Opositor russo Navalny declarado culpado por fraude e desacato

Uma juíza russa declarou nesta terça-feira (22) Alexei Navalny culpado por "fraude" e "desacato", o que abre o caminho para ampliar a pena de prisão que o principal opositor do presidente Vladimir Putin já está cumprindo.

O Ministério Público havia solicitado na semana passada que a pena de dois anos e meio de detenção, que Navalny cumpre há pouco mais de um ano, fosse aumentada para 13 anos de prisão.

Seja assinante O POVO+

Tenha acesso a todos os conteúdos exclusivos, colunistas, acessos ilimitados e descontos em lojas, farmácias e muito mais.

Assine

O ativista anticorrupção e ex-advogado, de 45 anos, é julgado desde fevereiro em um tribunal improvisado dentro da colônia penitenciária em que cumpre a pena, 100 km ao leste de Moscou.

Nesta terça, ele compareceu à audiência com o uniforme de presidiário, com o rosto abatido, e ouviu o veredicto com as mãos nos bolsos, entre sorrisos e conversas com os advogados.

Como já era esperado, a juíza Margarita Kotova o declarou culpado desde o início da leitura da sentença, que pode durar horas até o anúncio da pena.

"Navalny cometeu uma fraude, o roubo da propriedade de outras pessoas por parte de um grupo organizado", disse Kotova.

Ela afirmou ainda que o réu "demonstrou falta de respeito no tribunal, insultando um juiz".

Após o veredicto, Navalny pode ser transferido, a pedido do MP, para uma prisão de "regime estrito", mais afastada de Moscou e onde as condições são mais duras.

Mais de 100 jornalistas acompanham a transmissão da audiência na sala de imprensa instalada na colônia penitenciária.

O opositor estava acompanhado apenas por dois advogados, em um momento de grande intimidação às vozes críticas do Kremlin no contexto da invasão russa da Ucrânia.

No caso julgado nesta terça-feira, os investigadores acusam Navalny de desviar milhões de rublos em doações para suas organizações anticorrupção e de "desacato" durante um processo anterior.

Navalny considera as acusações fictícias e que foram ordenadas pelo Kremlin para mantê-lo na prisão o maior tempo possível.

O ativista, conhecido pelas investigações sobre a corrupção e o estilo de vida das elites russas, é alvo da repressão das autoridades há mais de dois anos.

Em agosto de 2020, ele ficou gravemente ferido na Sibéria, vítima de um envenenamento com um agente neurotóxico ordenado, segundo ele, pelo presidente russo.

O Kremlin nega, mas as autoridades russas nunca investigaram a suposta tentativa de assassinato.

Em seu retorno à Rússia, em janeiro de 2021, após cinco meses de convalescença, ele foi preso e condenado a dois anos e meio de prisão por um caso de "fraude" de 2014 relacionado à empresa francesa Yves Rocher.

Em junho de 2021, suas organizações, que atuavam em toda Rússia, foram classificadas como "extremistas" e proibidas, o que levou muitos ativistas a partir para o exílio para evitar processos.

Outros foram detidos e enfrentam duras penas de prisão.

Mesmo da colônia penitenciária, Navalny continua divulgando mensagens contra o governo Putin.

Desde o início da ofensiva na Ucrânia, ele se pronunciou contra os combates e convocou manifestações contra o conflito, apesar dos riscos para os ativistas.

Para reprimir qualquer crítica ao exército russo, as autoridades reforçaram ainda mais o arsenal jurídico, com fortes penas de prisão.

Apesar das medidas, mais de 15.000 pessoas foram detidas de maneira temporária na Rússia em quase um mês por protestar contra a ofensiva, segundo a ONG OVD-Info.

De modo paralelo, o governo reforçou o controle sobre as informações a respeito do conflito, bloqueando o acesso a dezenas de meios de comunicação locais e estrangeiros.

Na segunda-feira, a justiça russa proibiu o Instagram e o Facebook no país, acusados, como Navalny, de "extremismo". Twitter e TikTok já estavam bloqueados na Rússia.

bur/pc/mis/fp

Dúvidas, Críticas e Sugestões? Fale com a gente

Tags

Rússia justiça oposição política Alexei Navalny Vladimir Putin

Os cookies nos ajudam a administrar este site. Ao usar nosso site, você concorda com nosso uso de cookies. Política de privacidade

Aceitar