Participamos do

Alemanha x França: duelo inédito entre velhos rivais

Partida em Marselha, para alguns a final antecipada, é o primeiro encontro entre as duas seleções numa Eurocopa
05:54 | Jul. 07, 2016
Autor O POVO
Foto do autor
O POVO Autor
Ver perfil do autor
Tipo Notícia

Thomas Müller e Blaise Matuidi em ação durante as quartas de final da Copa do Mundo de 2014, no Brasil

 
Revanche, tabu, lembranças aterrorizantes e, para alguns, a final antecipada da Eurocopa. Praticamente dois anos após o duelo nas quartas de final da Copa do Mundo de 2014, França e Alemanha decidem uma das vagas para a final europeia, nesta quinta-feira (07/07), em Marselha.

São 85 anos de rivalidade, 27 partidas e inúmeras histórias entre os dois países vizinhos potências europeias, inimigas de guerras e cofundadoras da comunidade comercial que resultaria na criação da União Europeia (UE). Mas ainda há espaço para ineditismo: Alemanha e França nunca se enfrentam numa Eurocopa.

Entre estas inúmeras histórias, a mais recente e provavelmente a mais marcante será vividamente relembrada em Marselha. Praticamente todos os atletas de ambos os elencos convocados para esta Eurocopa estavam presentes no Stade de France, em 13 de novembro de 2015 a data do pior ataque terrorista na França pós-Segunda Guerra.

Enquanto a Équipe Tricolore vencia a Nationalelf por 2 a 0 (gols de Olivier Giroud e André-Pierre Gignac), homens-bomba se explodiram do lado de fora do estádio e terroristas executaram uma carnificina no centro de Paris. Cortado da Eurocopa devido a uma lesão, o volante Lassana Diara atuou como titular naquele amistoso sua prima foi uma das 130 vítimas dos atentados.

Símbolo de uma França unida, os comandados do treinador Didier Deschamps podem dar uma alegria momentânea à machucada sociedade francesa, conquistando o título da Eurocopa 2016. Para tal, a Équipe Tricolore precisa quebrar um tabu histórico e vingar a eliminação do Mundial do Brasil.

"Nós não esquecemos aquela derrota", garantiu o volante Moussa Sissoko. A euforia tomou conta do país, após a goleada por 5 a 2 frente à Islândia nas quartas de final. O diário francês Le Parisien citou quatro razões para uma classificação da França: o "ataque voraz" com o tridente Antoine Griezmann (quatro gols), Olivier Giroud e Dimitri Payet (três gols, cada); a tática "mais maleável" de Deschamps; uma seleção francesa "mais confiável do que nunca" e "uma dizimada Alemanha".

O treinador alemão Joachim Löw confirmou a escalação de Bastian Schweinsteiger. O volante participou do treinamento que antecede à partida sem sentir dores. "Esclareci as minhas dúvidas. Já tenho a escalação na minha cabeça", garantiu Löw. Com três desfalques confirmados (Sami Khedira, Mario Gómez e Mats Hummels), o treinador alemão enfrentou problemas para definir seus substitutos e o esquema tático.

E a Alemanha tem um belo retrospecto contra anfitriões em semifinais de Eurocopas:
- 1972: 2 a 1 contra a Bélgica
- 1976: 4 a 2 contra a Iugoslávia, após prorrogação
- 1992: 3 a 2 contra a Suécia
- 1996: 1 a 1 contra a Inglaterra - vitória nos pênaltis (6x5)

1958: ano da última vitória oficial francesa

Se, no retrospecto geral, a Équipe Tricolore é superior são 12 vitórias, 9 derrotas e 6 empates, com 43 gols marcados e 43 sofridos , a Alemanha leva uma pequena vantagem em jogos oficiais: duas vitórias, uma derrota e um empate. A única vitória da França foi na Copa do Mundo de 1958, na Suécia, quando o esquadrão francês comandado por Just Fontaine maior artilheiro numa edição de Mundial atropelou a então Alemanha Ocidental por 6 a 3.

Em Copa do Mundo, foram três confrontos até agora, sendo o mais emblemático a semifinal do Mundial da Espanha, em 1982 uma das partidas mais memoráveis da história das Copas: "O Suspense de Sevilha". Naquele 8 de julho, no estádio Ramón Sánchez Pizjuán, teve de tudo. Gol de Michel Platini, gol de bicicleta na prorrogação, disputa por pênaltis e um dos maiores suspenses esportivos que o mundo do futebol já viu.

A voadora de Schumacher em Battiston

A seleção da França, capitaneada pelo agora ex-presidente da Uefa, era um equipe bastante técnica, que tinha com Alain Giresse e Jean Tigana um dos melhores meio-campos dos anos 80 em 1984 seriam campeões da Eurocopa e, em 1986, eliminariam o Brasil do Mundial do México. Mas o jogo leve dos franceses sofreu com o jogo bruto, de pura força física, dos alemães. Aos 17 minutos, Pierre Littbarski abriu o marcador para a Nationalelf, mas Platini empatou, de pênalti, ainda no primeiro tempo.

Mas foi logo no início do segundo tempo que público presente prendeu e que Patrick Battiston perdeu a respiração. O meia, que havia entrado momentos antes, recebeu um lançamento em profundidade de Platini e teve uma chance perfeita para virar a partida. Foi então que o goleiro alemão Toni Schumacher, num ato de total destempero, voou em cima do atleta francês e o nocauteou com o quadril.

O choque de Schumacher na cabeça do rival foi tão forte que Battiston caiu desacordado, sofreu uma concussão, lesionou a coluna vertebral e perdeu três dentes. Os paramédicos tiveram que administrar oxigênio ainda no campo, e Battiston chegou a entrar em coma no hospital, horas depois. Platini chegou a dizer que achara que Battiston teria morrido, porque "ele estava sem pulso e pálido".


Rivalidade à flor da pele

O lance, que entrou para a história das Copas, ganhou mais notoriedade por dois outros detalhes: o erro do árbitro holandês Charles Cover, que deu tiro de meta, em vez de pênalti seguido da expulsão de Schumacher, e a declaração estapafúrdia do goleiro alemão após a partida: "Se foram só os dentes, eu pago as coroas".

Nos dias seguintes, a imprensa francesa publicou manchetes do calibre de "Atentado a Battiston", "Toni Schumacher, profissão: desumano" e caíram as palavras "Gestapo", "Schumacher SS" e "Tanque nazista".

A crise tomou tais proporções que os então líderes dos dois países, François Mitterrand e Helmut Schmidt, se viram na obrigação de emitir uma declaração de imprensa conjunta, pois o lance havia trazido de volta o ressentimento antigermânico que acreditava-se já superado.

Dias depois, os dois jogadores compareceram a uma coletiva de imprensa para uma reaproximação encenada, mas que de fato nunca se concretizou. Em 2013, quando França e Alemanha comemoraram os 50 anos do Tratado de Versalhes, o Ministério do Exterior da Alemanha propôs à Federação Francesa de Futebol um encontro entre Schumacher e Battiston no amistoso entre as duas seleções, em Paris. Dois representantes da federação francesa ficaram tão indignados que se levantaram da mesa, e os ânimos só foram acalmados quando o lado alemão foi demovido da ideia.

E o jogo em Sevilha? Terminou empatado em 1 a 1, nos 90 minutos. Na prorrogação, a França ampliou para 3 a 1, com Marius Tresor e Alain Giresse, mas Karl-Heinz Rummenige e Klaus Fischer, de bicicleta, no segundo tempo da prorrogação, levaram a decisão para a disputa por pênaltis: nela, deu Alemanha por 5 a 4.

Os quatro jogos oficiais entre França e Alemanha:

Copa do Mundo 1958, na Suécia
Disputa pelo 3º lugar 28.06.1958
França 6x3 Alemanha

Copa do Mundo 1982, na Espanha
Semifinal 08.07.1982
Alemanha 1x1 França no tempo normal Alemanha 3x3 França, após a prorrogação
Nos pênaltis: Alemanha 5x4 França

Copa do Mundo 1986, no México
Quartas de final 25.06.1986
França 0x2 Alemanha

Copa do Mundo 2014, no Brasil
Quartas de final 04.07.2014
França 0x1 Alemanha


Prováveis escalações:

França: Hugo Lloris; Bacary Sagna, Adil Rami, Laurent Koscielny e Patrice Evra; Blaise Matuidi e Paul Pogba; Moussa Sissoko, Dimitri Payet e Antoine Griezmann; Olivier Giroud.

Alemanha: Manuel Neuer; Joshua Kimmich, Jérôme Boateng, Benedikt Höwedes e Jonas Hector; Bastian Schweinsteiger e Toni Kroos; Mesut Özil, Julian Draxler e Thomas Müller; Mario Götze.

Local: Stade Vélodrome, em Marselha.
Horário: 16h (horário de Brasília).
Arbitragem: Nicola Rizzoli (Hungria).

Autor: Philip Verminnen

Dúvidas, Críticas e Sugestões? Fale com a gente