Países ocidentais se reúnem para examinar situação na Ucrânia após um mês de guerra

Os chefes de Estado e de Governo ocidentais iniciaram nesta quinta-feira (24) uma maratona de reuniões em Bruxelas para coordenar suas ações contra a Rússia, cujas forças parecem recuar exatamente um mês após o início da invasão da Ucrânia.

A capital belga recebe encontros de cúpula da Otan, do G7 e da União Europeia, que acontecerão de maneira sucessiva ao longo do dia. Todas as reuniões ouvirão discursos do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky por videoconferência.

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O presidente ucraniano pediu "ajuda militar sem restrições", para que seu país consiga enfrentar o exército russo, que atualmente Kiev combate "em condições desiguais".

"Para salvar a população e nossas cidades, a Ucrânia precisa de ajuda militar sem restrições. Assim como a Rússia utiliza, sem restrições, todo seu arsenal contra nós", declarou Zelensky em uma mensagem de vídeo aos chefes de Estado e de Governo da Otan.

"O exército ucraniano resiste há um mês em condições desiguais! Repito a mesma coisa há um mês", disse.

O presidente reiterou os pedidos de caças e tanques, especialmente para "desbloquear" Mariupol, Berdyansk ou Melitopol, cidades do sul da Ucrânia sitiadas ou ocupadas pelo exército russo.

"Vocês têm milhares de aviões de combate. Mas ainda não nos entregaram nenhum", disse.

"Eles têm pelo menos 20.000 tanques... A Ucrânia pediu 1% de todos os seus tanques! Entreguem ou vendam! Mas continuamos sem uma resposta clara", completou.

Zelensky também acusou a Rússia de utilizar bombas de fósforo nos ataques contra o país.

"Esta manhã (...) duas bombas de fósforo foram utilizadas. Novamente morreram adultos e crianças", afirmou Zelensky, em referência às acusações do governo da região de Lugansk (Leste), após bombardeios na cidade de Rubizhne, que deixaram pelo menos quatro mortos.

Durante a madrugada, o chefe de Estado ucraniano divulgou uma mensagem de vídeo na qual, em tom desafiador, pediu ao mundo que proteste contra uma invasão que provocou milhares de mortes e deixou mais de 10 milhões de deslocados.

"O mundo deve parar a guerra", afirmou Zelensky em inglês, em uma mensagem gravada de madrugada nas ruas vazias de Kiev.

"Venham de seus escritórios, suas casas, suas escolas e universidades, venham em nome da paz, venham com símbolos ucranianos para apoiar a Ucrânia, apoiar a liberdade, apoiar a vida", acrescentou.

E em uma mensagem aos líderes do G7, da Otan e da UE, ele pediu o aumento do envio de armas que incluam aviões de combate modernos, sistemas de defesa antimísseis, tanques, veículos armados.

"A liberdade deve seguir armada", afirmou Zelensky, que pediu "passos significativos da Otan". "Nas três reuniões veremos: quem é amigo amigo, quem é sócio e quem nos traiu por dinheiro", acrescentou.

A Casa Branca afirmou que as reuniões desta quinta-feira pretendem consolidar o arsenal de sanções já decretadas, evitar as tentativas de Moscou de driblar as punições e reforçar a presença da Otan no leste da Europa.

A aliança militar enviará quatro novos grupos de batalha para Bulgária, Hungria, Romênia e Eslováquia para reforçar suas defesas diante de uma eventual expansão da campanha militar russa no flanco leste, anunciou o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg.

"Putin cometeu um grave erro, o de ter iniciado uma guerra contra uma nação independente e soberana. Subestimou a força e coragem dos ucranianos", disse Stoltenberg.

Em uma entrevista ao jornal espanhol El País, o ministro ucraniano das Relações Exteriores, Dmytro Kuleba, expressou inquietação com uma "certa desaceleração no processo de tomada de decisão da UE nos últimos 10 dias".

Apesar das reclamações da Ucrânia, vários países adotaram novas medidas, como Reino Unido, Suécia e Alemanha, que anunciaram mais envios de mísseis antitanques para as forças de Kiev.

Também se acumulam denúncias de violações russas. O secretário de Estado americano, Antony Blinken, acusou Moscou de "crimes de guerra".

"Recebems vários relatos confiáveis de ataques indiscriminados que apontaram deliberadamente contra civis, assim como outras atrocidades", afirmou.

Tanto Kiev como os serviços de inteligência ocidentais relataram um retrocesso das tropas russas, especialmente nos arredores da capital, mas também um aumento da intensidade dos ataques.

No dia em que o conflito completa um mês, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) informou que mais da metade das crianças na Ucrânia foram obrigadas a abandonar suas casas.

"Um mês de guerra na Ucrânia provocou o deslocamento de 4,3 milhões de crianças, mais da metade da população infantil do país, calculada em 7,5 milhões".

Do total de crianças deslocadas, 1,8 milhão de menores atravessaram a fronteira para buscar refúgio nos países vizinhos e 2,5 milhões permanecem dentro da Ucrânia.

Autoridades da Otan calculam que as forças ucranianas, armadas com equipamentos antiaéreos e antitanques ocidentais, mataram até 15.000 soldados russos e feriram entre 30.000 e 40.000.

O governo russo afirma oficialmente que 500 soldados morreram e adotou leis draconianas de censura para impedir a divulgação de notícias por meios independentes sobre a invasão, que o Kremlin denomina de "operação militar especial".

O presidente ucraniano afirmou que quase 100.000 pessoas permanecem bloqueadas na cidade de Mariupol, um porto estratégico cercado no Mar de Azov (sudeste), "sem comida, sem água, sem medicamentos e sob bombardeios constantes".

O conselho municipal da cidade afirmou que 15.000 moradores foram deportados para a Rússia, alegação que não foi possível confirmar até o momento.

Sem conseguir controlar as cidades, as tropas russas as bombardeiam de maneira intensa. De acordo com o Estado-Maior ucraniano, os principais alvos são "infraestruturas militares e civis nas regiões de Kiev, Chernihiv e Kharkiv".

A Marinha ucraniana afirmou nesta quinta-feira que destruiu um navio de transporte militar russo ancorado no porto de Berdiansk, uma cidade próxima da cercada Mariupol no Mar de Azov (sudeste).

A Rússia "está enfrentando uma resistência maior que esperava na Ucrânia", resumiu Stoltenberg.

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