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Sul-africanos vão às urnas em clima de insatisfação

10:10 | Mai. 07, 2014
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País vota em novo Parlamento e, assim, elege indiretamente o novo presidente. Embora desemprego e corrupção aumentem decepção com governo, Jacob Zuma aparece como favorito e deve ser reeleito. Nonqgele Nggakanyana trabalha há cinco anos na mina de platina da cidade de Marikana, no noroeste da África do Sul. Há três meses, ele e seus colegas estão em greve, reivindicando mais investimentos na favela em que moram e um salário de 12.500 rand (853 euros). "A greve é um sacrifício para a minha família", diz o minerador. Enquanto ele está parado, não recebe pagamento algum. Ele, como a maioria de seu colegas, mora nos arredores da mina, em barracos improvisados, com telhados de chapa ondulada. Ali, na favela Nkaneng, não existe água potável nem sistema de esgoto. Frequentemente, habitantes da comunidade pegam esquistossomose, por beberem água contaminada. A mina de platina de Marikana pertencente à mineradora britânica Lonmin e local de trabalho da maioria dos moradores de Nkaneng ganhou notoriedade há dois anos com um episódio conhecido como o "massacre de Marikana". Após semanas de greves e confrontos com forças de segurança, policiais mataram a tiros mais de 30 trabalhadores. Na ocasião, o governo do presidente Jacob Zuma se mostrou incapaz de atuar como mediador entre sindicatos e a Lonmin. O incidente fez o país mergulhar numa das maiores crises políticas desde o fim do apartheid, há 20 anos. Decepção em relação ao governo Apesar disso, a maioria dos mineiros de Nkaneng vai votar nesta quarta-feira (07/05) no partido do governo, o Congresso Nacional Africano (CNA). A legenda é a mesma de Nelson Mandela e governa a África do Sul desde o fim do apartheid. O colega de Nggakanyana, Nene Zacharias, ao contrário, pertence àqueles que pouco antes das eleições ainda não sabiam em quem votar. Ele trabalha há mais de dez anos na mina da Lonmin. Para ele, o governo do CNA é culpado pelo fato de as demandas dos mineradores ainda não terem sido atendidas. Ele pede que o governo se preocupe com os desejos e as necessidades dos trabalhadores. Essa não é a única crítica ao CNA. Muitos sul-africanos queixam-se de uma má administração pública e dos poucos benefícios sociais. A frustração é grande. Em todo o país, há protestos regularmente. Desemprego em massa, corrupção desenfreada entre os funcionários do CNA e escolas públicas em situação precária são apenas algumas das razões para a frustração. Elas poderiam levar muitos dos cerca de 24 milhões eleitores do país a decidir não votar no partido de Mandela desta vez. Concorrência ao CNA Um dos que desejam uma mudança é o comerciante Abner Nthabeleng, de Marikana. Ele diz que está cansado do CNA. "Eu vou votar no Combatentes pela Liberdade Econômica (EFF, na sigla em inglês), porque tenho esperança de uma vida melhor e de um futuro melhor", diz. O EFF, segundo ele, preocupa-se com a juventude e a encoraja a aprender. Ele acredita no programa do partido. O EFF é liderado por Julius Malema. O político carismático de 34 anos dirigiu anteriormente a facção jovem do CNA. Ele desafiou repetidamente a liderança do partido, como quando dera apoio incondicional aos muitas vezes violentos mineradores de Marikana durante as greves de 2012 e fora expulso do partido. Embora sondagens projetem uma nova vitória folgada do CNA, com 60% de votos, observadores esperam que desta vez haja uma votação mais concorrida. Em primeiro lugar, o CNA é desafiado por uma Aliança Democrática (AD) bastante forte. O partido é liderado por Helen Zille, governadora da província de Cabo Ocidental. A AD é apoiada principalmente por sul-africanos brancos da esquerda liberal. Em segundo lugar, o CNA tem como concorrente o recém-fundado EFF, de Malema. E o jovem político sabe usar a insatisfação da população negra a seu favor. Analistas temem que a frustração reprimida possa se transformar em violência durante a eleição. "Há problemas em algumas áreas, onde alguns partidos não se atrevem a entrar", diz Daryl Glaser, cientista político da Universidade de Witwatersrand, em Joanesburgo. "No Noroeste, por exemplo, o presidente Jacob Zuma cancelou um evento de campanha, por temer por sua segurança." Glaser, no entanto, acredita que a eleição será, em grande parte, livre e justa, lembrando que observadores internacionais estarão acompanhando o pleito. O resultado oficial das eleições estão previstos para esta sexta-feira.

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