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Simpatia de milícias pró-Rússia na Ucrânia esconde tática de Putin

10:53 | Abr. 25, 2014
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Eles riem, fazem piadas, brincam com crianças. Com uniforme camuflado sem insígnia, os homens fortemente armados não se apresentam como inimigos no leste ucraniano, mas como protetores. E a estratégia parece funcionar. Enquanto uma jovem mãe brinca com o filho de 2 anos num parquinho, atrás dela, homens mostram fuzis Kalashnikov das janelas de um carro. Os pássaros cantam, os sinos tocam normalmente na igreja. "Eu não tenho medo dessa gente", diz Julia, a jovem mãe. "Eles vieram para nos proteger." Para ela, o Exército ucraniano com seus jatos e helicópteros voando baixo sobre a cidade é o que incomoda. "Meu filho tem medo", afirma. Também uma avó, que constrói um castelo de areia com o neto no parquinho, diz ver a situação de forma semelhante. Para ela, os homens com as Kalashnikovs são os "corretos". Assim é a vida em Slaviansk, cidade do leste da Ucrânia controlada por separatistas pró-russos desde o início de abril. Ali e em outras localidades da região, os separatistas proclamaram uma "república popular" e pretendem realizar um referendo no início de maio. O objetivo é conseguir mais autonomia dentro da Ucrânia e uma possível anexação à Rússia, o que Kiev quer impedir. Sem identificação Os homens usam uniformes camuflados sem insígnias e escondem o rosto com uma máscara. Não se sabe exatamente quem e quanto eles são. Na anexação da Crimeia pela Rússia, eles eram chamados apenas de "homenzinhos verdes". Só mais tarde, o presidente Vladimir Putin admitiu que esses homens em uniformes verdes sem insígnias eram soldados russos. Eles também são chamados de "caras legais", pois, segundo os moradores, costumam se comportar educadamente. Em Slaviansk, alguns dos separatistas armados parecem ser ucranianos; outros, russos. "Nós somos ex-militares", diz um dos homens, aparentemente um comandante. Ele fala russo como um russo, não como um ucraniano. Pela pronúncia, o seu colega também deve ser russo. O governo ucraniano afirma que são unidades especiais do Exército russo atuando no leste do país, o que é sistematicamente desmentido por Moscou. Impressiona o quanto os homens armados se esforçam em não ser vistos pelos moradores da cidade como adversários, mas como protetores. "Ficaremos aqui o tempo que for necessário para proteger os civis", diz um deles. Ele brinca com as pessoas, é amigável, permite ser fotografado e gosta de mostrar suas armas. "Eu já fiz amizade com as crianças", conta outro rindo. "Quando eu vou até a caixa de areia, elas me reconhecem e correm em minha direção." É assim que, segundo a visão dos moradores locais, são os separatistas contra os quais o governo ucraniano empreende atualmente uma operação antiterrorista. As evidências sugerem que a atitude amigável diante da população local é uma tática dos separatistas pró-russos. Se esse for o caso, a imagem corresponde exatamente àquela que Putin descreveu na coletiva de imprensa no início de março em Moscou. Ele disse na ocasião que a Rússia só iria enviar suas tropas para a Ucrânia "para proteger os cidadãos ucranianos". "Se algum dos militares tentar disparar contra o seu próprio povo, vamos estar do lado da população", afirmou então o presidente russo. "Eles que tentem atirar em mulheres e crianças." Apoio de civis Isso pôde ser visto pouco antes da Páscoa. Próximo à cidade de Kramatorsk, no leste da Ucrânia, um comboio do Exército ucraniano foi detido e desarmado por civis, incluindo muitas mulheres. Os separatistas capturaram seis veículos blindados e armas de fogo. "Esta Kalashnikov com lançador de granadas, que estou usando agora, pertencia anteriormente a um paraquedista ucraniano", diz orgulhoso um homem diante do prédio da administração em Slaviansk. Também em outras cidades da Ucrânia, houve relatos de alguns civis que se solidarizaram com separatistas. Trata-se, no entanto, de uma minoria. De acordo com recentes pesquisas de opinião, ao menos 20% dos habitantes nas regiões de Donetsk e Lugansk saudariam uma invasão russa. A grande maioria rejeita. Mas essa maioria se comporta passivamente. Poucas pessoas se atrevem a ir às ruas. "Temos medo", diz um jovem que trabalha num posto de gasolina próximo a Slaviansk. Quem critica os separatistas está arriscando a vida, completa o jovem.

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