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"Você mudou o mundo", diz ativista em homenagem a Floyd nos EUA

Milhares de pessoas de diferentes origens protestaram nas ruas de Nova York
09:22 | Jun. 05, 2020
Autor AFP
Tipo Notícia

Centenas de pessoas se despediram na quinta-feira, 4, de George Floyd, um cidadão negro, cuja morte por um policial branco que o imobilizou pressionando o joelho sobre seu pescoço desencadeou um movimento de protesto que não se via há décadas nos Estados Unidos. A cerimônia teve um tom intimista, mas com forte carga política.

Manifestações, no geral pacíficas e silenciosas, voltaram a ocorrer em todo país ontem, com pedidos de justiça e pelo fim das discriminações raciais.

Milhares de pessoas de diferentes origens protestaram nas ruas de Nova York, além de Washington, Seattle e Los Angeles. Nestas três últimas, o toque de recolher foi suspenso.

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A indignação também continuou a se espalhar para fora dos Estados Unidos. Em Viena, uma marcha reuniu cerca de 50 mil pessoas, segundo a polícia, uma das mobilizações com maior público nos últimos anos na capital austríaca.

O reverendo e veterano ativista pelos direitos civis Al Sharpton foi encarregado do discurso fúnebre. Nele, afirmou que Floyd "não morreu de uma doença comum, mas sim do mau funcionamento da justiça criminal dos Estados Unidos".

"O que aconteceu com Floyd acontece todos os dias neste país", ressaltou Sharpton. "É momento de nos colocarmos de pé e, em nome de George, dizermos: tire esse joelho do meu pescoço", acrescentou, sob aplausos.

"Você mudou o mundo, George", disse o pastor batista depois da exibição de imagens da morte de Floyd, que deflagrou uma indignação inédita desde o assassinato do ativista negro Martin Luther King Jr., em 1968. "Vamos continuar até mudarmos todo sistema de justiça", afirmou Al Sharpton.

Acompanhada de música e fortemente marcada pelas restrições para conter a disseminação da COVID-19, a cerimônia misturou testemunhos íntimos da família, com a presença de personalidades como o reverendo Jesse Jackson, a senadora democrata por Minnesota Amy Klobuchar, e o prefeito de Minneapolis, Jacob Frey.

O caixão dourado com o corpo de Floyd foi colocado à frente de uma projeção. As imagens mostravam um mural pintado no local onde ele morreu e que foi transformado em um memorial improvisado com flores e mensagens. O advogado da família, Ben Crump, prometeu "justiça" no caso, no qual são processados quatro policiais.

Crump afirmou que Floyd morreu pela "pandemia do racismo e da discriminação", depois que a necropsia confirmou morte por asfixia e revelou que ele tinha se infectado com o novo coronavírus.

A maioria dos presentes usava máscaras, algumas com a frase "Não consigo respirar" - uma referência às últimas palavras proferidas por Floyd, quando o policial branco Derek Chauvin o imobilizou, pressionando o joelho contra seu pescoço por 8 minutos e 46 segundos.

Em um momento da cerimônia, os presentes fizeram silêncio durante o mesmo intervalo de tempo e quando o corpo de Floyd chegou ao local, o chefe de polícia de Minneapolis, Medaria Arradondo, apoiou um dos joelhos no chão, em sinal de respeito. 

Em Nova York, foi celebrada uma cerimônia simultânea, à qual assistiu um de seus irmãos, Terrence.

Os presentes exibiam cartazes com mensagens como "O silêncio dos brancos é violência" e "Façamos dos Estados Unidos algo não vergonhoso outra vez".

A onda de protestos que agita o país há dez dias se intensificou na segunda-feira, quando o presidente Trump ameaçou mobilizar o Exército para restaurar a ordem, depois que protestos pacíficos durante o dia terminaram em distúrbios à noite.

Os confrontos levaram muitas cidades a declararem toque de recolher, e pelo menos 10.000 pessoas foram presas em todo país, de acordo com veículos da imprensa americana.

Ontem à noite em Nova York, novas detenções voltaram a ocorrer, depois que manifestantes desafiaram o toque de recolher em vigor desde as 20h.

Não longe dali, em Buffalo, dois policiais foram suspensos sem pagamento, depois que um vídeo divulgado nas redes sociais os mostrou empurrando um senhor, que cai no chão. Segundo uma primeira declaração das autoridades, o homem, que sangrava em profusão e parecia ter perdido a consciência, "tropeçou e caiu".

Depois de mais de uma semana de mobilizações, a situação parece, contudo, ter-se acalmado em grande parte no país, já que os manifestantes tiveram uma primeira "vitória" no campo legal.

Como exigiam, o procurador que investiga a morte de Floyd em Minneapolis redefiniu os atos como homicídio sem premeditação e acusou os outros três oficiais presentes de ajudá-lo e incitá-lo.

Os policiais compareceram diante do tribunal na quinta-feira para o estabelecimento da fiança: entre US$ 750 mil e US$ 1 milhão para cada.

Acusado pela oposição democrata de estimular ainda mais o caos, ameaçando usar o Exército para controlar as ruas, Trump se manteve nessa linha.

"ORDEM PÚBLICA!", voltou a tuitar, referindo-se a algo que, muito provavelmente, será um dos temas de sua campanha à reeleição na disputa de 3 de novembro.

Rede social favorita do republicano, o Twitter invocou um problema de "direitos autorais" para eliminar um vídeo do presidente, prestando uma homenagem a George Floyd. Para sua equipe de campanha, trata-se de "censura" do Twitter.

Embora tenha condenado a morte de Floyd, o presidente adotou um tom severo para se referir aos manifestantes, afirmando que havia "pessoas más". A tensão aumentou em seu próprio gabinete na quarta-feira, depois que o secretário da Defesa, Mark Esper, opôs-se ao uso de uma lei que permitiria que as forças militares fossem às ruas.

Centenas de soldados da Guarda Nacional, um corpo de reservistas, já foram enviados para ajudar a polícia no controle dos protestos, mas Trump propõe apelar para os militares da ativa.

Esper se distanciou desta proposta e disse que a opção militar deve ser usada como "um último recurso e apenas nas situações mais urgentes e sérias".

A influente associação de defesa dos direitos civis ACLU e outras organizações apresentaram uma denúncia judicial contra Trump, bem como contra os secretários da Justiça e da Defesa pela ação da polícia contra a manifestação pacífica em frente à Casa Branca na segunda-feira.

Uma senadora republicana do Alasca, Lisa Murkowski, decepcionada com a atitude do presidente, disse a jornalistas que não tem certeza se o apoiará nas eleições de novembro.


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