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Kohl: "Merkel não sabia nem comer direito com garfo e faca"

10:37 | Out. 07, 2014
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Em biografia não autorizada, ex-chanceler federal da Alemanha não poupa palavras para se referir a alguns desafetos, entre eles a atual chefe de governo do país. Kohl tenta barrar na Justiça publicação do livro. "Merkel não sabia nem comer direito com garfo e faca. Ela ficava andando de um lado para o outro em jantares oficiais, me forçando a chamar a atenção dela várias vezes." Essa é uma das citações do ex-chanceler federal Helmut Kohl sobre a atual mulher mais poderosa da Europa. Kohl, também chamado de "chanceler da Reunificação", é até hoje uma figura cultuada em seu partido, a União Democrata Cristã (CDU), e confiou essa e muitas outras frases polêmicas ao seu antigo biógrafo e atual desafeto Heribert Schwan, que lançou um livro intitulado Vermächtnis. Die Kohl-Protokolle (Legado. Os protocolos Kohl). A revista Spiegel publicou alguns trechos das transcrições das fitas em sua atual edição. Schwan, que é jornalista, visitou o ex-chanceler em 105 ocasiões entre março de 2001 e outubro de 2002. As conversas entre eles encheram 135 fitas e geraram cerca de 630 horas de material. No decorrer dos anos, Schwan escreveu três das quatro biografias planejadas. Mas, em 2009, o ex-chanceler encerrou a cooperação com o jornalista, antes de este concluir o livro que conta os últimos quatro anos de Kohl à frente do governo alemão. Seguiu-se uma disputa judicial sobre as fitas contendo as conversas, que desde agosto de 2013 estão novamente em posse do ex-chanceler. Segundo a revista alemã Focus, Kohl já acionou seus advogados para interromper as vendas do livro do ex-biógrafo. O argumento é que Schwan utilizou trechos das fitas que a Justiça alemã proibira de serem usadas e mandara devolver a Kohl. O jornalista alega ser co-autor das "memórias" de Kohl, já que participou das conversas, e assim tem o direito de usar o conteúdo delas. Alemanha Oriental Além de dizer que a hoje chanceler federal Merkel "não tem noção de nada", Kohl destratou também outros políticos. O ex-presidente da Alemanha Christian Wulff, também da CDU, foi descrito como "uma nulidade" e "um grande traidor". O ex-chanceler classificou como traidor também o seu ministro do Trabalho, Norbert Blüm, e se perguntou como pôde ter sido enganado pelo caráter do ex-colega. Já o colapso da antiga Alemanha Oriental não seria mérito do movimento por direitos civis do país, mas decorrência da fraqueza financeira da União Soviética, segundo o ex-chanceler, que negociou a reunificação alemã com os russos. "A ideia de que o colapso do regime seria antes de mais nada uma conquista dos revolucionários no leste saiu do 'cérebro de Volkshochschule [mente estreita, intelectualmente limitado] do Thierse'. Gorbatchov fez um balanço, constatou que estava no cu do profeta e não tinha mais como segurar o regime", disse Kohl. A Volkshochschule, ou Universidade Popular, é uma instituição que oferece cursos de baixo custo em várias áreas, especialmente línguas estrangeiras, voltados para o público em geral. O social-democrata Wolfgang Thierse, ex-presidente do Bundestag e oriundo da Alemanha Oriental, comentou a frase do ex-chanceler em entrevista à DW: "Kohl reivindica a paternidade exclusiva do fim da Alemanha Oriental e da unificação da Alemanha". Segundo Thierse, Kohl estaria assim privando os antigos cidadãos da Alemanha Oriental do seu desempenho histórico na revolução pacífica e no fim do comunismo. Merkel não comentou as declarações. Já Blüm disse que não debateria nesse nível e lamentou que Kohl colocasse em risco sua reputação com declarações desse tipo. Caixa dois As declarações de Kohl devem ser entendidas no contexto do escândalo de caixa dois de seu partido. Em 1999, quando ele já não era mais chanceler federal, foi descoberto um esquema de doações não declaradas para a CDU. Kohl admitiu a existência do esquema, mas nunca entregou nomes de doadores. No começo de 2000, a CDU rompeu com Kohl, então seu presidente de honra. Na linha de frente da ruptura estava Merkel, que publicou um artigo no jornal Frankfurter Allgemeine Zeitung criticando o ex-chanceler e incentivando o partido a se afastar dele. Depois disso, os dois nunca mais se reconciliaram, apesar dos esforços de Merkel. A atenção da mídia não é exatamente ruim para Kohl. Nesta quarta-feira, ele vai apresentar na Feira do Livro de Frankfurt uma nova edição de seu livro Da queda do Muro à Reunificação. E, no começo de novembro, o ex-chanceler deve apresentar seu novo livro Por preocupação com a Europa um apelo. Além disso, Kohl foi sugerido para o Prêmio Nobel da Paz, exatamente 25 anos depois da queda do Muro de Berlim.

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