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Simone Veil, sobrevivente do Holocausto e incansável militante da Europa

10:41 | Jun. 30, 2017
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A Europa foi uma das principais causas da vida política de Simone Veil, uma combatente pela paz no continente alimentada por sua história de deportada e por seu trabalho pela memória do Holocausto.

"No final da guerra, nós (ela e seu marido) estávamos convencidos de que era necessário uma reconciliação completa com os alemães e que, se não fizéssemos isso, haveria uma terceira guerra mundial", confidenciou Simone Veil em 2008, em uma entrevista na televisão.

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Em 1946, quando conheceu Antoine Veil, Simone Jacob acabava de voltar da deportação. Nos campos de concentração, ela perdeu pai, mãe e irmão.

Essa tragédia e sua determinação em superá-la fizeram que Simone, mais de 30 anos depois, reforçasse seu compromisso europeu e aceitasse a proposta do presidente Valéry Giscard d'Estaing para liderar a lista da Union pour la

Démocratie Française (UDF, formada por liberais e centristas) para as primeiras eleições com sufrágio universal do Parlamento Europeu.

"Aceitei a proposta, levando em consideração o que eu representava e percebendo na minha candidatura um símbolo da reunificação franco-alemã e a melhor maneira de virar definitivamente a página das guerras mundiais", relatou em sua autobiografia "Une vie" ("Uma vida", em tradução livre).

[FOTO2]Em junho de 1979, sua lista terminou em primeiro, à frente do Partido Socialista e mais de dez pontos acima da lista gaullista. Simone Veil foi designada candidata do grupo liberal para a presidência do Parlamento.

Foi escolhida, na terceira rodada de votação, na primeira sessão dessa Assembleia democraticamente eleita.

"A situação de paz que prevalece na Europa (desde 1945) é um bem excepcional, mas nenhum de nós deve subestimar sua fragilidade", observou, em seu primeiro discurso como presidente.

Ao final de seu mandato, em janeiro de 1982, não voltou a se candidatar, mas não abandonou o combate europeu. Durante 13 anos, ocupou diversas funções, como a Presidência da comissão jurídica do Parlamento de Estrasburgo.

"O fato de ter trabalhado pela Europa me reconciliou com o século XX", assegurou a pioneira, que nunca escondeu as marcas profundas da deportação.

"Sessenta anos depois, ainda sou assombrada pelas imagens, cheiros, gritos, humilhação, espancamentos e o céu de chumbo com a fumaça dos crematórios", desabafou ela em uma entrevista transmitida pela televisão por ocasião do 60º aniversário da libertação dos campos de concentração nazistas.

Em 2000, após anos de engajamento político, Simone Veil foi designada pelo então primeiro-ministro, Lionel Jospin, para presidir a recém-criada Fundação para a Memória do Holocausto.

"Como todos os meus colegas, considero um dever explicar às jovens gerações, à opinião pública e às autoridades políticas como seis milhões de mulheres e homens, incluindo um milhão e meio de crianças, morreram apenas porque nasceram judeus", declarou na Assembleia Geral da ONU em 2007.

Presa pela Gestapo em Nice, em 30 de março de 1944, pouco depois de ter terminado o Ensino Médio, foi deportada com sua irmã Milou (Madeleine) e sua mãe, Yvonne Jacob, primeiro para Drancy e, depois, para Auschwitz.
Ela soube depois que sua outra irmã, Denise, havia sido deportada como resistente para Ravensbrück.

Seu pai e seu irmão Jean desapareceram em meio à tormenta na Lituânia, em circunstâncias nunca esclarecidas.

Jovens e robustas, Simone Veil e sua irmã Milou devem sua sobrevivência ao fato de terem sido usadas na fábrica da Siemens em Bobrek, um subcampo do complexo de Auschwitz-Birkenau.

Diante do avanço das tropas soviéticas em janeiro de 1945, foram transferidas para Bergen-Belsen. Foi nesse local que Yvonne Jacob, exausta e sofrendo de tifo, morreu em 15 de março, um mês antes da libertação do campo pelos ingleses.

"Para os ex-prisioneiros que somos, não há um dia sequer em que não pensemos no Holocausto", confidenciou Simone Veil.

AFP

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