Ucrânia, sob bombas, exorta China a condenar 'barbárie russa'

A Ucrânia pediu neste sábado (19) à China, aliada estratégica de Moscou, que "condene a barbárie" da Rússia, que segue bombardeando cidades ucranianas e lançando mão de novas armas, como um míssil hipersônico.

Os ataques aéreos russos se sucederam em um ritmo vertiginoso neste sábado em Mikolaiv, sul do país, onde um bombardeio na sexta-feira matou dezenas de soldados em um quartel, informou o governador regional Vitali Klim.

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O governador até agora não deu informações sobre danos nem possíveis vítimas das últimas incursões. Quanto ao bombardeio do quartel, as estimativas das testemunhas têm grandes variações.

"Nada menos que 200 soldados dormiam no quartel", contou um militar de 22 anos, que vinha de outro posto próximo. Já outro soldado acreditava que o saldo do ataque poderia ser de 100 mortos.

Os russos "dispararam mísseis covardemente contra soldados que dormiam. As operações de resgate continuam", disse o governador Klim.

- Mísseis -
No oeste, o Ministério da Defesa russo indicou na sexta-feira que havia usado mísseis hipersônicos "Kinjal" pela primeira vez, para destruir um depósito de armas subterrâneo. O presidente da Rússia, Vladimir Putin, afirmou que tal míssil fazia parte de um arsenal "invencível".

"A Ucrânia infelizmente se tornou um campo de testes para todo o arsenal de mísseis russos", declarou o porta-voz da aeronáutica ucraniana, Iuri Ignat, ao site Ukrainska Pravda.

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, porém, acredita que a aposta puramente militar não resolverá o conflito e pode até ser uma faca de dois gumes para Putin, acusado por ONGs e líderes ocidentais de cometer "crimes de guerra".

De acordo com Zelensky, as negociações são "a única chance que a Rússia tem de minimizar os danos causados por seus próprios erros".

- Apelo à China -
Seu assessor Mijailo Podoliak exortou a China a se projetar no futuro, condenando a "barbárie russa".

"A China pode ser um elemento importante do sistema de segurança mundial se tomar a boa decisão de apoiar a coalizão de países civilizados e condenar a barbárie russa", tuitou Podoliak, que faz parte da equipe ucraniana de negociadores.

Desde o início da invasão russa da Ucrânia, em 24 de fevereiro, Kiev e Moscou realizaram várias rodadas de negociações. A quarta e última começou na segunda-feira.

O chefe da delegação russa falou, na noite de sexta-feira, sobre uma "conciliação" de posições sobre a questão de um status neutro para a Ucrânia - semelhante ao da Suécia e da Áustria - e avanços na desmilitarização do país. No entanto, ele também disse que há "nuances" para discutir sobre as "garantias de segurança" exigidas pela Ucrânia.

Para alguns líderes, o fim do conflito não normalizará a situação internacional da Rússia, alvo de duras sanções ocidentais pela “agressão” contra a Ucrânia, uma ex-república soviética.

O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, disse que seria um "erro" retornar às relações normais com Moscou, mesmo que a invasão cesse.

- Corpos entre os escombros -
No terreno, o ministério da Defesa russo afirmou que destruiu centros de rádio e inteligência perto de Odessa, em Velikodolinske e Veliki Dalnik.

A Ucrânia, por sua vez, admitiu neste sábado que perdeu "temporariamente" o acesso ao Mar de Azov, apesar de a Rússia controlar de fato toda a costa desde o início de março e o cerco da cidade portuária estratégica de Mariupol.

Segundo o assessor do ministério do Interior ucraniano, Vadim Denisenko, citado pela agência Interfax-Ucrânia, a situação é "catastrófica" em Mariupol. "A luta acontece pela Azovstal", uma grande siderúrgica nos arredores da cidade, afirmou.

O Exército russo informou na sexta-feira que havia conseguido entrar e lutar no centro da cidade ao lado de milícias da "república" separatista pró-Rússia de Donetsk, no leste da Ucrânia.

As autoridades ucranianas acusaram a Força Aérea russa de bombardear "deliberadamente" o teatro de Mariupol na quarta-feira, o que a Rússia negou. Em um abrigo antiaéreo sob este edifício havia "mais de mil" pessoas, principalmente "mulheres, crianças e idosos", segundo a prefeitura deste porto do Mar de Azov.

Zelensky disse que mais de 130 sobreviventes foram retirados dos escombros e que "as operações de resgate continuam".

Um grupo de 19 crianças e adolescentes de 4 a 17 anos, a maioria órfãos, está "em grande perigo" depois de ser bloqueado em uma clínica de Mariupol especializada em tratamentos pulmonares, relataram parentes e testemunhas à AFP neste sábado.

Segundo essas fontes, os responsáveis pelas crianças não conseguiram movê-las por causa do bombardeio. Os menores vivem em câmaras frias e muitos não podem ser limpos há duas semanas.

Zelensky apontou que, graças aos corredores humanitários estabelecidos no país, mais de 180.000 ucranianos conseguiram escapar dos combates, incluindo mais de 9.000 pessoas de Mariupol.

Desde 24 de fevereiro, mais de 3,2 milhões de ucranianos partiram para o exílio, quase dois terços deles para a Polônia, às vezes apenas uma etapa antes de continuar seu êxodo.

Segundo contagem de 18 de março do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), ao menos 816 civis morreram no país e mais de 1.333 ficaram feridos. O organismos acredita, porém, que o número real seja superior.

As necessidades humanitárias são "cada vez mais urgentes", com mais de 200.000 pessoas sem água na região de Donetsk e "grave escassez" de alimentos, água e remédios, disse o porta-voz do ACNUR, Matthew Saltmarsh, na sexta-feira.

A Rússia busca fortalecer o cerco sobre a capital Kiev, que desde o início da ofensiva já foi abandonada por pelo menos metade de seus 3,5 milhões de habitantes.

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