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Temer diz que Brasil manterá controle da estratégica Embraer

19:30 | Dez. 22, 2017
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A fusão entre a Boeing e a Embraer confrontaria os interesses estratégicos do Estado brasileiro, decidido a conservar seu poder de veto em uma empresa que fabrica tanto aeronaves civis quanto militares.

A advertência foi feita pelo presidente Michel Temer que, apesar de ser considerado amigo dos mercados, afirmou nesta sexta-feira (22), durante encontro com jornalistas em Brasília:

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"É bem-vinda a injeção de capital estrangeiro, (mas) não se examina a questão de transferência" do controle acionário.

"Toda parceria é bem-vinda. O que não está em cogitação é a transferência do controle", insistiu Temer, após o anúncio feito na véspera de que Boeing e Embraer negociavam uma aliança.

Segundo o Wall Street Journal, se trataria de uma fusão, mediante a absorção acionária da Embraer, terceira fabricante mundial de aeronaves, por parte da gigante americana.

Em um comunicado conjunto, os dois grupos explicaram, no entanto, que "não há garantia de que estas discussões concluam em alguma transação", visto que esta dependerá, antes de tudo, da aprovação do governo brasileiro e de entidades reguladoras.

Surgida como estatal em 1969, a Embraer foi privatizada em 1994, mas o Estado brasileiro preservou uma 'golden share', que lhe permite intervir em questões estratégicas.

O grupo chegou a ser líder no segmento de aeronaves até 150 lugares. Entrega anualmente 200 aviões, entre jatos comerciais e executivos.
Possui, ainda, um setor de Defesa, com modelos como o A-29 Super Tucano para missões de ataque rápido e treinamento avançado e o KC-390 de transporte de tropas, que deve chegar ao mercado em 2018.

"A transferência do seu controle acionário desserve os interesses da soberania nacional", reforçou o ministro da Defesa, Raul Jungmann, que estava no encontro de Temer com a imprensa.

O Sindicato dos Metalúrgicos "repudiou" a eventual fusão.

"A Embraer é estratégica para o país e não pode ser vendida para capital estrangeiro. Exigimos que o governo federal vete a venda e, enfim, reestatize a Embraer como forma de preservar e retomar este patrimônio nacional", indicou um comunicado do sindicato.

As negociações seriam uma resposta à recente aproximação entre a europeia Airbus, concorrente direta da Boeing, e a canadense Bombardier, que disputa segmentos de mercado similares aos da Embraer.

A Embraer, que prevê um 2018 difícil, "precisa de um guarda-chuva financeiro, para se proteger de novos concorrentes", entre eles da China e do Japão, no segmento de aeronaves de 120 a 150 passageiros, afirmou o analista de assuntos militares Nelson Düring, diretor do portal DefesaNet.

O especialista desconsiderou o impacto de uma fusão em questões de soberania.
"O eixo de gravidade da Embraer já está nos Estados Unidos", afirma, ressaltando que tanto a fabricação de aviões executivos como militares (Supertucanos) tem linhas de produção tanto no Brasil quanto em Miami.

A Embraer sustenta, ao contrário, que seu eixo de ação continua no Brasil, visto que a totalidade de suas aeronaves comerciais - que representam 60% de seu faturamento - está em São José dos Campos, interior de São Paulo.

A Embraer é uma empresa privada e tem entre seus principais acionistas fundos de pensão estrangeiros, mas no Brasil continua sendo vista como uma empresa nacional emblemática e o tema pode se tornar um assunto explosivo para o governo em 2018, ano eleitoral.

Em 2006, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) foi reeleito em um cenário que se apresentava negativo para ele, após as denúncias de corrupção do 'Mensalão', mas conseguiu colocar seu adversário, Gerando Alckmin (PSDB-SP) na defensiva, ao acusá-lo de querer privatizar a Petrobras, outra empresa-símbolo do país.

Mas as advertências de Temer e Jungmann não desanimaram os investidores, visto que as ações da Embraer, que avançaram na quinta-feira 25,5%, recuaram apenas 1,44% no pregão desta sexta na Bolsa de São Paulo.

AFP

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