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Venezuelanos exigem mais comida e redução do custo de vida à Constituinte

15:17 | Ago. 24, 2017
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A aposentada venezuelana Miriam de Rengifo, de 69 anos, busca, regularmente, a cesta de alimentação que o governo vende a baixos preços. Chavista, ela aplaude esse programa, mas admite que ele não lhe entrega o suficiente para sobreviver.

O pacote inclui atum enlatado, arroz, massa, feijão, farinha, azeite, leite, açúcar, entre outros. Mas só chega a cada um mês e meio. Miriam tem que fazer malabarismos para comprar o restante de alimentos, medicamentos e produtos de higiene.
O presidente Nicolás Maduro prometeu aos venezuelanos que a Assembleia Constituinte, que rege o país há duas semanas, vai resolver a situação.

Quando fazia um discurso contra a ameaça do presidente americano, Donald Trump, de usar a "opção militar" na Venezuela, Maduro foi interrompido por gritos da população.

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"Baixem os preços!", pedia o público. "Vamos conseguir", respondeu o mandatário. "Que a Constituinte ouça isso, essa é a prioridade, isso, sim, que ninguém se desespere".

A Constituinte eleita entre denúncias de fraude e rechaço internacional tem entre suas tarefas conceber um sistema econômico "pós-petroleiro".

A Venezuela vive uma grave crise econômica por causa da queda dos preços do petróleo, fonte de 96% das suas divisas. Por isso, o governo, que desde 2003 monopoliza os dólares com controle férreo dos câmbios, reduziu suas importações e as atribuições do setor privado.

A escassez de alimentos, remédios e outros bens básicos é crônica. Para piorar, muitos empresários precisam importar matérias-primas e produtos em dólares do volátil mercado negro, o que dispara a inflação, projetada pelo FMI em 720% para esse ano.

Essa instabilidade gera especulação. A cesta subsidiada, chamada CLAP, custou 10 mil bolívares a Miriam (cerca de quatro dólares, na taxa oficial), enquanto um quilo de arroz em um mercado no abastado bairro de Chacao, em Caracas, pode chegar a 15 mil.
O custo de vida e o desabastecimento, mais que a insegurança e a crise política, são a maior dor de cabeça dos venezuelanos.

Gladys Villegas trabalha na entrega do CLAP no bairro popular de El Valle, em Caracas, e diz que se prepara para "lutar a grande batalha de reduzir os preços" com a Constituinte.

"Vai ser implementada uma lei para todos que especularem serem presos", afirmou Villegas, ainda que até agora Constituinte não tenha anunciado suas medidas neste tema.

O economista Asdrúbal Oliveros considera que, de fato, "o controle de preços voltará". Ele tinha sido um pouco relaxado por uma leve redução da escassez.

"Será um déjà-vu do que já vivemos, mas pior". Opositores temem que, com a Constituinte, se instaure um Estado comunista e encerre a propriedade privada, o que foi negado por Maduro.

Francisco Cabezas, um guarda de segurança de 46 anos, concorda. Ele recebe a CLAP, mas passa duas horas na fila para ver o que consegue em um supermercado e garante que os controladores vão provocar o ressurgimento do mercado negro. "E não se alcança o salário mínimo".

O autônomo Centro de Documentação e Análise Social estimou que a cesta básica de alimentação vale 1,4 milhões de bolívares (470 dólares), quase seis vezes mais que o salário mínimo integral.

A AFP acompanhou a entrega da CLAP de Gladys, que chega a 96 famílias. As pessoas vão cedo com seus carrinhos, entregam a identificação e esperam para receber sua cesta.

Alguns não querem falar com medo de deixar de receber o benefício, outro para nãos serem julgados por colegas de trabalho. Mas todos concordam que é uma ajuda e pedem para ser distribuída a cada 15 dias.

Maduro pediu que a CLAP e o resto dos programas sociais criados desde o governo de seu antecessor e padrinho político, Hugo Chávez, estejam na nova Constituição.

O programa espera beneficiar seis milhões de famílias, praticamente toda a população do país, explicou seu diretor, Freddy Bernal, em janeiro. Oliveros estima que a CLAP chegue a apenas 30% da população.

Miriam está feliz. Nessa entrega, tinha pão, que também é um bem escasso. Agora, ela volta às ruas. Já não toma há 15 dias seu remédio para a tireoide.
"Me disseram que em frente a Miraflores (o palácio presidencial), há uma farmácia. Vou para lá".

AFP

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