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Jogos dão chance a trégua no Rio

13:49 | Ago. 01, 2016
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Militares nas ruas do Rio: segurança para uns, mau sinal para outrosMaior esquema de policiamento da história do Brasil pode representar pausa na luta diária dos cariocas contra violência, mas expõe falência da segurança pública. Sensação é de que, passado o evento, dura rotina voltará. Por todo o Aeroporto Internacional do Galeão, nas proximidades de estações de metrô, do lado de fora dos locais de competições e mesmo pelas esquinas: soldados camuflados prestam guarda por todo o Rio de Janeiro, com os rifles apontados para baixo. A cidade já vive em plenitude a operação de segurança olímpica, a maior que o país já viu: 21 mil soldados foram mobilizados para auxiliar a polícia na complexa questão da segurança na metrópole, oferecendo quase uma trégua na luta diária do carioca contra a violência. Segundo o secretário estadual de Segurança, José Mariano Beltrame, entre 4 e 27 de julho houve uma queda de 16% no número de furtos e 27% dos assaltos, em relação a 2015, enquanto a cidade se prepara para receber meio milhão de visitantes estrangeiros. Por trás dessa demonstração de presença física, porém, o emprego das Forças Armadas revela a inadequação da polícia carioca, numa cidade em que a segurança pública é normalmente precária. E deixa a sensação aos moradores de que, passados os Jogos, tudo voltará ao normal. O estado do Rio teve em média 16 mortes violentas por dia entre janeiro e junho deste ano, um total de mais de 3 mil, segundo dados do Instituto de Segurança Pública (ISP). O crime que mais cresce é o roubo de rua: a média é de 13 por hora no estado. "A segurança pública está em processo de falência", afirma Newton Oliveira, especialista em segurança e professor de direito na Universidade Presbiteriana Mackenzie no Rio, que atuou como consultor no planejamento de segurança nos Jogos Pan-Americanos de 2007. O número de militares na cidade-sede foi acrescido de 3 mil, a pedido do governador interino Francisco Dornelles. Ele declarou que as finanças públicas estão em "estado de calamidade", e que sem o apoio do governo federal o Rio não conseguirá cumprir suas obrigações referentes ao evento, incluindo serviços-chave como a segurança, em iminente perigo de colapso. Dornelles pediu, ainda, que os soldados permaneçam na cidade após os Jogos. "A presença das Forças Armadas na segurança das Olimpíadas é indispensável. No entanto, a forma como está sendo usada como uma espécie de 'remendo universal' para cobrir os erros gritantes no planejamento da segurança olímpica pode resultar um uso ineficaz", alerta Oliveira. Preocupação é constante, diz governo Ao mesmo tempo, os recursos públicos foram drenados ainda mais para hospedar os Jogos, e a insatisfação pública com o evento emerge como fonte adicional de apreensão. A chegada da tocha olímpica ao estado do Rio, na última quarta-feira (26/07), foi recebida com protestos: a chama chegou a ser apagada o que supostamente voltou a se repetir mais tarde na cidade serrana de Petrópolis. A tocha está programada para chegar à cidade do Rio de Janeiro nesta quinta-feira, antecipando a cerimônia de abertura de 5 de agosto. Falando à imprensa após um encontro com os chefes de segurança no Centro Integrado de Comando e Controle (CICC), o secretário estadual de Segurança relatou que a polícia estava informada sobre a existência de movimentos sociais exigindo que a chama olímpica fosse apagada ao chegar à metrópole. "Nossa interpretação é que haverá protestos", disse Beltrame. "Temos vários lugares com problemas potenciais. O que estamos fazendo aqui desde 2007 é procurar antecipar, fechar todos esses tipos de lacunas; porque o Rio de Janeiro é, sem dúvida, difícil, como qualquer cidade." Para o secretário, a preocupação com a segurança pública é constante: "Segurança é algo que sempre temos que estar tentando antecipar. Acho que ninguém vai jamais me ver relaxado em relação à segurança, independente do evento. A preocupação sempre existe." Clima de apreensão E, para o visitante estrangeiro, ver extensa patrulha nas ruas, especialmente militar, não necessariamente transmite a sensação de segurança. Alguns voluntários que trabalham para a Rio 2016 revelaram-se apreensivos em relação a sua segurança pessoal na cidade. Em junho, a jogadora de basquete e velejadora australiana Liesl Tesch foi vítima de um assalto a mão armada no bairro do Flamengo, na zona sul. Na sexta-feira o governo brasileiro dispensou a firma de segurança privada encarregada de supervisionar os locais olímpicos, por esta não ter conseguido apresentar os 3.400 empregados necessários à função, e a substituiu por funcionários da polícia federal e estadual. Na Vila Olímpica, a segurança foi intensificada depois que foram roubados um computador e camisetas da delegação australiana, durante um alarme de incêndio. No entanto, alguns se sentem, até o momento, tranquilizados com a presença dos militares como o tcheco Jiri Prskavec, de 23 anos, que competirá em canoagem slalom: "Você vê o Exército por toda parte, então não há por que ter medo. Eles estão até guardando a nossa casa do lado de fora da Vila Olímpica. Eu me sinto muito seguro." Autor: Donna Bowater, do Rio de Janeiro (av)

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