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Abdullah Öcalan, líder da rebelião curda, completa 20 anos de prisão

09:50 | Fev. 13, 2019
Autor AFP
Tipo Notícia

Duas décadas após sua captura pelos serviços secretos turcos, Abdullah Öcalan, o líder histórico do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), continua uma figura incontestável da rebelião curda.

Considerado pelo governo da Turquia como o inimigo público número 1 do país, Öcalan - que já tem 69 anos - foi preso em 15 de fevereiro de 1999 por agentes turcos no Quênia, após uma busca implacável.

Depois de sua prisão e condenação, foi encarcerado na prisão de Imrali, no Mar de Mármara, onde cumpre pena de prisão perpétua.

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No entanto, continua sendo uma personalidade de alto nível da rebelião curda, um conflito entre o PKK e o Estado turco que já deixou mais de 40 mil mortos desde 1984.

Um grupo de mais de 300 detidos realizaram no começo do ano uma greve de fome para protestar contra o isolamento a que Öcalan continua sujeito, já que desde 2011 não é autorizado nem mesmo a receber seus advogados.

Em janeiro, o governo turco permitiu excepcionalmente que o líder curdo recebesse a visita de seu irmão Mehmet. Os dois não se viam desde 2016.

São poucos aqueles que viram Öcalan e, por isso, para a maioria das pessoas seu rosto é o mesmo dos anos de sua prisão: redondo e com bigode preto.

"Vimos fotos" de alguns anos atrás, recordou à AFP um de seus advogados, Abrahim Bilmez. "Vimos o quanto envelheceu, seus cabelos e seu bigode agora são brancos", acrescentou.

Bilmez lembrou que Öcalan "completa 70 anos este ano e passou os últimos 20 em isolamento".

Mas sua influência continua, mesmo além da fronteira turca, com seu retrato em todas as regiões controladas pelas Unidades de Proteção do Povo (YPG) na Síria.

Nessas regiões, o homem chamado por seus seguidores de "Apo" ou "Serouk" ("chefe") é objeto de um verdadeiro culto à personalidade.

Öcalan nasceu em 4 de abril de 1949 numa família camponesa de seis filhos na aldeia de Omerli, na fronteira com a Síria. Quando jovem, estudou Ciências Políticas em Ancara e logo abraçou a causa curda, o que lhe levou à prisão pela primeira vez, por sete meses, em 1972.

Em 1978 fundou o PKK, de orientação marxista-leninista, e dois anos mais tarde se exilou, residindo em Damasco ou na região libanesa de Bekaa (então sob controle sírio), onde instalou seu quartel general.

Em 1984 "Apo" decidiu iniciar a luta armada contra o governo turco pela criação de um Estado curdo.

Os ataques do PKK foram respondidos por forte repressão por parte do Estado turco.

O sudeste do país mergulhou num estado de convulsão, ao ponto de Turquia, Estados Unidos e União Europeia classificarem o PKK de "grupo terrorista".

Forçado a deixar a Síria em 1998 devido à pressão turca, Öcalan vagou por toda a Europa antes de ser capturado pelos serviços secretos turcos nos portões da embaixada grega em Nairobi.

Já na Turquia, foi condenado à morte em 1999, embora a sanção tenha sido comutada para prisão perpétua depois da abolição da pena de morte em 2002.

A Turquia achou que havia decapitado o PKK com sua captura. Mas, mesmo em isolamento, continuou a dirigir seu movimento, através de instruções distribuídas por seus advogados e legisladores curdos que o visitavam.

Foi desta forma que ele ordenou um cessar-fogo unilateral que durou de 1 de setembro de 1999 a 1 de junho de 2004. Foi também ele quem ordenou o movimento a renunciar a um Estado curdo independente e militar por autonomia política dentro da Turquia.

Em 2012, ordenou o fim de uma greve de fome realizada por cerca de 700 prisioneiros curdos, e posteriormente foi ele que o então primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan abriu um canal de diálogo.

Em 2013, Öcalan convocou suas tropas para um cessar-fogo para permitir discussões em Ancara para um acordo de paz, mas o conflito foi retomado em 2015.

De acordo com Hamit Bozarslan, diretor da Escola de Estudos Superiores de Ciências Sociais, em Paris, se essas discussões para um acordo forem retomadas, "o ator de referência ainda é Öcalan".

Na opinião de Bozarslan, "para a maioria dos curdos (Öcalan) é o tio que incorpora não apenas a causa, mas incorpora a nação curda como um todo".

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