.

Na homenagem, funcionários públicos, militares e líderes religiosos ressaltam em suas palavras o sacrifício patriótico do jovem Avrov, condecorado em caráter póstumo com a medalha por bravura.

"Executando sua missão especial, este rapaz, Nikita Avrov, nosso vizinho, morreu lutando contra os neonazistas e os nacionalistas na Ucrânia. Morreu por nós!", diz, com orgulho, um funcionário municipal, Alexei Golubev.

"Enquanto a Rússia mostrar fraqueza, os seres impuros tentam nos colocar de joelhos (...) Mas não vão conseguir!", afirma, por sua vez, o coronel Serguei Nikitin, seguindo o discurso oficial que considera que as potências ocidentais se aproveitaram da queda da União Soviética para debilitar o país, sobretudo através da Ucrânia.

E antes, durante a cerimônia na igreja, o sacerdote ortodoxo insistiu na mesma mensagem.

"Nikita não teve medo das forças do mal, nos defendeu para que nossos céus se mantenham em paz", declarou o padre Nikolai diante de mais de 150 pessoas.

Dois ex-colegas de estudos de Avrov, Serguei e Anton (que não informaram seus sobrenomes) seguiram o funeral.

"Nikita era um militar, morreu em combate. É um ato heroico", comenta Serguei, com admiração.

"Devemos defender nosso país, mesmo que morram os melhores", acrescenta Anton.

Também foi organizada uma manifestação em sua homenagem com uma chama eterna, junto do monumento aos soldados mortos durante a invasão soviética do Afeganistão e a Segunda Guerra Mundial.

Não se sabe o número exato dos militares russos mortos na Ucrânia, mas o porta-voz do Kremlin admitiu na semana passada "perdas importantes". O último balanço, de 25 de março, as estimou em 1.351 mortos.

"Dói muito e me dá medo quando morrem tantos jovens", diz à AFP Anna Koroleva, uma moradora de 59 anos com dois cravos na mão.

Svetlana, de 48 anos, tampouco quer revelar seu sobrenome. "O que a mãe deve sentir é horrível. Que desgraça, que horror para as mães que perdem seus filhos. Nada pode justificar algo assim", conta em tom de incompreensão com o conflito.

Hoje em dia, na Rússia, é proibido criticar a operação do Kremlin sob risco de ser acusado de denegrir o exército, um crime que pode ser punido com a prisão.

bur/mm/grp/mis/mvv

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