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'Mulheres de calças' se unem nos EUA dividido por Trump

10:12 | Mar. 07, 2017
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Com quase quatro milhões de membros, o grupo Pantsuit Nation transformou-se num espaço para as mulheres progressistas americanas compartilharem histórias pessoais em um país dividido pela administração do presidente Donald Trump.

O grupo no Facebook surgiu nos últimos dias da campanha eleitoral de 2016 e serviu para unir as partidárias de Hillary Clinton, ansiosas para animar sua candidata.

"Como seguidoras da secretária Hillary Clinton, como liberais e democratas, é muito fácil sentir-se perdida e sozinha", afirma Libby Chamberlain, fundadora do grupo, à AFP.

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"Muitos membros do nosso grupo vivem em comunidades ou pertencem a famílias que pensam diferente... não podem bater na porta do seu vizinho para reclamar sobre o que acontece no país, mas podem vir a este espaço on-line", explica.

Esta mulher de 33 anos administra a página do Pantsuit Nation do quarto de hóspedes de sua casa no pequeno Brooklin (Maine), vila costeira de 800 habitantes conhecida pela fabricação de barcos.

Ela abriu o grupo em 20 de outubro, enquanto trabalhava a tempo parcial como professora do ensino médio na região.

Sua ideia era encorajar as eleitoras de Hillary a usar calças - a roupa favorita da ex-secretária de Estado - antes da eleição de 8 de novembro.

Em apenas um dia, 24.000 pessoas se juntaram ao grupo. Em 5 de novembro, contava com milhões e no dia da eleição 3,1 milhões de pessoas.

As fotos de mulheres exuberantes vestidas com calças nas assembleias de voto logo deram lugar a posts expressando raiva e desespero pelo triunfo de Trump.

O Pantsuit Nation passou a concentrar seu conteúdo na polêmica agenda de Trump, descrevendo os efeitos de suas medidas, das restrições à migração, passando pelas reformas no sistema de saúde.

"Há neste país uma avidez por relatos pessoais que mostrem o impacto humano da sua política, a nível nacional, estadual ou local", acredita Chamberlain.

Darla Barar, uma publicitária de 30 anos de Austin (Texas), escreveu na página do Pantsuit Nation sobre seu aborto, expressando sua oposição a uma medida do Congresso que visa estabelecer que a vida humana começa no momento da concepção.

"Realmente nos impactou por causa de como foi redigida, representa uma proibição dupla tanto ao aborto quanto à fertilização in vitro", explica Barar. "É como ser atingida duas vezes".

Esta mulher estava grávida de gêmeas, concebidas in vitro, quando um exame mostrou que uma de suas filhas tinha graves problemas, incluindo massa cerebral fora do crânio.

Se o bebê que ela e seu marido Peter já chamavam de Catherine sobrevivesse, teria deficiências graves, correndo o risco de uma vida em estado vegetativo. Além disso, o crescimento do saco amniótico de Catherine estava obstruindo o de sua irmã gêmea Olivia, colocando as doas em perigo.

Barar decidiu abortar Catherine para dar à Olivia a chance de nascer saudável. "Em 22 de junho, às 15:30, o médico nos permitiu ouvir Cate pela última vez. E então, guiado por ultrassom, o médico injetou a medicação no coração de Catherine. Naquele momento choramos porque Olivia tinha sobrevivido e choramos lamentando a perda de Cate", escreveu.

"A nossa é a história do aborto em etapa avançada", acrescentou. Olivia nasceu bem e tem cinco meses de vida. Chamberlain se ocupa agora de registrar Pantsuit Nation como um grupo sem fins lucrativos, para dar uma estrutura que lhe permita crescer além do Facebook.

Ela espera contratar três ou quatro funcionários para substituir alguns dos 65 voluntários, que além de manter a página no Facebook e em outras plataformas apoiam 20 grupos locais da Pantsuit Nation criados após as eleições.

Chamberlain também prepara um livro, a ser publicado em maio, e que já lhe valeu muitas críticas por supostamente vender as histórias de outras pessoas.

Trata-se de um momento crucial para Pantsuit Nation, pois assentar as bases de uma organização pode ser um enorme desafio, opina Linda Fowler, professora no Dartmouth College.

 

AFP

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