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Ascensão de Trump preocupa imigrantes brasileiros

18:06 | Mar. 15, 2016
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Provável indicação do magnata como candidato republicano tem levado medo à comunidade brasileira e estimulado quem está apto a votar a ir às urnas. Ilegais temem promessa de deportação em massa. No fim do ano passado, quando pesquisas de opinião já apontavam Donald Trump à frente na corrida pela candidatura republicana à Casa Branca, a brasileira Luciana Torgoman, de 33 anos, resolveu tentar fazer algo para barrar as pretensões do bilionário. Um ano após estar apta a pedir a cidadania americana, ela finalmente deu entrada no processo e agora aguarda o documento chegar a tempo de fazer o registro e ir às urnas no dia 8 de novembro. A ideia é uma só: votar contra Trump. Ele é racista, louco e despreparado. Um pesadelo para qualquer imigrante, com essa visão ignorante de que eles estão aqui para roubar empregos, afirma a consultora em gestão, que vive em Chicago há seis anos. A administradora de empresas Dayana Voss, de 30 anos, amiga de Luciana, também está animada em participar do pleito presidencial neste ano e ser mais uma voz contra Trump. Ele não pode ganhar, seria um desastre. Ele iria acabar com tudo o que o Obama construiu nos últimos anos, especialmente nas relações internacionais, avalia a baiana, que nesta terça-feira (15/03), pela primeira vez, votou nas primárias no estado de Illinois. A ascensão de Donald Trump na eleição presidencial deste ano vem preocupando não apenas a comunidade brasileira que vive nos EUA, estimada em 1,3 milhão de pessoas, mas os latinos de maneira geral. Em junho do ano passado, o polêmico bilionário declarou que o México manda para os Estados Unidos pessoas com problemas, trazem drogas e criminalidade ao país, além de estupradores. Logo após o episódio, grupos latinos intensificaram atividades de conscientização sobre a importância do voto na defesa dos interesses da comunidade. O diretor-executivo da organização Mi Familia Vota, Ben Monterroso, conta que campanhas lançadas há alguns meses tentam estimular o registro de eleitores de origem latina nestas eleições. Enquanto 27 milhões deles estão aptos a votar neste ano nos EUA, Monterroso calcula que apenas metade está registrada para participar das eleições americanas, nas quais o voto não é obrigatório. Neste ano temos algo inédito nunca havíamos sido tão atacados por um partido político como agora, destaca Monterroso, referindo-se ao Partido Republicano. Nossos desafio é fazer com que os latinos entendam que o voto deles importa. Medo de deportações Há nove anos a diarista Selma Nunes deixou a pequena Chonin de Baixo, em Minas Gerais, e mudou-se com as duas filhas para os Estados Unidos, em busca de uma vida melhor para a família. Apesar de estar ilegal em Boston, Selma garante que paga os impostos e sonha, um dia, regularizar sua situação. Sem documentação de residente, a filha mais velha, hoje com 19 anos, teve que largar a faculdade de Engenharia Civil por não ter dinheiro para bancar o curso. Sem os papéis', ela tinha que pagar mil dólares por matéria, enquanto um americano paga 300 dólares. Ficou muito caro, explica Selma, contando que a filha hoje trabalha numa creche. O avanço de Trump, porém, ameaça não só a tentativa dos Nunes de se regularizarem ele amplia o risco de que a família toda tenha que deixar os EUA. Além da promessa de construir um muro na fronteira com o México, e enviar a conta ao governo do país vizinho, o pré-candidato também afirma que, se eleito, vai deportar os cerca de 11 milhões de imigrantes atualmente ilegais no país. A diarista afirma estar com medo de se ver obrigada a voltar para o Brasil, onde teria que começar do zero: Não temos estrutura lá, minhas filhas foram criadas aqui. Vai ser muito difícil se isso acontecer!" Repúdio a imigrantes Se mandarem os imigrantes embora, como Trump propõe, muitos restaurantes vão ficar vazios, por exemplo. Não vai ter quem atenda, argumenta o desenvolvedor web Francisco Malafaia, 39. Para o brasileiro, Trump chegou tão longe por tocar no orgulho americano. Os americanos têm um certo complexo com imigrantes, e essa postura do Trump só aumenta o repúdio, avalia Malafaia, que vive nos EUA há dois anos. Luciana também ressalta que a ascensão do magnata entre os republicanos revela uma xenofobia presente em várias partes dos Estados Unidos. Com Trump, ela diz, essas pessoas se sentem à vontade para se expressar. Para quem vive nos estados onde a retórica antimigratória encontra mais eco, o temor é ainda mais latente. Moradora de Houston, no Texas (estado considerado reduto republicano), a consultora de vistos Silvana Shelton, de 43 anos, acredita que muitos americanos estejam apoiando Trump por associarem a criminalidade na fronteira aos imigrantes. Ela não esconde a preocupação. O medo é que ele seja desequilibrado e passe a perseguir imigrantes, tratando todo mundo como criminoso, afirma Silvana. Autor: Mariana Santos, de ChicagoEdição: Rafael Plaisant

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