Em meio a novas negociações, Zelenski sinaliza que pode ficar fora da Otan

O presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, disse nesta terça-feira, 15, entender que seu país não tem portas abertas para adesão à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e pede garantias de segurança. A fala ocorre em meio à quarta rodada de negociações entre Rússia e Ucrânia sobre um possível cessar-fogo.

"Se não pudermos entrar por portas abertas, devemos cooperar com as associações com as quais pudermos, que nos ajudarão, nos protegerão e terão garantias separadas", disse ele em um discurso em reunião virtual com o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, e também com os líderes da Suécia, Finlândia e Islândia.

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"A Ucrânia não é um membro da Otan. Entendemos isso. Durante anos, ouvimos que as portas estavam abertas, mas também ouvimos que não podíamos aderir. Essa é a verdade e precisa ser reconhecida", afirmou o presidente.

A garantia de que a Ucrânia não fará parte da Otan - bem como da União Europeia - é uma das condições impostas pela Rússia para o fim da guerra na Ucrânia que completa 20 dias nesta terça.

Pressionada por sanções do ocidente, a Rússia apresentou no começo de março sua lista de exigências para interromper o conflito. Entre as reivindicações estavam o fim das operações militares da Ucrânia, o reconhecimento da Crimeia e das províncias de Donetsk e Luhansk como território russo e que Kiev altere sua Constituição para garantir a neutralidade entre Moscou e a Otan.

Na época Zelenski classificou as exigências, em especial a relacionada com a Otan, como um "ultimato", mas se disse disposto a discutir o que chamou de "itens-chave" da negociação.

Rússia e Ucrânia retomaram a quarta rodada de negociações que começou na última segunda-feira, mas foi paralisada até o dia de hoje.

Entre os temas a serem abordados estão um cessar-fogo e a retirada das tropas russas do território ucraniano, disse Mykhailo Podolyak, negociador e conselheiro do presidente ucraniano.

Kiev amanheceu ao som de explosões. Três zonas residenciais foram atingidas e duas pessoas morreram, antes da retomada das negociações entre Rússia e Ucrânia

As negociações acontecem por videoconferência após três rodadas presenciais em Belarus e uma reunião na quinta-feira passada na Turquia entre os ministros das Relações Exteriores da Rússia e da Ucrânia.

O Kremlin considerou nesta terça-feira prematuro qualquer prognóstico sobre as negociações com a Ucrânia, depois que um conselheiro da presidência ucraniana afirmou que é possível um acordo de paz antes de maio, "e talvez mais rapidamente".

O presidente Zelenski afirmou na segunda-feira, 14, à noite que os russos "começaram a compreender que não conseguirão nada por meio da guerra".

Bombardeios em várias cidades

Enquanto negociadores buscam meios de resolver a situação, o conflito se torna cada vez mais intenso, especialmente em Kiev e sua região, alvos de intensos ataques russos. Na segunda-feira o Kremlin mencionou a possibilidade de tomar o "controle total" das principais cidades que já estão cercadas.

Nesta terça-feira, duas pessoas morreram em um bombardeio que atingiu um edifício no distrito de Sviatoshin, na zona oeste da capital, onde 27 pessoas foram resgatadas ilesas. O prédio de 15 andares sofreu um incêndio, informaram os serviços de emergência ucranianos.

O prefeito de Kiev, Vitali Klitschko, anunciou um toque de recolher de 35 horas a partir das 20h00 (15h00 de Brasília) desta terça-feira, uma decisão motivada pelo momento especialmente perigoso. Ao menos quatro pessoas morreram em bombardeios na capital hoje.

A cidade receberá nesta terça os primeiros-ministros da Polônia, República Tcheca e Eslovênia, que viajam de trem para uma reunião com o presidente ucraniano.

A visita é a primeira de líderes estrangeiros a Kiev desde o início da guerra e tem o objetivo de "reafirmar o apoio inequívoco do conjunto da União Europeia à soberania e independência da Ucrânia e apresentar um conjunto de medidas de apoio ao Estado e sociedade ucranianos", afirmou um comunicado divulgado pelo governo polonês.

Nesta terça-feira, o conflito superou a marca de três milhões de pessoas refugiadas, segundo a Organização Internacional para as Migrações da ONU. O número inclui 1,4 milhão de crianças, o que significa que atualmente na Ucrânia um menor de idade vira refugiado quase a cada segundo, afirmou James Elder, porta-voz do Unicef.

Mas, apesar de reduzir algumas cidades a escombros, a maior força de invasão da Europa desde a Segunda Guerra Mundial foi detida nos portões de Kiev, e a Rússia não conseguiu capturar nenhuma das 10 maiores cidades da Ucrânia, em especial no norte e no leste. Mas o país teve mais sucesso no sul, onde Moscou disse controlar toda a região de Kherson.

Em sua declaração pública mais confiante até agora, Zelenski pediu que as tropas russas se rendessem.

"Você não vai tirar nada da Ucrânia. Você vai tirar vidas", disse ele. "Mas por que você deveria morrer? Para quê? Eu sei que você quer sobreviver." (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

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RÚSSIA/UCRÂNIA/GUERRA/ZELENSKY/OTAN

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