Os altos e baixos da social-democracia na Europa

Autor DW Tipo Notícia
SPD alemão não é o único partido social-democrata da UE em apuros. Em outros países a situação da ala é bem pior. Contudo há também exemplos de centro-esquerda estável, e mesmo em ascensão. Qual é a receita de sucesso?Após anos de jugo conservador no governo nacional e derrotas eleitorais, culminando com a recente renúncia da líder do Partido Social-Democrata (SPD), Andrea Nahles, a ala centro-esquerda está bastante debilitada na Alemanha. Em outros países da Europa, como a França, partidos social-democratas também acumulam seguidos fracassos, mas há alguns casos que desafiam essa tendência. DinamarcaO mais recente exemplo de sucesso social-democrata na Europa é a Dinamarca, onde o partido se tornou o grupo parlamentar mais forte na eleição de 5 de junho. A jovem líder Mette Frederiksen apostou numa combinação de política de imigração severa e clássico bem-estar social esquerdista, que ressoou especialmente bem entre o eleitorado social-democrata tradicional.Muitos dinamarqueses das classes operária e média-baixa, que há anos votavam no populista de direita Partido Popular Dinamarquês (DFP), retornaram ao Partido Social-Democrata. Frederiksen defende pontos de vista que seriam impensáveis entre os social-democratas de outros países: ela é a favor de colocar os solicitantes de refúgio em alojamentos no continente africano, sob supervisão das Nações Unidas; e, em vez de integração, reivindica o repatriamento de imigrantes europeus e refugiados. FrançaNenhum outro país ilustra tão bem o ocaso da social-democracia europeia quanto a França. O Partido Socialista (PS) teve seu apogeu na década de 1980 e início da de 90, sob o presidente François Mitterrand. Ainda em 2012, alcançou maioria absoluta na Assembleia Nacional, empossando François Hollande como presidente.Aí veio a queda: nas eleições presidenciais de 2017, seu candidato obteve pouco mais de 6% dos votos, ficando em quinto lugar. No pleito para o Parlamento Europeu de maio de 2019, a legenda chegou a cair para sexto lugar.O cientista político Uwe Jun analisa: "O PS ficou bem no foco da onda de desconfiança em relação à classe política, pois antes das eleições presidenciais e parlamentares ele era o principal partido do governo." Além disso, "decepcionou muito as promessas feitas antes das eleições, do ponto de vista dos eleitores".Tradicionalmente, o PS francês é um grupo bastante esquerdista, bem mais do que o Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD), por exemplo. Hoje ele está encurralado entre o A República Em Marcha (LREM), do presidente Emmanuel Macron, forças ainda mais à esquerda do que ele próprio, e a ultradireitista Reunião Nacional, de Marine Le Pen, que igualmente atrai muitos franceses com sua política xenófoba e antiglobalização.HolandaO Partido do Trabalho (PvdA) da Holanda teve destino semelhante no pleito parlamentar nacional de 2017. A antes poderosa legenda, que no pós-guerra elegeu o primeiro-ministro por três vezes, teve o pior resultado de sua história: 5,7%, uma perda de nada menos do que 19 pontos percentuais em relação à votação anterior.Uma das desvantagens que enfrenta o PvdA é a extrema multiplicidade do sistema partidário holandês: a ala à esquerda do centro se divide entre o Partido Socialista, o Esquerda Verde (GL) e o D66, todos focando a mesma faixa do eleitorado. Contudo, tão dramática quanto as perdas do PvdA em 2017 foi sua recuperação no pleito para o Parlamento Europeu de 2019, em que surpreendentemente se afirmou como principal força.No entanto, o cientista político Jun considera essa vitória antes uma anomalia, em grande parte atribuível à pessoa do principal candidato socialista europeu, Frans Timmermans, de nacionalidade holandesa. No geral, o PvdA conta como "partido academizado do funcionalismo público, que se ocupa antes de temas pós-materialistas e quase não alcança grupos eleitorais tradicionais".Reino UnidoO agora septuagenário Jeremy Corbyn era a grande esperança, sobretudo da geração jovem, ao assumir a presidência do Partido Trabalhista britânico em 2015. Após anos na oposição, ele parecia dar nova vida à tradicional legenda, e também impulsionou os social-democratas de outros países. Corbyn defende a política da velha esquerda de redistribuição de renda e estatização, de início até propondo a saída do Reino Unido da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).Contudo, o sonho de um retorno ao governo se desfez com a briga pelo Brexit, dividindo não só os trabalhistas, mas o país como um todo. Na eleição europeia, a legenda só obteve 14% dos votos.Uwe Jun explica que o comportamento "pouco convincente" de Corbyn na questão do Brexit "pesou sensivelmente no apoio do eleitorado". "Além disso, crescem as dúvidas se ele seria adequado como chefe de governo." Qual é a plataforma do partido? No momento, numerosos eleitores se colocam essa questão e voltam as costas aos trabalhistas.SuéciaA Suécia é considerada o país-modelo da social-democracia. Em nenhum outro Estado europeu um grupo político teve tanto sucesso no longo prazo quanto lá. Em todas as eleições para o Parlamento nacional desde 1917, o partido foi o mais forte, mesmo que o primeiro-ministro não tenha sido sempre um social-democrata. Nas legislativas de 2018, ele de fato caiu para 28%, seu pior resultado em 110 anos, mas permaneceu o favorito. O mesmo ocorreu no pleito para o Parlamento Europeu.No entanto, assim como em muitos outros países europeus, os populistas de direita, no caso os Democratas Suecos (SD), estão colocando os social-democratas sob pressão. Por sua vez, os verdes perderam justamente no país da ativista do clima Greta Thunberg.Ainda assim os social-democratas seguem sendo a grande força integradora no país escandinavo. Para o cientista político Jun, a explicação é que "princípios social-democratas continuam mais presentes na Suécia do que em muitas outras sociedades europeias".ÁustriaO Partido Social-Democrata da Áustria (SPÖ) já viu tempos melhores – bem melhores até. Nos 28 governos desde 1945, 15 chanceleres federais eram social-democratas. Até 1990 a legenda sempre obteve mais de 40% nas eleições para o Conselho Nacional, nos áureos anos 70 chegando a mais de 50%.Esses tempos ficaram bem atrás para o SPÖ, embora até agora ele tenha sido poupado de uma derrocada como a do SPD na Alemanha. Uma peculiaridade da situação austríaca são as frequentes grandes coalizões com o conservador Partido Popular (ÖVP). Por outro lado, estas também contribuíram para a ascensão dos populistas de direita do Partido da Liberdade (FPÖ).Surpreendentemente, até o momento o SPÖ não lucrou com o escândalo dos vídeos do ex-líder do FPÖ Hans-Christian Strache e a consequente dissolução da coalizão ÖVP-FPÖ. Na eleição europeia, o ÖVP avançou, enquanto o SPÖ estagnou. Para Jun, a explicação é que atualmente falta aos social-democratas austríacos "um direcionamento estratégico claro".Países do Leste EuropeuEm diversos Estados orientais da UE, os social-democratas já não podem ser considerados grandes partidos populares. O MSZDP da Hungria, por exemplo, é irrelevante desde o fim do comunismo, 30 anos atrás. Na época ainda chegava a 3,5% dos votos nas eleições para o Parlamento nacional, desde então fica abaixo de 1%. Seu papel é antes extraparlamentar, enquanto a aliança populista de direita Fidesz, do premiê Viktor Orbán, domina praticamente todo o espaço político.Na Polônia, a antiga legenda governista social-democrata SLD só participou do pleito para o Parlamento Europeu como parte de uma aliança oposicionista pró-europeia. Quem dita o tom na política do país desde 2015 é o nacional-conservador Lei e Justiça (PiS).Segundo Uwe Jun, a existência de sombras dos social-democratas nesses antigos Estados da "Cortina de Ferro" está ligada "ao passado estatal-socialista, porém ainda mais à ascensão do Fidesz e PiS como partidos nacional-populistas, com abrangentes programas de previdência". Em ambos os países, contudo, há também novos partidos de orientação social-democrata, os quais ganharam destaque desde as eleições europeias: na Polônia, o Wiosna; na Hungria, a Coalizão Democrática.Na Eslováquia, o oficialmente social-democrático Smer apresenta perfil em parte nacional-populista (no tema migração), em parte conservador, como na política social (direitos de minorias e homossexualidade). Na Romênia, os social-democratas seguem no governo. No entanto, o PSD está acusado de reconfigurar o Judiciário de modo a blindar seus membros sob suspeita de corrupção. No pleito para o Parlamento Europeu, ele sofreu uma dura derrota, ficando com 23% dos votos.Espanha e PortugalTalvez a maior esperança para a social-democracia da Europa venha da Península Ibérica. Após anos de agonia, em Portugal o socialista António Costa governa desde 2015 com bastante sucesso, ainda que sem maioria própria. No pleito europeu, os socialistas se reafirmaram como principal força política portuguesa.Ainda mais motivos de alegrar-se têm os correligionários do chefe de governo Pedro Sánchez na Espanha. Seu Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) venceu com boa dianteira as legislativas em abril de 2019, e após as eleições europeias de 2019 os 20 deputados espanhóis formarão o maior contingente da bancada social-democrata em Estrasburgo._______________A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas. Siga-nos no Facebook | Twitter | YouTube| WhatsApp | App | Instagram | NewsletterAutor: Christoph Hasselbach (av)

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