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Vírus sem cura que teria origem em camelos põe Oriente Médio em alerta

12:07 | Mai. 05, 2014
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Tipo Notícia
Número de infecções do coronavírus Mers aumentou nas últimas semanas. Até o momento, casos estão concentrados em países árabes, mas muitos já se preocupam com uma possível disseminação para outras regiões. A doença começa com sintomas semelhantes aos da gripe, que podem, porém, progredir para uma infecção pulmonar ou levar à falência dos rins. "O índice de mortalidade é de 30% a 40%", explica o porta-voz da Organização Mundial da Saúde (OMS), Gregory Härtl. "Enquanto não soubermos como o vírus se comporta e como podemos controlá-lo, ele continua sendo perigoso." O vírus Mers (sigla em inglês para Síndrome Respiratória do Oriente Médio) é parte do grupo do coronavírus, surgido há cerca de uma década. O perigoso vírus Sars também é classificado na mesma categoria, mas, nesse período, ele desapareceu. Os demais vírus incluídos nessa classificação tendem a causar problemas respiratórios leves nos infectados. O mesmo não pode ser dito do Mers, identificado há apenas dois anos, esclarece Udo Buchholz, do Instituto Robert Koch, da Alemanha. "Ele foi identificado porque leva a doenças anormalmente severas. Então, começou-se a tentar descobrir suas causas. Testes foram desenvolvidos para que se possa reconhecer o vírus em casos futuros", diz o pesquisador. Ainda sem tratamento Não há vacina ou medicamento para lidar com o Mers apenas os sintomas podem ser tratados. Especialistas dizem que a melhor maneira de prevenir a infecção é através da higiene, já que o vírus se espalha pelo ar, como por espirros ou tosses de pessoas infectadas. Além disso, o vírus também consegue sobreviver por algum tempo em superfícies. Härtl explica que a disseminação do vírus pode ocorrer se as medidas de prevenção não forem eficientes, como se um indivíduo tocar uma superfície infectada e em seguida levar as mãos ao rosto. Dois elementos são importantes para se calcular o grau de periculosidade do vírus, conta Udo Buchholz: "Com que regularidade ele emerge? Com qual frequência resulta em doenças mais graves? Não temos nenhuma dessas respostas", lamenta o especialista. É possível, segundo ele, que os pacientes com manifestações mais severas da doença sejam apenas a ponta do iceberg. Origem desconhecida Os especialistas não podem afirmar com segurança, mas muitos acreditam que a fonte mais provável das infecções seriam os dromedários. Os anticorpos contra o Mers foram encontrados em muitos desses animais, assim como o próprio vírus. Apesar de os testes nos dromedários muitas vezes apresentarem resultados positivos, não foram encontrados sintomas da doença. O motivo para isso é apenas uma das muitas perguntas sem resposta sobre essa infecção. Também não está claro se o vírus é disseminado apenas a partir dos animais para os seres humanos ou se os produtos de origem animal também podem ser responsáveis pela disseminação. No final de abril, autoridades da Arábia Saudita recomendaram à população que evite o consumo de carne e leite de camelo. A Arábia Saudita abriga a maioria dos casos de infecção do vírus Mers. Incidências também foram identificadas em Jordânia, Catar, Emirados Árabes Unidos, Omã e Kuwait. Buchholz conta que a maioria dos casos de infecções graves inclui indivíduos que estiveram em contato com dromedários. "Devemos reconhecer que nesses países existem com frequência fazendeiros que mantêm um pequeno número desses animais dentro de uma área relativamente reduzida", explica. Transmissão interpessoal Nesse meio tempo, o vírus também contamina um número cada vez maior de profissionais de medicina, como médicos e enfermeiros. De acordo com a OMS, de cada cem casos de contaminação secundária ou seja, transmitidos de pessoa para pessoa 60 ocorrem entre trabalhadores da área de saúde ou entre familiares dos infectados. Também na Europa já foram identificados alguns casos. Buchholz conta que eles envolvem indivíduos que foram infectados enquanto estavam em países árabes, e que viajaram ao continente europeu por motivos diferentes. "Na Tunísia e na Inglaterra já houve casos onde um indivíduo com infecção primária transmitiu o vírus a outras pessoas", afirma Buchholz, ressaltando que após esses casos não houve mais contaminações. O risco de infecção aumenta em locais que reúnem um grande número de pessoas. Buchholz conta que no ano passado havia preocupação de que a peregrinação à Meca pudesse resultar em um surto de grandes proporções. "No entanto, como sabemos, esse não foi o caso", diz. Testes e exames foram realizados nos peregrinos que retornavam de Meca, mas todos os resultados foram negativos. Até o momento, não há motivo para pânico, afirma Buchholz: "O aumento relativamente acentuado nas infecções nos últimos meses é motivo de preocupação, mas mesmo assim, não vemos ainda uma grande cadeia de infecções." Para os epidemiologistas, o fator mais relevante é saber se um indivíduo infectado pode ou não transmitir a doença a outros, que poderiam passá-la adiante. "É reconfortante que as infecções secundárias ocorram raramente, mas é claro que devemos continuar atentos", alerta o especialista alemão.

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