Nenhum país pode ficar de fora das negociações climáticas, diz Obama

Autor DW Tipo Notícia

Em discurso na COP26, ex-presidente americano critica "falta de urgência" de Rússia e China na questão ambiental, e pede também mais envolvimento do Brasil e outros grandes países. EUA "estagnaram" sob Trump, afirma.Em discurso na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP26, nesta segunda-feira (08/11), o ex-presidente dos Estados Unidos Barack Obama disse que o mundo "não fez o suficiente" para lidar com a crise climática, lançando críticas especialmente à China e à Rússia, bem como à gestão de seu sucessor na Casa Branca, Donald Trump. "Foi particularmente desanimador ver os líderes de dois dos maiores emissores [de gases de efeito estufa] do mundo, China e Rússia, se recusando até mesmo a comparecer aos trabalhos" em Glasgow, na Escócia, afirmou o político democrata. Segundo Obama, os planos nacionais desses dois países "até agora refletem o que parece ser uma perigosa falta de urgência e uma vontade de manter o status quo por parte desses governos, e isso é uma vergonha". Além de Rússia e China, ele faz um apelo por um maior envolvimento e "liderança" do Brasil, da Indonésia e da África do Sul, também grandes emissores, frisando: "Não podemos permitir ninguém à margem" das negociações climáticas. Mais de 120 chefes de Estado e governo estiveram presentes em negociações de alto nível em Glasgow na semana passada, no início da COP26, com o presidente Jair Bolsonaro e os líderes da China, Xi Jinping, e Rússia, Vladimir Putin, figurando entre os ausentes. Obama disse que o mundo está passando por um "momento em que a cooperação internacional minguou". "A cooperação internacional sempre foi difícil, e se tornou ainda mais difícil pela desinformação e pela propaganda que surgem nas redes sociais hoje em dia." Ele também culpou a pandemia e a ascensão do nacionalismo por esse colapso das relações internacionais. "Mas há uma coisa que deve transcender nossa política cotidiana e a geopolítica normal. E isso é a mudança climática", completou. "Fazer com que pessoas trabalhem juntas em uma escala global leva tempo, e é esse tempo que não temos. Se trabalharmos duro o suficiente por tempo suficiente, essas vitórias parciais se somam." "Não fizemos o suficiente para lidar com esta crise" O ex-presidente alertou ainda que "a maioria dos países falhou" em cumprir as promessas que fizeram no Acordo de Paris sobre o clima, em 2015. Obama, que liderava os Estados Unidos à época do acordo, disse que o mundo precisa "intensificar" suas metas de redução de emissões e trabalhar em conjunto para limitar o aumento da temperatura global. "Não fizemos o suficiente para lidar com esta crise", afirmou às delegações em Glasgow. "Teremos que fazer mais, e se isso vai acontecer ou não, em grande medida vai depender de vocês." Ao longo dos seis anos desde o Acordo de Paris – que visa limitar o aquecimento global a entre 1,5 e 2 °C – as emissões de gases de efeito estufa continuaram a aumentar, e um estudo divulgado na semana passada alertou que a queda nas emissões registrada em 2020 tende a reverter e voltar aos níveis pré-pandemia. "Por algumas medidas, o acordo foi um sucesso", disse Obama. "[Mas] ainda não estamos nem perto de onde precisamos estar." Críticas aos republicanos Discursando no palco principal da conferência, o ex-líder americano também dirigiu suas críticas a alvos domésticos, mais precisamente a parlamentares do Partido Republicano de Trump. Obama disse que sua gestão e a do atual presidente, o democrata Joe Biden, foram "restritas em grande parte pelo fato de que um dos dois grandes partidos [americanos] decidiu não apenas ficar à margem, como expressou hostilidade ativa em relação à ciência ambiental e fez da mudança climática uma questão partidária". "Para quem está nos ouvindo nos EUA, deixe-me dizer o seguinte: não importa se você é republicano ou democrata, se sua casa na Flórida está inundada pelo aumento do nível do mar, se suas safras fracassam nas Dakotas ou se sua casa na Califórnia está pegando fogo", afirmou. "Natureza, física e ciência não se importam com sua filiação partidária." Ele admitiu que parte do progresso dos Estados Unidos "estagnou" quando seu sucessor Trump decidiu retirar unilateralmente o país do Acordo de Paris. Mais tarde, contudo, o presidente Biden voltou a aderir ao pacto climático quando assumiu o cargo. Mensagem aos jovens Obama também falou aos jovens, afirmando que "a energia mais importante" do movimento climático vem deles. "A razão é simples – eles têm mais interesse nessa luta do que qualquer outra pessoa. É por isso que quero passar o resto do meu tempo hoje conversando com os jovens", disse. "Se os mais velhos não querem ouvir, eles precisam sair do caminho." O ex-presidente defendeu a importância de protestos climáticos, como os organizados mundo afora pelo movimento jovem Greve pelo Futuro, da ativista sueca Greta Thunberg. "Não é suficiente mobilizar apenas os já convertidos, não é suficiente rezar a missa para o coral [da igreja]. Os protestos são necessários para aumentar a conscientização, campanhas de hashtag podem difundir a conscientização", declarou. Obama ainda incentivou a juventude a falar com suas famílias sobre as mudanças climáticas, reiterando ser importante "converter" aqueles que não concordam ou que são indiferentes ao tema da crise climática. "Precisamos exercitar um pouco mais a escuta – não podemos simplesmente gritar com eles ou dizer que eles são ignorantes, ou apenas tuitar para eles." "A todos os jovens por aí, assim como àqueles que se consideram jovens de coração: quero que continuem com raiva. Quero que continuem frustrados. Mas desafiem essa raiva e explorem essa frustração. Continuem pressionando cada vez mais por mais e mais – porque é isso que é necessário para enfrentar este desafio." "Estou pronto para o longo trajeto se vocês estiverem, então vamos trabalhar", concluiu o ex-presidente, sendo aplaudido pelo público presente. Decisores políticos e milhares de especialistas e ativistas reúnem-se até sexta-feira na COP26 para atualizar as metas dos países para a redução das emissões de gases de efeito de estufa até 2030, e aumentar o financiamento para ajudar países afetados a enfrentarem a crise climática. ek (AFP, Reuters, Lusa, ots)

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