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Economia deve dominar disputa entre Dilma e Aécio no segundo turno

19:30 | Out. 07, 2014
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Enquanto presidente deve seguir destacando conquistas sociais dos 12 anos de PT no Planalto, espera-se que tucano aproveite momento da economia para apontar erros do atual governo. Propostas de ambos, porém, são vagas. Recessão, aumento dos gastos públicos e queda de investimentos são algumas palavras que não faltarão nos debates do segundo turno. O tema economia deverá pautar, ao lado de corrupção, os embates entre os candidatos Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB). Dilma deve frisar a comparação entre os 12 anos da administração petista e os oito anos de Fernando Henrique Cardoso no Planalto, ressaltando a diminuição da taxa de desemprego e desigualdade, além do aumento da renda do trabalhador brasileiro mesmo depois da crise internacional. Por sua vez, Aécio deve usar o atual momento da economia brasileira como principal arma contra a petista, que tem indicadores econômicos piores do que Lula. Entre os trunfos do senador estão a desaceleração econômica do país sob presidência de Dilma; a recessão técnica que o país viveu no primeiro semestre de 2014 e a saída de investidores do Brasil. "Discutir a economia neste momento, para quem está na situação, não é muito fácil", afirma o economista Evaldo Alves, da FGV. "O futuro presidente vai ter o desafio de recolocar a economia brasileira nos trilhos. A receita do governo não consegue cobrir os gastos, o país está em recessão, e o investimento caiu muito por conta da desconfiança do próprio mercado." Crescimento através do consumo Para especialistas ouvidos pela DW Brasil, Dilma, ao contrário de seu antecessor, abriu mão de alguns pilares que sustentavam o Plano Real composto por metas de inflação, de superávit público e liberdade para as cotações do dólar e se descuidou das metas de inflação e da política cambial. Depois da crise de 2008, Lula adotou a política de incentivo ao consumo. Dilma, por sua vez, usou a mesma fórmula e foi ao limite para tentar aquecer uma economia debilitada. Para José Matias-Pereira, professor de administração pública da UnB, a presidente não observou as linhas gerais da política econômica, o que foi um grande erro. "Política de crescimento via consumo tem um efeito de curto prazo. Hoje, o cenário é muito preocupante, pois as famílias estão com um nível elevado de endividamento", diz Matias-Pereira. "A economia está em recessão técnica e, com a alta inflação, juntamente com as elevadas taxas de juros, há uma dificuldade de a economia reagir." Propostas vagas Para reverter o baixo crescimento da economia, os dois candidatos à presidência já apresentaram propostas, porém, não muito detalhadas. Dilma pretende promover a redução de juros, inflação na meta de 4,5% e aumentar o rigor fiscal. De forma genérica, ela diz em seu programa de governo que deseja ampliar o mercado doméstico e os investimentos no país, além de simplificar as relações do Estado com as empresas. Aécio informou em seu programa de governo que vai enviar uma proposta de reforma tributária ainda na primeira semana de governo ao Congresso. Ele afirma que deseja cumprir a meta de inflação de 4,5% e, depois, reduzi-la para 3%. O tucano quer voltar com o tripé que sustentava o Plano Real, além de elevar os investimentos dos atuais 16,5% do PIB para 24%. Para Felix Dane, coordenador do escritório brasileiro da fundação alemã Konrad Adenauer, no Rio de Janeiro, os dois programas não foram muito detalhados pelos dois candidatos. Ele ressalta que o programa petista é mais ideológico, tem foco na parte social e não pretende dar uma guinada na parte econômica. "Aécio, por sua vez, quer ir em direção à economia social de mercado [em que o Estado deixa o mercado livre e se esforça para manter um equilíbrio social], modelo muito parecido com o da Alemanha", afirma. "Isso significa que ele não deve abandonar os programas sociais existentes. Afinal, nenhum presidente poderia acabar com um programa que beneficia um quarto da população brasileira. Isso seria suicídio político." Para Alves, os candidatos não têm propostas de governo, mas para administrar a conjuntura econômica brasileira. O especialista da FGV diz faltar um detalhamento mais claro dos candidatos de qual Brasil será redesenhado em termos econômicos para o futuro. "E isso não foi feito por nenhum deles. E, levando em conta o que foi informado, não podemos chamar de plano de governo", critica. Desafio em várias frentes Em relatório divulgado nesta terça-feira (07/10), o Fundo Monetário Internacional (FMI) reduziu a projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do país, que era de 1,3% no último levantamento em julho, para 0,3%. A estimativa, porém, é mais pessimista do que a do governo brasileiro, que sinalizou em setembro que uma expansão de 0,9% em 2014. Caso seja reeleita, Dilma acenou que não manterá Guido Mantega como ministro da Fazenda, o que agradou ao mercado financeiro. Se vencer o pleito, Aécio já disse que Armínio Fraga vai ocupar a pasta. Mesmo com programas diferentes, especialistas afirmam que o próximo presidente terá que tomar medidas duras para colocar a economia do país nos eixos. "O desafio para retomar o crescimento tem várias frentes", diz Alves. "O próximo governo deve reorganizar o setor público, cortar gastos, reconquistar a confiança de investidores, controlar a inflação, mas não por meio do aumento de juros básicos, entre outras questões. Não será uma tarefa fácil."

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