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Comboio com ajuda humanitária russa à Ucrânia desperta suspeitas

09:32 | Ago. 12, 2014
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Moscou envia 280 caminhões para a Ucrânia afirmando se tratar de ajuda humanitária. Cruz Vermelha diz não saber de nada, e governo em Kiev promete barrar missão. Um comboio humanitário russo, composto por 280 caminhões carregados com duas mil toneladas de material, dirigiu-se na manhã desta terça-feira (12/08) para a fronteira ucraniana, numa iniciativa anunciada pela Rússia na ONU, mas rejeitada pela Ucrânia. Durante uma reunião de emergência nas Nações Unidas, realizada na sexta-feira passada, a Rússia propôs-se realizar uma missão humanitária para socorrer a população do leste da Ucrânia. A iniciativa foi, porém, rejeitada pela Ucrânia, pelos Estados Unidos e também pela Alemanha e pelo Reino Unido, que temem que o projeto sirva de pretexto para uma invasão russa em território ucraniano. A governo da Ucrânia anunciou que não deixará o comboio russo entrar em seu território. "A carga poderia atravessar um posto fronteiriço ucraniano e ser transferida para veículos do Comitê Internacional da Cruz Vermelha. Não aceitamos que [a ajuda] seja acompanhada pelo Ministério das Situações de Emergência russo ou por militares russos", declarou o chefe adjunto da presidência ucraniana, Valéri Tchaly. Segundo a mídia russa, cerca de 280 caminhões saíram dos arredores de Moscou. A viagem de cerca de mil quilômetros até o leste da Ucrânia deve durar dois dias. Segundo agências russas, o comboio faz parte de uma missão acordada com a Cruz Vermelha, mas o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) nega. Cruz Vermelha: comboio sem certificação Um representante do CICV afirmou que não tinha informações sobre a carga e destino dos caminhões russos. Andre Loersch, porta-voz do CICV na Ucrânia, disse que, embora a organização tenha chegado a um acordo geral sobre o envio de ajuda humanitária à região, ele não tem informações sobre o conteúdo dos caminhões e que não sabe para onde estavam indo. "Neste momento, não temos um acordo sobre isso, e parece que é uma iniciativa da Federação Russa", afirmou. Os caminhões brancos, com bandeiras vermelhas da cidade de Moscou, estariam levando medicamentos, alimentos e sacos de dormir, segundo a mídia russa. São duas mil toneladas de suprimentos de ajuda, que teriam sido coletadas entre cidadãos de Moscou e arredores. "Este comboio não é um comboio certificado. Ele não é certificado pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha", disse Andriy Lysenko, um porta-voz do Conselho de Defesa e Segurança Nacional ucraniano. Ele também mostrou um vídeo filmado secretamente que aparentemente mostra veículos semelhantes aos caminhões brancos enviados por Moscou estacionados numa base militar na Rússia. Imagens exibidas por Lysenko mostram tropas uniformizadas alinhadas em frente a um dos caminhões. A França se declarou contra o envio de ajuda humanitária sem o consentimento do governo em Kiev e do Comitê Internacional da Cruz Vermelha. O ministro do Exterior, Laurent Fabius, disse nesta terça-feira a uma emissora de rádio que, se estas condições não forem cumpridas, a travessia da fronteira não deve ser permitida. Ele expressou também a preocupação de que o suposto comboio humanitário possa ser um pretexto de Moscou para enviar apoio aos separatistas pró-russos no leste da Ucrânia. Escassez de comida Como resultado dos combates recentes entre governo e separatistas pró-russos, os habitantes das cidades de Donetsk e Lugansk enfrentam escassez de comida e água. A situação é especialmente grave em Lugansk, segundo informações do CICV. Em Donetsk, mais de 300 mil pessoas, quase um terço dos habitantes da cidade, já fugiram. Para aqueles que ainda resistem, já falta o básico, pois as tropas governamentais cortaram os acessos às cidades de Donetsk e Lugansk, impedindo, com isso, o fornecimento de alimentos. Os rebeldes pró-russos citaram várias vezes nos últimos dias a situação desesperadora da população civil como uma razão para pedir um cessar-fogo. No entanto, o governo ucraniano recusava os apelos até recentemente, por suspeitas de que por trás deles estivesse mais uma manobra tática do que a sincera preocupação com o bem-estar das pessoas que vivem há meses uma situação de guerra. Foi com desconfiança semelhante que a Ucrânia recebeu a oferta da Rússia para levar suprimentos de emergência à região, sobretudo para a metrópole Lugansk, onde centenas de milhares de pessoas estariam há dias sem eletricidade e água. Países ocidentais também suspeitam que Moscou pretenda enviar soldados e armas aos rebeldes sob o pretexto de ajuda humanitária. Chaly se referiu a uma coluna de veículos militares russos que quase teria entrado em território ucraniano no fim de semana, sob pretexto de transportar bens humanitários. "Eles queriam provocar o conflito total", afirmou. O Kremlin rejeitou a acusação. Há meses que o governo ucraniano reclama de supostos planos de invasão da Rússia. O secretário-geral da Otan, Anders Fogh Rasmussen, já advertiu Moscou explicitamente para que não use o pretexto de uma missão humanitária para tentar intervenir militarmente na Ucrânia. Um porta-voz do presidente russo, Vladimir Putin, assegurou que não haveria unilateralismo russo no que concerne o fornecimento de ajuda humanitária. MD/lusa/afp/dpa/kna/dw

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