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Por que a Grécia não deve provocar uma crise global?

17:07 | 07/07/2015
Exposição limitada do setor privado grego indica pequeno risco de a atual turbulência na zona do euro contagiar outras economias. Mas existe uma fonte de incertezas: a política dissonante vinda de Bruxelas. O efeito contágio no setor financeiro é normalmente precedido de uma surpresa. Na crise de 2008 em Wall Street, por exemplo, o mercado imobiliário americano havia vivido um boom. Buscando lucrar, empresas financeiras privadas de todo o mundo compraram títulos emitidos pelas gigantes de refinanciamento hipotecário Fannie Mae e Freddie Mac. As duas empresas contavam com o aval do governo americano, ainda que implícito, em sua carteira de financiamento. E isso levou, na época, muitos investidores a simplesmente presumirem que os títulos emitidos por elas eram garantidos pelo Tesouro. Essa interpretação, no entanto, se provou errada pelo menos inicialmente. Os papéis da Fannie Mae e Freddie Mac não tinham o mesmo suporte de títulos do Tesouro americano. E, quando houve queda na procura, as instituições financeiras que os adquiriram foram expostas a um risco maior do que previam. Como a crise se espalhou pelos Estados Unidos e o sistema financeiro global, o governo acabou forçado a intervir e resgatar as duas. "As instituições financeiras subestimaram extremamente os riscos desses ativos, que produziram um contágio rápido e voraz", opina Carmen Reinhart, economista da Kennedy School of Government, em Harvard. Sem repetição de 2008 A Grécia, por outro lado, é atingida pela crise da dívida soberana desde 2010, e o setor privado teve ampla oportunidade de reduzir a sua exposição nos últimos cinco anos. "Quanto mais tempo você vê que o rating de um país está caindo, que as avaliações apontam para uma alta probabilidade de inadimplência, mais tempo você tem para reduzir essa exposição. Isso é o que tem acontecido essencialmente desde 2010", diz Reinhart. Ao mesmo tempo, o setor público expandiu seu papel nos mercados financeiros desde a crise de 2008, reduzindo o risco de contágio. "Houve uma reação quase exagerada a 2008 em termos de intervenção de bancos centrais e governos e um aperto maior na malha da rede de proteção", explica o economista Michael Bordo, da Universidade Rutgers, nos EUA. "Nós não vamos ter uma repetição de 2008." Exposição limitada O setor privado agora tem somente 17% da dívida grega, de acordo com a agência Bloomberg. O Fundo Monetário Internacional, o Banco Central Europeu (BCE) e a União Europeia têm 80% do débito do país. Segundo Reinhart, a distinção entre a exposição dos setores privado e público é importante. Quando as instituições privadas têm alavancagem financeira demasiadamente alta, seus ativos são afetados, e elas não podem mais emprestar a seus pares. Em consequência, os mercados de crédito podem congelar. Mas uma instituição financeira do setor público como o BCE opera em outro nível. "O BCE pode emitir euros parar facilitar as coisas, assim como o Banco da Inglaterra ou o Federal Reserve [Fed, o Banco Central americano] podem imprimir libras e dólares para lidar com a situação. O Banco Central grego não pode fazer isso", ressalta Reinhart. Isso significa que a Grécia está essencialmente à mercê do BCE. Na segunda-feira, o BCE negou aumento da ajuda de emergência a Atenas, gerando mais probabilidade de inadimplência. Neste momento, a inadimplência grega e sua possível saída da zona do euro seriam devastadores para a economia do país. Por outro lado, provocaria impacto leve nas condições do BCE de emprestar dinheiro a outros países em potencial turbulência, como Portugal. Sinais conflitantes em Bruxelas Se existe um pequeno risco de contágio na Europa e no resto do mundo, então por que a crise grega provocou volatilidade nos mercados financeiros? De acordo com Bordo, isso acontece porque as políticas europeias são muitas vezes incoerentes, o que acaba produzindo insegurança. "Porque todos os dias as autoridades europeias estão fazendo declarações conflitantes. As pessoas não sabem o que realmente vai acontecer. A zona do euro não está operando como uma união monetária limpa, como Estados Unidos ou Canadá", explica o economista. Ainda não está claro como os mercados financeiros vão interpretar o desenvolvimento da crise grega. Existe a possibilidade de os mercados enxergarem um eventual "Grexit" como o início de novos rompimentos na zona do euro. "Se for essa a percepção dos mercados, pode haver efeitos negativos. Há os próximos países na lista: Portugal é bem pequeno, Espanha não é tão pequena, e Itália definitivamente não é tão pequena. Esse é o pior dos cenários", opina. Autor: Spencer Kimball (mp)Edição: Rafael Plaisant
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