EUA: Justiça encerra investigações sobre morte de jovem negro sem indiciamentos

O Departamento de Justiça dos EUA informou nesta segunda-feira, 6, que está encerrando a investigação sobre o linchamento de Emmett Till, o adolescente negro de Chicago que foi sequestrado, torturado e morto em 1955 depois que testemunhas disseram que ele assobiou para uma mulher branca no Mississippi. O caso foi reaberto em 2017.

O anúncio foi feito após o chefe da divisão de direitos civis do departamento e outras autoridades se reunirem com vários parentes de Till. Os familiares ficaram desapontados por ainda não haver nenhuma responsabilidade pelo assassinato e sem nenhuma acusação contra Carolyn Bryant Donham, a mulher acusada de mentir sobre se Till a tocou.

Seja assinante O POVO+

Tenha acesso a todos os conteúdos exclusivos, colunistas, acessos ilimitados e descontos em lojas, farmácias e muito mais.

Assine

"Hoje é um dia que nunca esqueceremos", disse o primo de Till, Wheeler Parker Jr., durante entrevista coletiva em Chicago. "Por 66 anos temos sofrido dores. ... Eu sofri tremendamente".

O assassinato potencializou o movimento pelos direitos civis da população negra dos EUA depois que a mãe de Till insistiu por um caixão aberto, e a revista Jet publicar fotos de seu corpo brutalizado.

Julgamento retomado

O Departamento de Justiça reabriu a investigação após um livro de 2017 citar que Donham mentiu quando afirmou que Till, de 14 anos, a agarrou, assobiou e a importunou sexualmente enquanto ela trabalhava em uma loja na pequena comunidade de Money. Parentes negaram publicamente que Donham, que está na casa dos 80 anos, tenha dado tais declarações.

Donham disse ao FBI que nunca retirou suas acusações e que há "evidências insuficientes para provar que tenha mentido ao FBI", disse o Departamento de Justiça.

As autoridades também apontaram que o historiador Timothy B. Tyson, o autor de The Blood of Emmett Till, de 2017, não conseguiu produzir nenhuma gravação ou transcrição em que a mulher supostamente tenha admitido ter mentido sobre seu encontro com o adolescente.

"Ao encerrar este assunto sem processo, o governo não assume a posição de que o testemunho do tribunal estadual que a mulher deu em 1955 foi verdadeiro ou preciso'', pontuou o comunicado do Departamento de Justiça. "Permanecem dúvidas consideráveis quanto à credibilidade de sua versão de eventos, o que é contradito por outros que estavam com Till na época, incluindo o relato de uma testemunha viva". Tyson não se pronunciou sobre o caso.

Thelma Wright Edwards, uma das primas de Till, disse que estava com o coração partido, mas não surpresa por nenhuma nova acusação ser feita. "Não tenho ódio no coração, mas esperava que pudéssemos obter um pedido de desculpas, mas isso não aconteceu", lamentou. "Nada foi resolvido. O caso está encerrado e temos que continuar a partir daqui. ''

O assassinato

O corpo de Till foi retirado dias após sua morte do Rio Tallahatchie, onde ele foi jogado ao ser baleado. Dois homens brancos, Roy Bryant e seu meio-irmão J.W. Milam, foram julgados por acusações de assassinato cerca de um mês depois, mas um júri todo formado por brancos do Mississippi os absolveu. Em seguida, eles confessaram o crime em uma entrevista paga à revista Look. Bryant estava casado com Donham em 1955.

Em 2004, o Departamento de Justiça abriu uma investigação sobre o caso. Na ocasião, o órgão informou que o prazo para a investigação já havia expirado para qualquer crime federal em potencial, mas o FBI trabalhou com os investigadores estaduais para determinar se as acusações estaduais poderiam ser refeitas. O corpo de Emmett Till chegou a ser exumado.

Em 2006, o FBI deu início a uma iniciativa pra reabrir casos arquivados e investigar assassinatos por motivos raciais ocorridos décadas antes. Uma lei federal com o nome de Till permite uma revisão dos assassinatos que não foram resolvidos ou terminaram sem condenações.

Em fevereiro de 2007, um grande júri do Mississippi se recusou a indiciar algum envolvido, e o Departamento de Justiça anunciou que estava encerrando o caso. Bryant e Milam não foram levados a julgamento novamente e já morreram. Donham mora em Raleigh, na Carolina do Norte.

A Lei Emmett Till de Crimes de Direitos Civis Não Resolvidos exige que o Departamento de Justiça faça um relatório anual ao Congresso. Nenhum relatório foi feito em 2020, mas um relatório apresentado em junho deste ano indicava que o departamento ainda estava investigando o sequestro e assassinato de Till.

A investigação do FBI incluiu uma conversa com Parker Jr., que anteriormente disse à Associated Press em uma entrevista que ouviu seu primo assobiar para a mulher em uma loja em Money, mas que o adolescente não fez nada para justificar sua morte. (Com agências internacionais).

Dúvidas, Críticas e Sugestões? Fale com a gente

Tags

EUA RACISMO EMMETT TILL MORTE INVESTIGAÇÃO

Os cookies nos ajudam a administrar este site. Ao usar nosso site, você concorda com nosso uso de cookies. Política de privacidade

Aceitar