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Há 50 anos, primeiros trabalhadores portugueses chegavam à Alemanha

15:07 | Mar. 17, 2014
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Acordo para contratação dos chamados "trabalhadores convidados" levou milhares de portugueses a arriscarem uma nova vida longe casa. Intenção de muitos era juntar dinheiro e voltar, mas boa parte acabou ficando. Adelino S. ainda se lembra do dia em que chegou à Alemanha. Foi em junho de 1961, pouco antes de completar 23 anos. Um amigo na cidade de Colônia conseguiu emprego e acomodação para ele. Adelino entrou como turista, mas acabou permanecendo como trabalhador. Viúvo e com 75 anos, ele vive até hoje na Alemanha. Adelino é um dos poucos casos dos portugueses chegados nos anos 1960 que continuam no país. Segundo Ulrich Tings, da Missão Católica Portuguesa nas cidades de Krefeld e Monchengladbach, cerca de 90% dos Gastarbeiter (trabalhadores convidados) portugueses de primeira geração já deixaram a Alemanha A maioria veio em busca de trabalho. Além disso, muitos jovens, como Adelino, temiam a ditadura de Antônio de Oliveira Salazar, que terminou apenas em 1974, com a chamada Revolução dos Cravos. Na Alemanha, Adelino se sentiu bem-vindo e seguro. Hoje, ele se recorda de como foram seus primeiros anos. "Em Colônia, comíamos sempre os pratos de carne de porco e salsichas que eram servidos naquela época nos bares", lembra. No entanto, ele preferia o leite à cerveja típica da região, a Kölsch: "Alguém nos disse que os alemães tomavam leite em todas as refeições, e era o que fazíamos." Ele se integrou rapidamente à Alemanha. Alguns anos depois, se apaixonou e casou com uma alemã. Início difícil Assim como Adelino, muitos jovens de várias partes da Europa vieram à Alemanha nos anos 1960. A economia do país florescia, e necessitava-se urgentemente de mão de obra. Por esse motivo, o governo firmou acordos de recrutamento com diversos países, para suprir as carências do mercado de trabalho. O acordo com Portugal faz 50 anos snesta segunda-feira (17/03). Na época em que foi assinado, o desemprego era alto no país ibérico, e muitos foram atraídos pela perspectiva de trabalhar e juntar algum dinheiro na distante Alemanha. "Os imigrantes portugueses hoje em dia estão muito bem integrados", observa Tings, que conta que, ao mesmo tempo, muitos também têm orgulho de seu país de origem e acabam retornando a Portugal. Margarida C. e o marido, Miguel, sonham em se aposentar na terra natal. Eles vivem em Krefeld, no oeste alemão, desde 1988. A mudança do casal para a Alemanha foi uma decisão espontânea eles vieram para visitar parentes e acabaram ficando. "Chegamos aqui num domingo, na hora do almoço. Na manhã seguinte minha cunhada me perguntou se eu queria ir ao trabalho dela procurar um emprego. Acabei aceitando a oferta", conta Margarida. Ela recebeu uma proposta para trabalhar como faxineira. Logo deixou os pertences em Portugal e se demitiu do trabalho como enfermeira geriátrica na terra natal. Ela lembra que o começo foi difícil, especialmente porque o marido não encontrou trabalho com tanta facilidade, o que os deixou temerosos pela obtenção do visto de residência. A pressão para que ele trabalhasse era grande, até que, finalmente, Miguel conseguiu um emprego. Ambos não falavam alemão. Aprenderam o idioma gradualmente no dia a dia, em conversas com vizinhos e colegas de trabalho. Margarida conta que se sentiu muito bem-vinda na Alemanha. Integração Margarida se diz hoje bem integrada. Com 55 anos, ela está envolvida no conselho da Missão Católica Portuguesa e integra há muitos anos um grupo de folclore português. Ela adora a música de seu país, que a faz recordar da infância em Portugal: "Sinto saudades de minha família e gostaria de voltar. Quando? Ainda não sabemos." A melancolia pela terra natal é ainda maior no caso do marido. Há anos ele se sente dividido entre a Alemanha e Portugal. O retorno do casal só não foi possível até agora por razões financeiras. A questão deixou Miguel em depressão, o que o levou aposentar-se precocemente. "Ele passa muito tempo em casa e têm poucos contatos", diz a esposa. Assim como Margarida e Miguel, muitos casais sonham um dia voltar a Portugal. Mas a vida dos que retornam não é tão fácil como pode parecer. A experiência mostra que muitos acabam se dando conta de que não é fácil se estabelecer, explica Tings. Em Portugal, eles acabam sendo chamados de "alemães". Adelino é uma exceção. Ele deseja permanecer na Alemanha. "Muitos dos mais velhos retornaram a Portugal, mas filhos e netos ficaram por aqui", conta. Seus filhos vivem na Alemanha e na Itália. Ele visita uma vez por ano a irmã, em Lisboa, mas sua vida é mesmo na Alemanha. "Por que voltar se nossas famílias estão aqui? Em Portugal, somos tidos como cidadãos de segunda classe", afirma.

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