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Opinião: Não se pode comparar Kosovo e Crimeia

14:57 | Mar. 14, 2014
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Tipo Notícia
Em 1999, a Otan interveio militarmente no conflito do Kosovo, sem mandato da ONU. Hoje, a Rússia intervém na Crimeia, mesmo sem mandato. Para a articulista da DW Verica Spasovska, trata-se de uma comparação errônea. Sérvios e albaneses acompanham com especial atenção o que está acontecendo atualmente na Crimeia e como o Ocidente avalia os acontecimentos sob a luz do direito internacional ou seja, em uníssono como uma clara violação do direito internacional. Principalmente depois de o ex-chanceler federal alemão Gerhard Schröder ter constatado que, embora a atitude de Moscou implique uma clara violação do direito internacional, há 15 anos o Ocidente também violou o direito internacional quando a Otan interveio no Kosovo, sem uma resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Uma opinião com a qual Schröder não está sozinho e que chama novamente a atenção da opinião pública para o persistente debate em torno do conflito do Kosovo. Até hoje, a independência do Kosovo é uma controvérsia também entre países da União Europeia. Grécia, Romênia, Eslováquia, Chipre e Espanha rejeitam a independência do país. O veredicto da Corte Internacional de Justiça em Haia, de 2010, no qual a Justiça reconhece como legítima a independência do Estado do Bálcãs, não conseguiu mudar em nada a atitude negativa desses países. A indicação de que, no Kosovo, o Ocidente violou o direito internacional põe lenha na fogueira daqueles que acusam os países ocidentais de falsa moral. Eles estão certos? É verdade que a intervenção militar da Otan no Kosovo não estava respaldada pelo direito internacional, e isso é e continuará a ser um ponto fraco na linha de argumentação da missão da Otan. No entanto, é preciso lembrar por que não se chegou a uma resolução: a Rússia se opôs a ela, apontando para a proibição de intervenção indicada no direito internacional. O que hoje não impede Moscou, de forma alguma, de apresentar a sua própria ingerência na Crimeia como obrigação de intervenção, supostamente, para proteger os seus próprios cidadãos na Ucrânia. Mesmo assim, uma comparação entre o Kosovo e a Crimeia continua errônea. No Kosovo, com sua intervenção militar, o Ocidente tirou as consequências da expulsão maciça da população albanesa pelo Exército da ex-Iugoslávia. Semelhante expulsão étnica de russos, no entanto, não está acontecendo na Crimeia. Naquela ocasião, o choque diante do assassinato em massa de muçulmanos bósnios em Srebrenica, em 1995, também estava bastante presente. A aliança ocidental estava convencida de que um segundo genocídio nos Bálcãs desta vez dos albaneses deveria ser evitado. Antes de se chegar a uma intervenção militar, primeiramente, o Ocidente esgotou todos os meios diplomáticos. Somente depois de anos de sanções e negociações não derem frutos é que se recorreu a meios militares. Com vista ao referendo na Crimeia sobre a anexação à Rússia, curiosamente, Moscou argumenta agora com o Kosovo. A Rússia afirma que foi o próprio Ocidente que iniciou esse processo ao reconhecer a independência do Kosovo, e agora a Crimeia segue o exemplo. No entanto, essa comparação também não funciona, porque o Ocidente não tinha planos de incorporar o Kosovo a um Estado vizinho. A interpretação que Moscou faz do direito internacional também é questionada pelos sérvios. Até muito pouco tempo atrás, os políticos sérvios estavam seguros de que o conflito do Kosovo servia a Moscou como um exemplo terrível da política intervencionista ocidental. Hoje, eles têm de constatar que os amigos em Moscou declararam a independência do Kosovo como um precedente bem-vindo para legitimar os próprios interesses de poder. Essa acrobacia verbal, no entanto, é facilmente perceptível. Pois o Kosovo não é a Crimeia.

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