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Opinião: Alemanha deveria pensar bem antes de enviar armas ao Iraque

10:36 | Ago. 13, 2014
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Surpreendente anúncio de que cogita enviar equipamentos de defesa para os curdos não deve afastar o governo alemão da busca por uma solução diplomática, opina a jornalista política da DW Melinda Crane. Esse turbulento verão europeu colocou algumas coisas pelo avesso tanto no Ocidente como no Oriente Médio. Enquanto na Alemanha o Partido Verde mostra compreensão com relação ao envio de armas para os combatentes curdos, nos Estados Unidos o presidente Barack Obama fala como se fosse um político da oposição alemã: "Para a crise no Iraque, não há solução militar". Berlim vive um feroz debate sobre os benefícios de uma solução militar made in Germany. Apenas um dia depois de rejeitar categoricamente o envio de armas para regiões em conflito, o governo alemão afirmou nesta terça-feira (12/08) que está estudando o envio de equipamentos não letais para ajudar o Iraque a combater o grupo jihadista "Estado Islâmico". Capacetes, coletes à prova de balas, veículos blindados, dispositivos de visão noturna e suprimentos médicos podem ser disponibilizados, segundo a ministra alemã da Defesa, Ursula von der Leyen. Até mesmo o ministro do Exterior, Frank-Walter Steinmeier, sinalizou disposição para deixar o caminho aberto à remessa de equipamentos alemães, afirmando que, considerando a situação dramática na região, está disposto a "ir até os limites do que é política e juridicamente viável". Essa é uma mudança impressionante nesse debate, iniciado em fevereiro, durante a Conferência de Segurança de Munique, quando Von der Leyen e Steinmeier aderiram publicamente ao apelo do presidente da Alemanha, Joachim Gauck, para que o país desempenhasse um papel mais ativo no cenário mundial. Em junho, Gauck foi além e disse que, às vezes, a via militar também é válida como último recurso. Políticos de esquerda criticaram severamente o presidente por suas declarações. E as pesquisas mostram que a maioria dos alemães gostaria de continuar no velho status quo, que combina ambições econômicas com moderação diplomática e militar. Mas este verão de intensos conflitos na Ucrânia e no Oriente Médio coloca em questão uma tese que vem determinando grande parte da política externa alemã desde 1989. Os alemães, sobretudo a opinião pública do país, agarraram-se à ideia de que a queda do Muro de Berlim marcou uma tendência rumo a um mundo onde a violência é apenas um desenvolvimento falho e irracional e onde a solução de conflitos representa mais um desafio humanitário do que estratégico ou militar. Talvez essa seja a razão pela qual a palavra "genocídio" surge tantas vezes nas discussões atuais sobre fornecimento de armas. Retórica humanitária talvez torne soluções militares mais palatáveis para uma opinião pública cética, mas não as torna mais efetivas. Nenhuma região ilustra tão bem o potencial de "tiro que sai pela culatra" como o Oriente Médio, onde as armas costumam acabar nas mãos de pessoas que seguem objetivos opostos aos dos fornecedores dos equipamentos. A remessa de equipamentos não letais libera recursos que podem ser usados em armas letais. Se Berlim apoia mesmo o Iraque nas suas fronteiras agora existentes, o governo deveria ser cauteloso na hora de enviar artigos militares, sejam eles quais forem, a um grupo que não faz segredo de suas intenções de fundar um Estado curdo independente. Exportações de armas não são política externa e não têm nada a ver com a responsabilidade estratégica mencionada pelo presidente alemão. Gauck advertiu que podem existir cenários de combate em que a Alemanha não forneça armas, mas as recolha. Com certeza, a discussão ainda vai continuar até, no mais tardar, a cúpula da Otan de setembro, quando serão abordados os diferentes orçamentos bélicos dos Estados-membros. Os últimos meses têm mostrado uma divisão de trabalho muito eficaz: enquanto os Estados Unidos se encarregam sobretudo dos problemas no Oriente Médio e no Oriente Próximo, a Alemanha desempenha um papel importante na sua vizinhança mais imediata, nos incansáveis esforços diplomáticos para não permitir que o conflito na Ucrânia se transforme numa guerra aberta entre Kiev e Moscou. Uma contribuição nada pequena nesse quente verão de 2014.

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