Quão perigosos são os ataques a usinas nucleares ucranianas?

Autor DW Tipo Notícia

Danos a usina de Zaporíjia podem resultar em Bombardeios contra Chernobyl e Zaporíjia provocam pânico, não apenas na Ucrânia. Especialista defensora do uso pacífico da energia nuclear pondera os riscos e critica comunicação de crise da liderança política em Kiev.A usina nuclear ucraniana de Chernobyl precisa de eletricidade, os bastões de combustível radioativo remanescentes ainda têm que ser refrigerados, 36 anos após o acidente. E isso é um problema no contexto da guerra na Ucrânia. Mal se acabara de restabelecer o abastecimento às instalações bombardeadas na segunda-feira (14/03), a operadora estatal Ukrenergo anunciou que a rede recém-consertada fora novamente danificada pelas forças russas. Em seu canal no serviço de mensagens instantâneas Telegram, a operadora Energoatomt afirmou que sua equipe não podia continar trabalhando, por estar "física e psicologicamente exausta". Desde 24 de fevereiro, o exército de Moscou já atacou três usinas nucleares ucranianas, inclusive a maior ainda em funcionamento na Europa, Zaporíjia, em 4 de março. Além disso, segundo a Energoatomt, os invasores teriam posicionado munição próximo ao primeiro reator e a detonado. A DW não pôde verificar essas afirmações. Em defesa da energia nuclear pacífica Os ataques às usinas têm como finalidade alastrar temores de uma catástrofe nuclear, explicou à DW Anna Veronika Wendland, coordenadora de pesquisa do Instituto Herder de Pesquisa Histórica sobre a Europa Central-Oriental, que defende o uso pacífico da energia atômica. Além do jogo do medo, "assumir o controle de objetos de infraestrutura é o segundo fator importante para o lado russo", prossegue a especialista em história da tecnologia e no Leste Europeu. Em sua opinião, o medo internacional que tais ofensivas geram é em parte exagerado ou contraproducente. Ela acha que o público deveria ser mais bem informado sobre o possível dano e os riscos em relação a Chernobyl, por exemplo. O último reator remanescente no local do desastre foi desativado mais de 20 anos atrás, e "os cerca de 1.900 bastões de combustível que ainda precisam de refrigeração estão fora do reator há quase 21 anos". Seu calor de desintegração é, proporcionalmente, muito baixo, "de modo que a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e outros peritos concordam que eles não representam perigo agudo", diz Wendland. Além disso, a usina tem um gerador de emergência funcional, movido a diesel, capaz de manter operacionais os sistemas de refrigeração por 48 horas. Se essa fonte falhar, contudo, ainda haverá até 14 dias para restaurar o abastecimento. "Situação inaceitável" De acordo com um teste de estresse da União Europeia, o pior cenário será se a água da piscina em que estão os bastões irradiados chegar a 70ºC. Por isso a AIEA não considera a situação em Chernobyl agudamente crítica. Apesar de tudo isso, Anna Veronika Wendland enfatiza que "ocupar uma instalação nuclear, cortar suas comunicações com o mundo externo e com sua instância supervisora, e tomar os funcionários como refém é uma situação irregular e inaceitável". Por outro lado, ressalva, o perigo é muito maior em Zaporíjia, que está conectada a duas redes de alta voltagem. Lá, o combustível dos sistemas elétricos de emergência duraria de sete a nove dias. Caso estes falhem, o resultado poderia rapidamente ser um cenário semelhante ao da usina de Fukushima, no Japão, em 2011. Para sua tese de doutorado, Wendland estudou uma usina análoga à de Zaporíjia em Rivne, no noroeste da Ucrânia. No caso de um desastre, os bastões de combustível se aqueceriam a "até 70, 80ºC numa questão de 11 a 15 horas". Ela enfatiza que a situação seria muito mais grave do que a de Chernobyl, mas ainda não se chegou a esse ponto. Crítica à comunicação de crise de Kiev A historiadora do Instituto Herder prefere descrever a situação como parte de uma crise de comunicação seguindo-se ao ataque russo contra Zaporíjia, e critica a liderança política da Ucrânia: "Durante a noite, houve uma notícia falsa atrás da outra: o ministro do Exterior, Dmytro Kuleba, e o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, se saíram com palavras muito grandes." "Falou-se de um mega-acidente nuclear, na escala de seis Chernobyls. Eu compreendo que o governo em Kiev se encontra sob enorme pressão, está gritando por socorro. Mas tomadores de decisões e líderes como esses têm que saber que não é assim que se pratica comunicação de crise." Wendland diz estar segura que resultado foi que "o povo da Alemanha começou a procurar comprimidos de iodo nas farmácias". "No fim das contas", afirma a partidária da energia nuclear, "isso só vai resultar num efeito de dessolidarização, do tipo: 'Cara Ucrânia, por favor, pare de oferecer resistência, para a gente não ter que sofrer nenhuma dor.'" Autor: Mikhail Bushuev

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