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Elie Wiesel, o homem que confrontou a Romênia com seu passado nazista

O trabalho de Weisel visava preservar a memória do Holocausto com o objetivo de que esta tragédia não voltasse a ocorrer. Com o seu esforço, foi criado na Romênia o Dia Internacional do Holocausto
10:32 | Jul. 03, 2016
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Os judeus da Romênia choravam neste domingo a morte do prêmio Nobel da Paz Elie Wiesel, sobrevivente do Holocausto proveniente deste país que trabalhou para que Bucareste reconhecesse sua responsabilidade neste obscuro capítulo da História. "Lamentamos muitíssimo a morte de Elie Wiesel, um homem que nos legou o dever de preservar a memória do Holocausto e de vigiar para que esta tragédia não volte a ocorrer", declarou à AFP o presidente da Federação de Comunidades judaicas da Romênia, Aurel Vainer. "Foi graças ao seu trabalho que a Romênia proclamou em 2004 um Dia Internacional do Holocausto, marcado todos os anos no dia 9 de outubro", data em que teve início a deportação de judeus comandada pelo marechal pró-nazista romeno Ion Antonescu em 1941 na região de Transdniestria (controlada na época pela Romênia). Em 2003, após a onda de indignação internacional provocada por declarações do ex-presidente romeno Ion Iliescu relativizando o Holocausto, Bucareste decidiu colocar em andamento uma comissão internacional de especialistas para esclarecer o papel (negado até o momento) da Romênia no extermínio de judeus durante o nazismo. Elie Wiesel seria nomeado presidente desta comissão. Segundo o relatório resultante publicado em 2004 e validado por Bucareste, entre 280.000 e 380.000 judeus romenos e ucranianos morreram sob o regime de Antonescu entre 1940 e 1944 em territórios controlados pela Romênia. "Elise Wiesel se envolveu muito nesta comissão e trabalhou para que fosse concluída com um consenso sobre muitos pontos", explicou Vainer. "Eu nasci na Romênia e havia lido tudo o que envolve o Holocausto. No entanto, ignorava o ocorrido em Transnistria. Não sabia que havia acontecido tanta brutalidade nascida exclusivamente do antissemitismo", confessou Wiesel em 2004, após a publicação do relatório. Nascido em 30 de setembro de 1928 em Sighet, Romênia (Transilvânia naquela época), em uma família modesta, Wiesel foi deportado aos 15 anos a Auschwitz-Birkenau, na Polônia, ocupada pela Alemanha, onde sua mãe e sua irmã mais nova foram assassinadas. Seu pai morreu no campo de Buchenwald (Alemanha), para onde foram transferidos. Em seu primeiro romance, "A Noite" (1958), Wiesel relataria suas memórias de menino deportado. "É uma grande perda não apenas para a comunidade judaica, mas para toda a humanidade", afirmou à AFP Liviu Beris, outro sobrevivente do Holocausto que trabalhou com Wiesel na comissão de especialistas. Segundo Beris, Wiesel, membro da Academia romena desde 1996, jamais esqueceu sua cidade natal ou as pessoas que marcaram sua infância. Em Sighet, a casa na qual nasceu foi convertida em 2002 em um local de memória do Holocausto. O prêmio Nobel da Paz visitou a Romênia pela última vez naquele ano, quando foi condecorado por Iliescu por seu trabalho de "promoção da paz". Dois anos mais tarde, devolveu a medalha ao ex-chefe de Estado denunciando a decisão deste último de condecorar também dois "antissemitas e negacionistas reconhecidos", o poeta e líder da extrema-direita Corneliu Vadim Tudor e o historiador Gheorghe Buzatu. "Com a morte de Elie Wiesel perdemos uma das vozes mais fortes contra o esquecimento e o negacionismo", afirmou o presidente romeno, Klaus Iohannis, em um comunicado. AFP

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