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Egípcios desafiam toque de recolher e mantêm protestos

11:34 | Jan. 29, 2013
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Dois anos após a queda de Hosni Mubarak, milhares de egípcios protestam contra seu sucessor. Eles se sentem traídos nos ideais revolucionários e exigem um governo de unidade nacional. Manifestantes irados, policiais armados, batalhas nas ruas. As imagens de televisão evocam lembranças daquele fevereiro de 2011. Na ocasião, milhares de egípcios pediram a queda do regime e não cederam até que o ditador Hosni Mubarak deixasse o poder. Agora, algumas das cenas parecem se repetir. Mas desta vez não é Mubarak que está à frente do Estado, mas Mohammed Morsi. E ele pretende permanecer no comando. Em resposta aos tumultos que provocaram diversas mortes nos últimos dias, Morsi decretou estado de emergência em três cidades do Canal de Suez. Para restaurar a paz no país, ele anunciou na segunda-feira (28/01) querer aumentar o emprego de forças militares. Até as próximas eleições parlamentares, o Exército irá assumir também tarefas policiais. Um desenvolvimento observado com grande preocupação por seus adversários, já que essas medidas lembram a arbitrariedade praticada por Hosni Mubarak motivo pelo qual os manifestantes voltam às ruas. Os adversários de Morsi unem-se principalmente em torno de um ponto: o desejo de um Estado que mantenha certa distância da religião. "Os oposicionistas não querem que o Estado e a sociedade sejam dominados pelo Islã da forma como ele é compreendido pelos islamistas", disse Gudrun Krämer, professora de estudos islâmicos na Universidade Livre de Berlim. "Isso não quer dizer que eles sejam secularistas ou muçulmanos não praticantes." Grandes expectativas face a políticos Entre os adversários de Morsi, Krämer distingue duas correntes principais. Uma engloba um grupo em torno do ex-candidato presidencial Hamdin Sabahy, que rejeita um Estado islâmico, defende certo grau de separação entre Estado e religião e exige uma política de bem-estar social. Um segundo grupo de oposicionistas rejeita, da mesma forma, uma islamização da sociedade, mas também exige a solução dos problemas econômicos e demanda participação. "Muitos egípcios são bastante engajados", disse Elizabeth Iskander, especialista em Egito no Instituto Alemão de Estudos Globais e Regionais (Giga, na sigla em inglês), em Hamburgo. "Isso também significa que eles esperam muito de seus políticos. Eles querem ser escutados. Morsi tem uma difícil tarefa pela frente, e não importa o que ele faça: eu não acredito que a maioria venha a dizer um dia que ele teve êxito." Insatisfação com o presidente Embora Morsi possa contar com o apoio da Irmandade Muçulmana, à qual pertenceu durante muito tempo e a quem deve seu sucesso nas eleições, dentro da própria Irmandade há diferentes correntes, e nem todas concordam com a política governamental do presidente. Isso é válido particularmente para a oposição. "Aqueles que se consideram como os verdadeiros herdeiros do movimento revolucionário sentem-se traídos", disse Krämer. "Eles acreditam ser marginalizados, e eles o são: numericamente, são uma minoria da população egípcia. Eles querem dar continuidade à revolução, para tentar conquistar a confiança da maioria e dar uma nova direção menos islamistas ao governo." Rejeição ao diálogo Também por esse motivo, a oposição rejeita a oferta de Morsi para dialogar. "Antes que o presidente assuma a responsabilidade pelos recentes derramamentos de sangue, prometa um governo de salvação nacional e forme uma comissão independente para emendar a Constituição, todo e qualquer diálogo é perda de tempo", afirmou o Prêmio Nobel da Paz Mohammed El-Baradei pelo Twitter. Ele é um dos principais líderes da oposição no Egito. "Muitos daqueles que estão na política agora seja no lado do governo, seja na oposição não têm um caráter pragmático, eles lutam pelo poder", avalia Krämer. Ela disse que as maiores diferenças entre governo e oposição estão na valorização da religião na cultura e na sociedade. No entanto, em muitos pontos da política externa e econômica e também em determinadas áreas da política social, haveria muito em comum os dois lados. Poucas personalidades pragmáticas "Se estivéssemos diante de personalidades que pensam e atuam de forma pragmática, seria perfeitamente possível chegar a um governo de unidade nacional e ao trabalho conjunto em alguns pontos", disse a professora da Universidade Livre de Berlim. Para tanto, Morsi teria que conseguir estabilizar a atual situação no país. Por enquanto, o estabelecimento do estado de emergência em diversas cidades e a expansão das competências dos militares parecem ter o efeito oposto. Autora: Anne Allmeling (ca) Revisão: Francis França

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