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Crimeia adota declaração de independência, russos e americanos negociam

16:00 | Mar. 11, 2014
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As autoridades separatistas da Crimeia adotaram nesta terça-feira uma declaração de independência da Ucrânia, etapa prévia ao referendo de domingo para permitir a anexação do território à Rússia, enquanto americanos e russos discutem suas propostas para uma saída da crise.

Ao mesmo tempo, os europeus, britânicos e franceses à frente, evocaram novas sanções contra a Rússia. E a chanceler alemã Angela Merkel comparou a situação na Crimeia a uma "anexação" pela Rússia, em uma reunião com os parlamentares do seu partido.

No Parlamento regional da Crimeia, península autônoma de língua russa controlada há mais de duas semanas por tropas russas, "a declaração de independência (...) foi aprovada por 78 dos 81 deputados presentes", segundo um comunicado do Parlamento.

A iniciativa do Parlamento, declarado ilegal pelo novo governo de Kiev, parece destinada a criar um marco legal para uma união à Rússia como Estado soberano. A declaração cita a separação de Kosovo da Sérvia e acrescenta que "a declaração unilateral de independência de uma parte de um Estado não representa nenhuma violação das leis internacionais".

"A República da Crimeia será um Estado democrático, laico e multinacional, que estará comprometido com a paz e o entendimento interétnico e interreligioso em seu território", indica a declaração.

O referendo previsto para o próximo domingo definirá a adesão da Crimeia à Rússia. Em seguida, a península "se dirigirá à Federação da Rússia para ser admitida com base em um acordo intergovernamental adequado como novo membro da Federação".

A Rússia imediatamente considerou a declaração de "absolutamente legal". Esta iniciativa acontece no momento em que as forças russas controlam todos os pontos estratégicos da península ucraniana. Tudo foi organizado para uma secessão rápida da península: o "primeiro-ministro" Serguii Axionov se auto-proclamou "chefe dos Exércitos" e os 2 milhões de habitantes da Crimeia, em sua maioria de língua russa, viram os canais de televisão russos substituírem os canais ucranianos em seus televisores.

Homens em uniformes vasculham qualquer viajante que chega em Simferopol vindo do Norte e apenas voos de Moscou podem pousar. A região está fechada aos líderes e observadores internacionais. Nesta terça, a ONU anunciou que seu emissário na Ucrânia, Ivan Simonovic, rejeitou a ideia de visitar a Crimeia por enquanto.

Na véspera de uma viagem a Washington do primeiro-ministro ucraniano interino Arseni Yatseniuk, que buscará o apoio de Barack Obama a cinco dias do referendo na Crimeia, a incompreensão é total entre russos e ocidentais.

O primeiro-ministro britânico David Cameron advertiu que haveria "sanções duras se Moscou não mudar de rumo". O chefe da diplomacia francesa, Laurent Fabius, lançou a ameaça de novas sanções "esta semana". Mas, no geral, o diálogo de surdos que sucedeu a intensa atividade diplomática na semana passada não sugeriu uma possível resolução para a crise.

Os chefes da diplomacia russa e americana, Sergueï Lavrov e John Kerry, discutiram por telefone nesta terça "propostas concretas" de Moscou e Washington para assegurar "a paz" na Ucrânia, segundo o ministério russo das Relações Exteriores.
Eles "trocaram suas opiniões sobre as propostas concretas apresentas pela Rússia e os Estados Unidos para assegurar a paz civil e a concórdia neste país", segundo um comunicado do ministério.

Do outro lado do mar de Azov, em Rostov, sul da Rússia, o ex-presidente Viktor Yanukovytch, refugiado na Ucrânia desde a sua queda após três meses de uma contestação pró-Ocidental, que fez uma centena de mortos em Kiev, apareceu pela segunda vez diante das câmeras.

Apresentando-se como o único presidente "legítimo" da Ucrânia ele, no entanto, pareceu em desacordo com o Kremlin ao lamentar a secessão da Crimeia da Ucrânia. "Quando as circunstâncias permitirem - e tenho certeza de que não será necessário esperar muito -, retornarei sem dúvida alguma a Kiev", declarou o presidente destituído.

"Eu me dirijo à comunidade internacional: ninguém tem o direito de apoiar um golpe de Estado", afirmou Yanukovytch, que chamou o novo governo pró-Ocidente de "bando" composto por "ultranacionalistas e neofascistas". "O país vai se recuperar e encontrar sua unidade", acrescentou, enquanto a Rússia parece apoiar a perspectiva de divisão do país e declarou que Yanukovytch não tem mais futuro político.

Neste contexto de tensão, o ministro da Defesa ucraniano, Igor Teniukh, anunciou manobras militares. Os ucranianos "estão prontos para defender o seu Estado", garantiu.
A Otan anunciou na segunda-feira o envio de aviões AWACS para missões de reconhecimento sobre a Polônia e a Romênia, dois países vizinhos da Ucrânia.

No plano econômico, o Banco Mundial (BM) declarou que estava pronto para emprestar "até US$ 3 bilhões" em ajuda para a Ucrânia este ano a fim de poder superar as suas graves dificuldades financeiras.

As novas autoridades de Kiev solicitaram assistência financeira do Fundo Monetário Internacional, de "pelo menos US$ 15 bilhões", depois de constatar que os cofres estavam vazios.
A Comissão Europeia, por sua vez, ofereceu nesta terça-feira para a Ucrânia uma redução nas tarifas alfandegárias, em um valor total de 500 milhões de euros ao ano, indicou o presidente do Executivo comunitário, José Manuel Durao Barroso.

A Comissão "aceitou uma série de medidas comerciais unilaterais" de acesso preferencial ao mercado europeu para as exportações ucranianas por um equivalente "de 500 milhões de euros por ano", indicou Barroso, acrescentando tratar-se de uma prova "tangível" do apoio a Kiev.

AFP

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