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Os 'Ernesticos' de Santa Clara levam adiante o legado do Che

14:20 | Out. 04, 2017
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Santa Clara, no centro de Cuba, é considerada a cidade de "Che" Guevara, mas também é a dos "Ernesticos", jovens que levam o nome do guerrilheiro e a pesada responsabilidade de perpetuar seu legado.

A cada ano na maternidade Mariana Grajales desta "heroica cidade", essa homenagem é atribuída ao primeiro menino nascido em 14 de junho, dia do nascimento de Ernesto Guevara em 1928. Se os pais estão de acordo, um dos dois nomes do recém-nascido será Ernesto.

Desde 1992, foram batizados 24 "Ernesticos", sem que até agora essa honraria tenha sido refutada. Em Santa Clara, onde Guevara travou uma batalha decisiva em 1958, não se brinca com o culto ao guerrilheiro argentino-cubano.

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"O Che é emblemático aqui, está em todos e nos convoca", assegura Noris Cárdenas, diretora do Memorial Ernesto "Che" Guevara, que desde 1997 guarda os restos do guerrilheiro, executado há 50 anos na selva boliviana. O local será o centro das cerimônias comemorativas do próximo domingo.

A cada manhã, estudantes cubanos fazem um juramento: "Seremos como o Che". Mas os "Ernesticos" de Santa Clara assumem um compromisso que vai muito além da simples profissão de fé.

Lázaro Ernesto tem apenas 12 anos, mas assegura à AFP ter se imposto uma estrita linha de conduta desde que tomou consciência do legado do Che.

"Estudar, me comportar bem, ser honesto, ser bom com meus amigos e minha família", enumera Lázaro, sob o olhar vigilante de sua mãe, Mayelin Morán, uma dona de casa de 40 anos.

Muito tímido, este menino, fã do atacante Lionel Messi - natural de Rosário (Argentina), assim como o Che - diz se sentir "orgulhoso de se chamar como" o guerrilheiro, mas admite travar todo 14 de junho, quando seus colegas de escola o cumprimentam em seu aniversário.

Daniel Ernesto assume a fama com maior serenidade. Aos 24 anos, é o segundo dos "Ernesticos" e o mais velho dos que vivem em Santa Clara.

Técnico em informática no hospital pediátrico da cidade, este fervoroso colecionador de camisetas com a imagem do Che, acostumou-se a ser reconhecido na publicação de artigos e na difusão de reportagens. Mas admite que "tentar estar à altura" do Che às vezes "pode ser um peso".

Os jovens são regularmente convocados para cerimônias oficiais na província e se reúnem todo 14 de junho para homenagear seu guerrilheiro favorito.

"Tem a ver com marcar o legado do Che no tempo, mas sobretudo com contribuir para a formação das novas gerações a partir dos valores que o Che deixou em nossa história", explica à AFP Felicia Lara, da Universidade Pedagógica de Santa Clara.

Atualmente encarregada do programa "Ernesticos", coordenado pela universidade, ela insiste na importância que tem para os jovens incorporar as principais qualidades do guerrilheiro, como a honestidade e o humanismo, embora explique que não se trata de exigir-lhes o impossível.

"São herdeiros, meninos da cidade que se distinguem por levar o nome de Ernesto, e (...) por suas qualidades morais, éticas, mas sem exigir que sejam mais do que simplesmente um menino, um adolescente ou um jovem", adverte Lara, destacando, com orgulho, que "nunca fomos decepcionados por um Ernestico".

Por definição, todos os "Ernesticos" são meninos, mas Lara lembra os apuros que viveu há 17 anos, ao descobrir que um recém-nascido tinha uma irmã gêmea. O dilema foi resolvido quando os pais aceitaram nomeá-la Celia, em homenagem à revolucionária Celia Sánchez, braço direito de Fidel Castro, falecida em 1980.

 

AFP

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