Papa expressa sua "dor", mas não se desculpa por crianças indígenas encontradas mortas no Canadá

Francisco não realizou o pedido de desculpas direto que alguns canadenses haviam exigido

O papa Francisco disse neste domingo (6) que ficou magoado com a descoberta dos restos mortais de 215 crianças em uma antiga escola católica para estudantes indígenas no Canadá e pediu respeito aos direitos e culturas dos povos nativos.

No entanto, Francisco não realizou o pedido de desculpas direto que alguns canadenses haviam exigido. Há dois dias, o primeiro-ministro canadense Justin Trudeau disse que a Igreja Católica deve assumir a responsabilidade por seu papel na administração de muitas das escolas.

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Falando aos peregrinos e turistas na Praça de São Pedro para sua bênção semanal, Francisco exortou os líderes religiosos católicos e políticos canadenses a "cooperar com determinação" para lançar luz sobre a descoberta e buscar reconciliação e cura.

Francisco disse que se sentiu próximo "do povo canadense, que ficou traumatizado com a notícia chocante".

As escolas residenciais operaram entre 1831 e 1996 e eram administradas por várias denominações cristãs em nome do governo. A maioria era dirigida pela Igreja Católica.

A descoberta no mês passado dos restos mortais das crianças na Kamloops Indian Residential School, na Colúmbia Britânica, que fechou em 1978, reabriu velhas feridas e está alimentando a indignação no Canadá sobre a falta de informação e responsabilidade.

"A triste descoberta aumenta ainda mais a compreensão da dor e do sofrimento do passado", disse Francisco.

“Estes momentos difíceis representam um forte lembrete para todos nós de nos distanciarmos do modelo de colonizador... e de caminharmos lado a lado no diálogo e no respeito mútuo no reconhecimento dos direitos e valores culturais de todos os filhos e filhas do Canadá", disse ele.

Francisco, que foi eleito papa 17 anos após o fechamento das últimas escolas, já se desculpou pelo papel da Igreja no colonialismo nas Américas.

Mas ele preferiu pedir desculpas diretas ao visitar países e conversar com os povos nativos. Nenhuma visita papal ao Canadá está programada.

Apelo 

Os apelos de grupos indígenas para que o papa se desculpasse aumentaram nos últimos dias, depois que os restos mortais de crianças em idade escolar foram encontrados na semana passada em um antigo internato de Kamloops administrado pela Igreja Católica de 1890 a 1969.

Cerca de 150 mil crianças ameríndias, mestiças e inuítes (esquimós, termo que atualmente tem conotação pejorativa no Canadá) foram internadas à força em 139 internatos desse tipo em todo o país, onde ficaram isoladas de suas famílias, idioma e cultura.

Em 2015, uma comissão nacional de inquérito declarou essas práticas como "genocídio cultural".

A Conferência Episcopal Canadense estimou na segunda-feira que a descoberta dos restos mortais era "avassaladora" e expressou sua "profunda tristeza", mas sem oferecer um pedido formal de desculpas.

Na terça, o ministro canadense Marc Miller considerou "vergonhoso" a falta de desculpas do papa e da Igreja Católica.

Poucas horas depois das declarações do ministro, o arcebispo de Vancouver, Michael Miller, apresentou suas "sinceras desculpas e profundas condolências às famílias".

"A Igreja estava inquestionavelmente errada ao implementar uma política governamental colonialista que foi devastadora para as crianças, famílias e comunidades", considerou.

 

 

 

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