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Kuwait retira embaixador do Irã, em meio à crise entre Arábia Saudita e Teerã

08:05 | Jan. 05, 2016
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O Kuwait anunciou na quinta-feira a retirada de seu embaixador no Irã, convertendo-se no mais recente país árabe aliado da Arábia Saudita a se posicionar junto ao reino, em meio a crescentes tensões entre Riad e Teerã.

A retirada de pessoal diplomático ocorre em meio a protestos contra delegações diplomáticas sauditas no Irã, em resposta à execução na Arábia Saudita de um clérigo xiita que era um destacado opositor.

A execução do fim de semana agravou a rivalidade regional entre Riad e Teerã e ameaça descarrilar os já frágeis esforços de paz para as guerras na Síria e no Iêmen.

O Sudão e o pequeno Estado insular do Bahrein disseram na segunda-feira que cortariam laços com o Irã, como fez a Arábia Saudita na noite do domingo. Os Emirados Árabes anunciaram que reduziriam suas relações com Teerã ao nível de encarregados de negócios, enquanto outros países divulgaram comunicados criticando o regime iraniano.

A campanha orquestrada pela Arábia Saudita, governada por uma monarquia sunita, mostra a atitude agressiva adotada pelo rei Salman e por seu filho, o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, quando se refere a seu antigo rival regional, o Irã.

"O que temos visto durante as últimas 24 horas não tem precedentes", disse Abdulkhaleq Abdullah, professor de Ciência Política da Universidade dos Emirados Árabes. "Indica que a Arábia Saudita está sem paciência com o Irã e quer enviar uma mensagem. São os sauditas dizendo: 'Não há limite no quão longe chegaremos'."

O Kuwait anunciou nesta terça-feira a retirada de seu embaixador em um comunicado divulgado pela agência estatal do país, que não dá detalhes. Não está claro, nesse primeiro momento, como serão afetados os laços bilaterais. No pequeno Kuwait convivem xiitas e sunitas de forma pacífica, no país que tem o sistema político mais livre de todo o Golfo Pérsico.

A crise diplomática começou no sábado, quando a Arábia Saudita executou um clérigo xiita, o xeque Nimr al-Nimr, e outras 46 pessoas condenadas por terrorismo. Foi a execução em massa envolvendo mais pessoas no país desde 1980. Figura central nos protestos da minoria xiita inspirada na Primavera Árabe, al-Nimr negou que tivesse incitado à violência. As notícias sobre sua execução provocaram protestos xiitas do Bahrein ao Paquistão.

No Irã, manifestantes atacaram a embaixada saudita em Teerã e seu consulado em Mashaad. Na noite do domingo, o ministro saudita das Relações Exteriores, Adel al-Jubeir, anunciou que o reino cortaria relações com o Irã por causa desses ataques, dando ao pessoal diplomático iraniano 48 horas para sair do país. Na segunda-feira, a agência saudita de aviação civil suspendeu todos os voos para e do Irã, dizendo que a decisão era tomada pela ruptura dos laços diplomáticos.

Em carta enviada na segunda-feira à Organização das Nações Unidas, o Irã disse "lamentar" os ataques contra as delegações diplomáticas e prometeu prender os responsáveis. Na mensagem, o enviado iraniano na ONU, Gholamali Khosroo, disse que haviam sido detidas mais de 40 pessoas que participaram nos protestos e que as autoridades buscavam outros suspeitos.

Em resposta a uma carta saudita, o Conselho de Segurança da ONU condenou os ataques de manifestantes iranianos contra sedes diplomáticas sauditas. O comunicado não mencionava as execuções sauditas nem a ruptura da relação entre os dois países.

Arábia Saudita e Irã competem há tempos por influência e poder no Oriente Médio. A rivalidade se agravou após a queda de Saddam Hussein, no Iraque, e diante da turbulência gerada pelos protestos da Primavera Árabe, o que abriu espaço para guerras indiretas entre os dois países na Síria e no Iêmen. Fonte: Associated Press.

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