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Entenda a crise na Venezuela que provocou forte onda migratória ao Brasil

O país vive uma inflação meteórica, com escassez de alimentos e de produtos de necessidade básica. Recessão, que aumenta desde 2013, gerou uma radicalização política por parte da oposição e do governo
13:51 | Mar. 05, 2018
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[FOTO1]Há cinco anos morria o ex-presidente Hugo Chávez, um nome populista que promoveu melhorias na qualidade de vida dos venezuelanos, principalmente para as classes mais pobres. Quem assumiu o poder desde então foi Nicolás Maduro, que tentou aplicar em seu governo a mesma política de Chávez. As condições que o atual presidente encontrou, no entanto, eram bem diferentes das de quando Hugo assumiu: o preço do barril de petróleo, base da economia da Venezuela, baixou. Medidas de controle estatal próprias do chavismo, modelo de socialismo inspirado pelo bolivarianismo,  se mostraram insustentáveis dentro de um contexto de crise política e econômica. 

Cinco anos depois, venezuelanos enfrentam uma situação complicada. Nos mercados, faltam alimentos, produtos de higiene e remédios. A inflação se encontra acima de 800% ao ano, aumentando o preço de insumos básicos, quando esses conseguem ser encontrados. As ruas se enchem de uma oposição cada vez mais radical, que encontra uma resposta igualmente radical por parte do governo do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), já há 18 anos no poder.
 
A situação caótica provocou uma forte onda migratória de venezuelanos miseráveis para os países vizinhos da América Latina, principalmente o Brasil. Cerca de 50 mil venezuelanos entraram aqui após o agravamento da crise político-econômica na nação bolivarianista.

“A crise tem a ver com o aprofundamento do modelo bolivariano, com equívocos da oposição e com o isolamento internacional da Venezuela”, explica o professor de Ciência Política e Relações Internacionais do Ibmec/MG, Oswaldo Dehon. Segundo ele, o estopim de uma situação de crise que já se espreitava foi a transição de Chávez para Maduro. “Maduro não tem a mesma liderança nem a capacidade de unir forças”, resume. 
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A crise na economia
A economia na Venezuela é pouco diversificada e dependente. A base dessa, aproximadamente 96% da renda, está no petróleo, produto abundante no país, mas de valor que sofre oscilações. Itens de necessidade não são produzidos no país, dependendo da importação de países próximos, entre eles, o Brasil. O preço do barril de petróleo, de 120 dólares em 2008, caiu para menos de 50 dólares a partir de 2014. Além de perder a capacidade de importar, o país não pôde manter os investimentos sociais, um dos pontos mais positivos do governo de Chávez.

O controle nos preços, uma medida tomada por Hugo Chávez para evitar inflação, desestimulou investimentos de iniciativa privada dentro do país. Em alguns casos, a venda era desvantajosa para empresas privadas devido aos impostos, o que ajudou a fazer com que os produtos sumissem das prateleiras. A dependência do Estado na economia prejudica o país, quando esse não consegue, sozinho, suprir as demandas da população.

Outra medida de combate à inflação no governo de Chávez também mostra resultado agora, em tempos de crise. O controle do câmbio, adotado desde 2003 com o objetivo inicial de impedir a fuga de dólares do país, deu espaço para uma corrupção interna por parte dos militares e membros do governo. O desvio ilegal provoca escassez da moeda estrangeira dentro do país, o que agrava o problema de abastecimento. 
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A escassez de alimentos e a crise econômica no contexto atual da Venezuela têm aumentado a violência na região. Em 2017, o país registrou os índices de homicídio mais altos da América Latina. Um levantamento do Observatório Venezuelano de Violência (OVV) mostra que, no ano passado, 26.616 pessoas foram assassinadas. Segundo o relatório, as causas das 73 mortes por dia foram a queda vertiginosa da qualidade de vida dos venezuelanos, a dissolução sistemática do estado de direito no país e o aumento da violência e da repressão por parte do Estado. 

A crise na política
A Venezuela se encontra politicamente dividida. De um lado, estão os que defendem as políticas socialistas do ex-presidente Hugo Chávez. Do outro, os opositores, que esperam há 18 anos o fim do poder de um mesmo partido. Oswaldo Dehon relaciona a crise ao grau de desconfiança em um “ambiente profundamente ideológico”. Protestos de rua afloram questões políticas de uma democracia considerada por alguns como questionável. 

As crises econômica e política se unem quando uma dá forças para a outra. Enquanto o governo prioriza a manutenção do poder, a oposição se faz valer da recessão para obter ganhos políticos. Maduro acusa os líderes oposicionistas de cooptar empresários para reter os seus produtos e agravar o desabastecimento dos supermercados.

Fatores internacionais também influenciam na crise. A pressão vinda do capitalismo, por meio dos Estados Unidos, acirra tensões contra o chavismo. Na opinião de Dehon, é a desconfiança nos demais regimes que não o socialista que provoca o isolamento da Venezuela, prejudicial em épocas de crise. “Seria mais importante uma presença dos atores internacionais dentro do debate político”, opina. 
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Está prevista uma eleição presidencial para a segunda quinzena de maio – anteriormente, ela ocorreria no dia 22 de abril.  O presidente Maduro apresenta-se a um segundo mandato para permanecer no poder até 2025, e tem como opositores Henri Falcón, um dissidente do ‘chavismo’, e quatro outros candidatos. Para Oswaldo, a eleição não se configura como uma solução para a crise. “Quantas eleições a Venezuela já passou e não se resolveu?”, questiona. 

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