Sucata Chico Alves: combate ao incêndio chega ao 3º dia e moradores relatam furtos

Na manhã deste sábado, 27, bombeiros foram acionados para combater a reignição em uma das áreas já trabalhadas no dia anterior

12:45 | Dez. 27, 2025

Por: Gabriele Félix
Combate ao incêndio na sucata Chico Alves chega ao 4º dia (foto: FÁBIO LIMA)

O combate ao incêndio na sucata Chico Alves chegou ao terceiro dia. O imóvel, localizado no bairro Jacarecanga, em Fortaleza, foi atingido pelas chamas por volta das 23 horas da quarta-feira, 24, véspera de Natal, complementando 72 horas na noite deste sábado, 27.

Por volta das 5h15min deste sábado, 27, o Corpo de Bombeiros Militar do Ceará (CBMCE) registrou a reignição em uma das áreas já trabalhadas no dia anterior.

A ocorrência foi atendida de imediato por uma guarnição, que realizou o novo combate direto às chamas, promovendo o resfriamento completo do setor.

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Conforme o informado pelo CBMCE, em nota, em razão da natureza dos materiais envolvidos, predominantemente pneus e madeira, permanece a possibilidade de novos focos, motivo pelo qual a área segue sob monitoramento permanente.

A operação contou ainda com a atuação integrada da Polícia Militar do Ceará (PMCE), Defesa Civil de Fortaleza (DCFor), Autarquia Municipal de Trânsito e Cidadania (AMC) e Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), garantindo isolamento da área, controle do tráfego, segurança do entorno e suporte às emergências médicas.

Incêndio causou impactos emocionais e mudou a rotina na região

Motoristas e transeuntes que passam pela avenida Sargento Hermínio observam e registram imagens do imóvel em seus celulares, surpresos com a cena de destruição.

Mais de 58 horas depois do início do combate ao incêndio, o imóvel segue isolado com fita zebrada, para evitar a entrada de curiosos. O cheiro de queimado e a fumaça permanece no local, assim como o barulho de estalos.

O incêndio mudou a rotina dos vendedores Yasmin Maria, 25, e Leandro Lessa, 27. Há cerca de sete anos, os dois atuam como ambulantes em um semáforo ao lado da sucata.

Eles relatam que, por conta do ocorrido, a área precisou ser interditada durante dois dias, o que impossibilitou o trabalho.

“O povo ficou muito abalado, a gente também ficou. Voltamos hoje e ainda está meio assim. Acho que o movimento ficou diferente e também a vibe, porque era muito importante pra gente essa sucata. Eles (os proprietários) são pessoas muito boas, nós guardávamos nossas coisas aí”, conta Yasmin.

A vendedora também reflete sobre a perda emocional significativa em relação aos animais que viviam no local, sendo aproximadamente três cachorros e quatro gatos.

“A gente era muito apegado emocionalmente com os cachorros, sabe? Estamos sofrendo a perda. Todos sumiram. Creio eu que ficaram lá no meio e não conseguiram escapar. Então, estamos desse jeito, estamos levando do jeito que dá, né? Seu Chico tá meio abalado”, diz Yasmin.

Os dois lamentam que, mesmo após as chamas, ainda estejam sendo registrados furtos aos itens que restaram no local.

“É o sonho que foi destruído. Foi uma vida dele que foi destruída, porque ele deu a vida construindo tudo aí. Ninguém realmente entende a perda que ele está sofrendo, não (…) Até quando funcionava, eles roubavam. Aqui tem muita gente que se favorece da desgraça dos outros, infelizmente. Aí vê um negócio desse, tenta sempre, sabe, usufruir de alguma coisa, mas a gente fica aqui menos pastorando, porque pra gente também é muito importante”, contam.

Em visita ao local, O POVO apurou que uma equipe da Polícia Militar do Ceará (PMCE) permaneceu na área durante a manhã deste sábado, 27, para monitorar o imóvel e evitar saques.

Combate aos focos de incêndio continua

“Rapaz, enquanto tiver fumaça é porque tem foco de incêndio”, avaliou um policial militar aposentado que mora na região e preferiu não se identificar, durante entrevista ao O POVO.

Ele conta que conversou com um coronel que atuava no combate ao incêndio e destaca que, embora o fogo principal tenha sido controlado, ainda há focos de fumaça e calor devido à grande quantidade de material inflamável.

“Ontem eles botaram a ‘escada mágica’ aqui. Aqui por trás do prédio ainda tinha fumaça, aí tinha um foco que ele ia apagar. Mas, mesmo assim, você já notou que ali na frente tem uma fumacinha que fica ainda? É porque tem muito material plástico, borracha, tinta”, explica. 

Conforme o Corpo de Bombeiros, até a manhã deste sábado, 27, foram empregados mais de 500 mil litros de água nas ações de combate e rescaldo.

A ocorrência mobilizou mais de 20 viaturas do CBMCE, incluindo viaturas administrativas, de coordenação, apoio logístico, Auto Bomba Tanque Turbina (ATM), viaturas Alfa de resgate, salvamento, viaturas-tanque, seis ABTs e uma Auto Escada Mecânica (AEM). Mais de 60 bombeiros militares atuaram diretamente na operação, em regime de revezamento, devido à duração prolongada e às condições adversas do local.

Na sexta-feira, 26, a partir das 8 horas, as equipes deram continuidade aos trabalhos de combate e resfriamento, com substituição de guarnições e reforço de recursos.

“Foram identificados diversos focos de calor com risco de reignição, muitos deles em áreas de difícil acesso, exigindo a montagem de linhas diretas de mangueiras, o uso de retroescavadeira para abertura de acesso e o emprego da Auto Escada Mecânica para atuação em pontos cuja temperatura ultrapassava 300 °C. As ações se estenderam ao longo do dia e da noite, com participação integrada de múltiplas viaturas e sob coordenação do Comando da Operação”, informou um trecho da nota.

O CBMCE declarou que as equipes de bombeiros permanecem no local executando ações de rescaldo, monitoramento de focos residuais e avaliação estrutural. A prioridade, segundo a pasta, é a segurança das guarnições e da população do entorno.

Durante toda a operação, foram registrados quatro atendimentos pela equipe de resgate, sendo dois bombeiros militares, um com quadro de exaustão e outro com queimadura de 2º grau em uma das mãos, ambos atendidos no local e liberados; e dois civis, sendo um adolescente com ferimento leve na região temporal, atendido e liberado após avaliação, e uma mulher que apresentou mal súbito, atendida inicialmente no local e encaminhada para a UPA do Cristo Redentor. Não há registro de óbitos relacionados à ocorrência.