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Papa denuncia injustiças na Amazônia e não encampa proposta sobre padres casados

Flexibilização do celibato em regiões afastadas da Amazônia foi defendida pelos bispos, mas causou enorme polêmica na Igreja
11:23 | Fev. 12, 2020
Autor Com AFP
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Tipo Notícia

O papa Francisco divulgou nesta quarta-feira, 12, a exortação apostólica "Querida Amazônia", um texto muito aguardado no qual evita um pronunciamento sobre os padres casados e denuncia as empresas que semeiam "injustiça e crime" neste território afetado pela devastação e a pobreza.

O texto, de 24 páginas, dividido por capítulos, gerou muita expectativa porque o papa argentino evita o delicado tema do celibato, defendido com veemência pelos setores ultraconservadores.

Com esta decisão, Francisco deseja que a exortação apostólica se concentre nos desafios ecológicos, sociais e pastorais, e não na questão do fim do celibato, tema que divide profundamente a Igreja.

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Em outubro, os bispos reunidos no Sínodo da Amazônia discutiram o ordenamento de homens casados em comunidades afastadas da floresta amazônica, em casos específicos e conforme a necessidade. Francisco recuou apesar do aceno favorável do sínodo à "exceção amazônica".

Na exortação apostólica do Sínodo dos Bispos, Francisco destaca como é desigual a presença de sacerdotes na Amazônia e pede orações por vocações e pela ida de missionários à região.

A questão levantou enorme polêmica. Até o papa emérito Bento XVI, que havia prometido se manter afastado da vida pública desde que renunciou ao papado, coassinou livro em defesa do celibato. Depois, pediu que seu nome fosse retirado da publicação.

Para Andrea Tornielli, diretor de comunicação do Vaticano, Francisco quis evitar que a exortação se transformasse em um "referendo" sobre a possibilidade de ordenar homens casados como padres.

Meio ambiente

Em seu texto, o pontífice denuncia as empresas nacionais e multinacionais que semeiam a "injustiça e o crime" na Amazônia e violam os direitos dos povos autóctones.

"Aos empreendimentos, nacionais ou internacionais, que prejudicam a Amazônia e não respeitam o direito dos povos originários do território e sua demarcação, à autodeterminação e ao consentimento prévio, devem receber o nome que lhes corresponde: injustiça e crime", escreveu.

O papa destaca o que chama de "grandes sonhos" para a Amazônia, defende a "ecologia humana" que leva em consideração os pobres e valoriza as culturas indígenas.

"Sonho com uma Amazônia que lute pelos direitos dos mais pobres, dos povos originários, dos últimos", escreve no primeiro capítulo.

No texto, divulgado quatro meses depois do sínodo, ou assembleia, no Vaticano com todos os bispos da região, Francisco defende a promoção de uma "igreja missionária" com face amazônica.

Celibato

O documento, que o Vaticano chama de "carta de amor de Francisco", tenta acalmar os ânimos entre conservadores e progressistas a respeito da polêmica questão do celibato.

A omissão do tema, no entanto, decepcionou os setores que pediam uma exceção para esta região do mundo.

O fim do celibato na Amazônia foi uma das propostas mais inovadoras apresentadas pelos religiosos da região, com 34 milhões de habitantes e 400 tribos indígenas, devido à escassez de padres e o avanço incessante dos evangélicos.

A rejeição do pontífice a abordar o pedido dos bispos latino-americanos de autorizar excepcionalmente a ordenação de homens casados, e com uma vida impecável, para a região amazônica é considerada uma vitória dos setores mais conservadores.

"O papa cedeu à pressão e não aprovará a ordenação de padres casados", comentou, decepcionado, José Manuel Vidal, da página católica Religião Digital.

Com uma linguagem moderna, em que cita Pablo Neruda, Mario Vargas Llosa e o padre Pedro Casaldáliga, a exortação papal termina com um poema dedicado à Mãe da Amazônia.

Francisco traça ainda o caminho para enfrentar as necessidades espirituais dos habitantes das florestas amazônicas, reforçando o papel do missionário, mas fecha a porta para as mulheres diaconisas.

Reconhecer ministérios à mulher conseguiria apenas "clericalizar as mulheres, diminuiria o grande valor do que elas já deram e provocaria sutilmente um empobrecimento de sua contribuição indispensável", escreveu.

A exortação "deixa muitos com a sensação de que Bergoglio não se atreveu a ir mais longe", comentou Vidal.

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