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EI decapita refém americano; Obama condena ato de 'absoluta maldade'

O vídeo atual é diferente dos anteriores, pois Kassig não aparece vivo e fazendo ameaças a outro refém ocidental preso. Ele foi o terceiro refém americano a ter a decapitação reivindicada pelo EI
19:54 | Nov. 16, 2014
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O grupo ultrarradical Estado Islâmico (EI) reivindicou a execução por decapitação do refém americano Peter Kassig, em represália ao envio de conselheiros militares americanos ao Iraque, em um vídeo postado na internet, neste domingo, que teve sua autenticidade confirmada pela Casa Branca.

 Horas depois da publicação do vídeo, veiculado pelo órgão dos grupos jihadistas Al-Furqan, o presidente americano, Barack Obama, confirmou a morte de Kassig, que passou a se chamar Abdul-Rahman Kassig, após se converter ao Islã, denominando seu assassinato de ato de "pura maldade".

 "Este é Peter Edward Kassig, um cidadão americano de seu país (...)", diz, falando com sotaque britânico, um homem encapuzado e vestido de preto, que aparece de pé, ao lado de uma cabeça cortada, em alusão ao ex-soldado americano, o quinto refém ocidental sequestrado na Síria e executado pelo EI desde agosto.

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 "Estamos enterrando o primeiro cruzado americano em Dabiq (cidade no norte da Síria), e esperamos impacientemente a chegada de outros soldados para que sejam degolados e enterrados da mesma maneira", ameaça o homem que parece ser o "Jihadi John", o suposto assassino dos jornalistas americanos James Foley e Steven Sotloff.

 Dabiq foi palco de uma importante batalha no século XVI, onde o exército de muçulmanos foi dizimado, mas terminou vencendo, segundo uma profecia do Islã.

 "Há quatro anos vocês disseram que deixaram o Iraque (...) Na verdade, não fizeram mais que esconder algumas de suas tropas (...) Aquelas que se retiraram, voltaram em número muito maior", acrescenta o homem encapuzado, dirigindo-se ao presidente Obama.
O vídeo começa com a história do nascimento do EI no Iraque, após se desligar da rede Al-Qaeda, e evoca seu envolvimento na guerra da Síria antes de mostrar a decapitação em massa de "soldados de Bashar" e a do refém americano, sequestrado na Síria em 2013.

 Antes da sequência com a execução de Kassig, o vídeo mostra a decapitação de pelo menos 18 soldados sírios. É possível ver os homens acompanhados, cada um, de um militante do EI. Um depois do outro, os jihadistas pegam uma faca e formam uma fila, antes de derrubar suas vítimas no chão e decapitá-las.

 Kassig já havia aparecido em 3 de outubro no vídeo da decapitação de Henning. Na ocasião, os jihadistas ameaçaram matá-lo em retaliação aos ataques aéreos americanos na Síria e no Iraque.

 O vídeo atual é diferente dos anteriores, pois Kassig não aparece vivo e fazendo ameaças a outro refém ocidental preso. Ele foi o terceiro refém americano a ter a decapitação reivindicada pelo EI. Outros dois trabalhadores humanitários britânicos - Alan Henning e David Haines - tiveram a mesma sorte.

 Com 26 anos, Peter Kassig, um ex-soldado no Iraque, havia se convertido ao Islã e fundado, em 2012, a organização humanitária "Special Emergency Response and Assistance" (Sera), após deixar o exército americano. Ele mesmo treinou 150 civis para dar ajuda médica ao povo sírio. Seu grupo também distribuía comida, suprimentos para cozinhar, roupas e remédios para os necessitados.

 A bordo do avião presidencial Air For One, que o levava de volta aos Estados Unidos, após visita de Estado à Ásia, o presidente americano, Barack Obama, confirmou em um comunicado a morte de Kassig, um ato que chamou de "pura maldade".

 "Abdul-Rahman foi tirado de nós em um ato de pura maldade praticado por um grupo terrorista que o mundo corretamente associa com a desumanidade", declarou Obama no comunicado.

 "Assim como Jim Foley e Steven Sotloff, antes dele, sua vida e feitos se põem em total contraste com tudo o que o ISIS representa", acrescentou Obama, usando outro acrônimo pelo qual o Estado Islâmico é conhecido.

 "Enquanto o ISIS se deleita com o massacre de inocentes, inclusive muçulmanos, e só se inclina em semear a morte e a destruição, Abdul-Rahman foi um filantropo, que trabalhou para salvar as vidas dos sírios prejudicados e destituídos pelo conflito sírio", acrescentou Obama.

 "As ações do ISIS não representam a fé, menos ainda a fé muçulmana que Abdul-Rahman adotou como sua", prosseguiu.

 O presidente americano enalteceu a obra de Kassig como "atos abnegados de um indivíduo que se preocupava profundamente com a situação do povo sírio".
Um dos amigos sírios de Kassig, Burhane Moussa Agha, de 29 anos, se referiu ao americano como "alguém que ajudava os sírios gratuitamente, com seu próprio dinheiro. Ele deixou tudo para trás, a família, a vida na América, para ajudar as pessoas. Ele não tinha medo. Peter era um herói".

 A morte de Kassig ocorre em um momento em que os Estados Unidos se preparam para dobrar sua presença militar no Iraque para 3.100 homens, como parte da campanha internacional que o país lidera contra o EI.
Obama expressou sua confiança em que "o espírito indomável da bondade e da perseverança que ardia tão fortemente em Abdul-Rahman Kassig, e que mantém unida a humanidade, será por fim a luz que irá prevalecer sobre a escuridão do ISIS".

 "Eu estou horrorizado com a morte a sangue frio de Abdul-Rahman Kassig", reagiu o premiê britânico, David Cameron. O EI "novamente mostrou toda a sua perversidade".

 O presidente francês, François Hollande, denunciou as execuções como "crimes contra a humanidade" e assegurou que seu país continuará a combater o EI. Seu premiê, Manuel Valls, evocou um "novo ato de barbárie".
Os pais de Kassig se disseram devastados com a confirmação do assassinato de seu "filho querido".
"Estamos com o coração partido em saber que nosso filho perdeu a vida como resultado de seu amor pelo povo sírio", escreveram Ed e Paula Kassig, em uma postagem publicada na conta @kassigfamily no microblog Twitter.
Composto por dezenas de milhares de militantes, grande parte ocidentais, o Estado Islâmico semeia o terror no "califado" que proclamou em junho nas regiões sob seu controle.
Acusado pela ONU de crimes contra a Humanidade, o grupo EI é responsável por terríveis atrocidades nas vastas regiões conquistadas na Síria e no Iraque, incluindo execuções, sequestros, estupros e limpeza étnica.
Excluindo o envio de tropas terrestres, Washington mobilizou uma vasta coalizão para tentar destruir o grupo, ajudando a treinar tropas iraquianas e rebeldes sírios.
Já no 'front' iraquiano, as forças armadas tentavam neste domingo garantir a segurança da maior refinaria de petróleo do país, ao norte de Bagdá, após quebrar o cerco do EI. E na Síria, a batalha pelo controle da cidade curda de Kobane que prossegue entres os jihadistas e as forças curdas já fez 1.200 mortos em dois meses, segundo uma ONG.

AFP

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