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"Mister Euro" quer agora a presidência da Comissão Europeia

07:02 | Mai. 23, 2014
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Poucos conhecem a política europeia tão bem como o luxemburguês Jean-Claude Juncker, dos democrata-cristãos. Ele traz consigo experiência e moderação, mas é pouco conhecido por grande parte da população. Poucos conhecem tão bem a política europeia como Jean-Claude Juncker, o candidato dos democrata-cristãos à presidência da Comissão Europeia. Por quase 20 anos, ele foi o primeiro-ministro de Luxemburgo, participando de inúmeras reuniões do Conselho Europeu, que reúne os líderes dos países-membros. Além disso, Juncker presidiu por oito anos o Eurogrupo o órgão que coordena a política econômica da UE numa época em que a moeda única do continente, assim como a União Europeia, enfrentava sua pior crise. Desde então, o luxemburguês ficou conhecido como Mister Euro. Sem modéstia, ele afirma que "o euro e a União Europeia estavam em perigo. Dentro das minhas limitações, fiz todo o possível para prevenir uma catástrofe". A crise imediata pode ter terminado, mas suas consequências ainda permanecem. Na opinião de Juncker, o desemprego, principalmente entre os jovens, é o fardo mais pesado para o continente. Para a Europa, explica, "a missão mais importante é dar perspectivas e esperanças aos jovens desempregados, que correm o risco de se tornar uma geração perdida". Um conservador com ideias socialistas?. Para o democrata-cristão, as políticas sociais são de grande importância. Ele condena os especuladores e os ganhos excessivos dos executivos e quer assegurar os direitos dos trabalhadores mais simples. Mas não seriam estas atitudes típicas dos socialistas? Afinal, foram os governos conservadores e democrata-cristãos da Europa que impuseram as dolorosas trajetórias de consolidação orçamentária entre eles o de Jean-Claude Juncker. E se ele não tivesse apoiado as políticas de austeridade, jamais seria o candidato do Partido do Povo Europeu (PPE) à presidência da Comissão Europeia a chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel, teria bloqueado sua candidatura. Mas quais são as posições políticas do próprio Juncker? Pia Oppel, editora da rádio estatal luxemburguesa 100.7, afirma que é difícil defini-lo politicamente. Ela diz que, numa única resposta, Juncker é capaz de se pronunciar tanto a favor como contra e ainda ficar no meio. Ele costuma florear suas respostas com uma eloquência mordaz, tanto em francês com em alemão ou inglês. Menor interferência de Bruxelas Os críticos de Juncker entendem que essa indefinição de conteúdo é seu ponto fraco. Seu principal concorrente, o presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, dos socialistas, tem posições claramente de esquerda. Mas quem almeja presidir a Comissão Europeia deve saber falar a todos. Juncker parece ter assimilado isso, especialmente desde a crise. "Devemos evitar a criação de novas muralhas, novas linhas divisórias na Europa. Sou alérgico à divisão entre norte e sul, entre grandes e pequenos, fortes e fracos. Quero construir pontes, unir, criar consensos na Europa", afirma o candidato. Juncker aprendeu ainda uma outra lição. Os cidadãos estão fartos das regulamentações de Bruxelas nos lugares errados, como a proibição das lâmpadas incandescentes. "Muita Europa nos detalhes mata a Europa dos grandes temas", diz. Ele considera um equívoco o sonho de muitos europeus de um super-Estado no continente, afirma Oppelt. "Ele é completamente contra uma integração da UE a ponto de causar o desaparecimento dos Estados nacionais", diz. Ao contrário da comissária de Justiça, a também luxemburguesa Viviane Reding, que fala sempre em "Estados Unidos da Europa", Juncker representa o status-quo, afirma Oppelt. Cansaço e desânimo nos debates Não há dúvidas que Juncker possui muitas das qualidades necessárias a um presidente da Comissão Europeia. É experiente, poliglota e passível de ser aceito por vários governos nacionais. Mas ele também tem algumas fraquezas bem claras. Nos debates eleitorais, aparentava desânimo e cansaço. E ele são é conhecido dentro dos círculos europeus, não de grande parte da população do bloco. Além disso, o luxemburguês é visto e de maneira correta como parte do sistema de Bruxelas, um sistema que é alvo de campanhas agressivas por parte de muitos partidos extremistas e antieuropeus no continente. O comissário de mercado interno da União Europeia, Michel Barnier, adversário de Juncker durante a campanha interna do PPE para a candidatura à Comissão Europeia, já alertava que a luta contra os socialistas e Martin Schulz não será fácil. Mais difícil, porém, seria a luta contra o populismo, de direita e de esquerda. E Juncker, assim como todos os outros candidatos, tem ainda um outro problema. Mesmo que seu partido se consagre após as eleições como a maior força dentro do Parlamento, isso ainda não significa que ele será de fato presidente da Comissão. É verdade que os chefes de Estado e de governo precisam levar em conta os resultados das eleições ao apontar o novo presidente, mas eles podem optar por outro nome. O veterano político luxemburguês já alertou que, se isso acontecer, a democracia europeia entrará em crise porque os eleitores vão se sentir traídos. Mas é claro que ele também está pensando na própria carreira.

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