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#MeuPrimeiroAssédio inspira campanhas semelhantes pelo mundo

Milhares de latino-americanas usam a hashtag #MiPrimeroAcoso para denunciar no Twitter a primeira vez em que foram assediadas. Nos EUA, depoimento da atriz Rowan Blanchar fez a hashtag #FirstTimeIWasCatcalled viralizar
12:29 | Abr. 26, 2016
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Milhares protestam na Cidade do México contra a violência de gênero
Poucos meses depois de a campanha #MeuPrimerioAssédio viralizar no Brasil, uma iniciativa semelhante ganhou força na América Latina nos últimos dias, sobretudo no México. Usando a hashtag #MiPrimerAcoso, milhares de mulheres relataram seus primeiros assédios sexuais no Twitter de cantadas e assobios à violência física.
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A versão da hashtag em espanhol começou com a ativista e colunista colombiana Catalina Ruiz-Navarro. Em artigo na revista Vice, ela conta que foi ao Brasil para um fórum sobre os efeitos do vírus zika e ficou sabendo da campanha #MeuPrimerioAssédio criada em outubro passado pela organização Think Olga, após uma avalanche de comentários sexistas sobre uma jovem de 12 anos que participava do programa de TV Master Chef Junior.

Ruiz-Navarro e a colega Estefanía Vela tiveram, então, a ideia de reproduzir a experiência no México e em outros países latino-americanos. "A resposta, assim como ocorreu no Brasil, foi esmagadora: em menos de duas horas a hashtag era trending topic", diz. Ela estima que a idade média do primerio assédio entre as mulheres que se manifestaram na rede seja por volta dos sete anos de idade.

"Quando tinha cinco anos, um tio, com mais de 40 anos, me levantou para me carregar e logo colocar os dedos na minha genitália por baixo do vestido", relatou uma usuária do Twitter.


"No metrô, um imbecil me tocou por toda parte e se masturbava. Ninguém me ajudou até que chorei e gritei. Eu tinha 16 anos", escreveu outra.


Agressão verbal também está entre os assédios denunciados. "Saí de pijama na rua porque o cachorro tinha escapado. Um cara se aproximou e me disse 'que peitos gostosos você tem'. Eu tinha 11 anos", escreveu esta usuária.


Ruiz-Navarro ressalta que o assédio começa na infância, mas acompanha as mulheres por toda a vida. "Nossa experiência de assédio se torna massiva, sistemática e repetitiva [...] Aprendemos a viver em constante situação de 'autodefesa', pensando no que vou vestir, quem vai me ver, por onde vou caminhar, se posso ficar a sós com ele."

Manifestações no México

No México onde a situação é particularmente grave, com seis mulheres assassinadas por dia a campanha online culminou em manifestações contra a violência contra a mulher e pela igualdade de gêneros no último fim de semana, em mais de 50 cidades. Foi a primeira marcha do tipo no país.

Com o lema "Nos queremos vivas", milhares de mulheres e homens foram às ruas para protestar, inclusive em Ecatep, considerada a cidade mais perigosa para as mulheres mexicanas e afetada por uma onda de feminicídios. Em todo o México, 3.892 mulheres foram mortas somente entre 2012 e 2013.

"Queremos criar consciência na sociedade civil do que está acontecendo neste país", disse David Ampudia, um dos organizadores dos protestos.

Para Ruiz-Navarro, aos poucos a situação está mudando no México e, quem sabe, em toda a América Latina. "Já somos mais as que estamos falando sobre e nomeando o assédio pelo que é: violência. #MiPrimerAssédio mostrou que somos muitas as que estamos fartas e clamamos por um mundo diferente, mais justo, que nos inclua e nos respeite."

Versão em inglês

Uma campanha semelhante em inglês circulou nas redes sociais nas últimas semanas, atraindo usuárias de vários países. Há algumas semanas, a estrela adolescente Rowan Blanchar revelou seu primeiro assédio à revista americana Interview. A jornalista Allana Vagianos ficou impressionada com a história da jovem e criou a hashtag #FirstTimeIWasCatcalled ("A primeira vez em que fui cantada").

"Eu tinha 11 anos e peguei um galho perto de uma estrada. Um cara buzinou e gritou pela janela. Achei que eu tivesse feito algo de errado", conta no Twitter a usuária Dale Marie, por exemplo.


A hashtag desencadeou uma verdadeira discussão sobre sexismo na rede, inclusive com a participação do público masculino. "Esses 'homens' não têm pais para lhes ensinar um pouco de respeito. Minha mãe me educou melhor. Nunca dou cantada em mulheres na rua", escreveu um usuário.


Outra hashtag semelhante, #firstharassment, havia viralizado no fim do ano passado, sendo usada por mulheres de todo o mundo.

"Num mundo perfeito, eu gostaria que, após debater online assédios e cantadas nas ruas, isso parasse. Sei que isso não vai acontecer do dia pra noite, mas acho que, pouco a pouco, quando temos esse tipo de conversa, combatemos um grande problema", disse Vagianos à DW.

Autor: Luisa Frey

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