Micropigmentação de mamas devolve autoestima a mulheres que venceram o câncer

O projeto Amigos do Peito completa 12 anos em 2025 e já beneficiou mais de 400 mulheres com a reconstrução de mamilos por meio da micropigmentação

16:24 | Out. 07, 2025

Por: Lara Vieira
A micropigmentação paramédica recria a aréola do mamilo e devolve à mulher parte de sua autoconfiança (foto: FÁBIO LIMA)

Mulheres que passam pelo procedimento de mastectomia — retirada parcial ou total da mama após um diagnóstico de câncer — muitas vezes relatam queda na autoestima e insatisfação com a própria imagem.

Para ajudar mulheres que se encontram nessa situação, o projeto Amigos do Peito realizou na manhã desta terça-feira, 7, um mutirão de reconstrução de mamilos por meio da micropigmentação. A ação ocorre anualmente em outubro, mês dedicado à conscientização sobre a importância da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de mama e do colo do útero.

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O mutirão foi realizada no Centro Universitário Fametro (Unifametro), no bairro Jacarecanga, em Fortaleza. O espaço reuniu 23 voluntários e, ao todo, 24 mulheres foram atendidas.

O procedimento é semelhante à micropigmentação feita em sobrancelhas. Chamada de micropigmentação paramédica, a técnica utiliza pigmentos aplicados nas camadas mais superficiais da pele para recriar o formato e a cor da pele, no caso a aréola do mamilo.

O resultado é semipermanente, com duração média de dois a quatro anos, e proporciona uma aparência natural, devolvendo à mulher parte de sua autoconfiança.

O projeto Amigos do Peito completa 12 anos em 2025 e, desde então, mais de 400 mulheres já foram beneficiadas.

A esteticista Gisele de Paulo, micropigmentadora há 15 anos e uma das fundadoras do projeto, descreve que o mutirão é mais do que uma ação solidária: “O que a gente faz é devolver um pedaço da autoestima que a doença levou. Elas já enfrentaram cirurgias, tratamentos e tantas dores. Aqui, a gente oferece um recomeço e, pra nós, isso é o maior presente que existe.”

Entre as atendidas desta edição está Francisca Cardoso, conhecida como Lenir, 61, que descobriu o câncer em 2016. Ela lembra que o diagnóstico foi um choque. “Eu saí chorando da clínica até em casa. Mas em pouco tempo eu já tinha feito a cirurgia e, para me prevenir, ainda fiz mais quatro sessões de quimioterapia. A mensagem que eu tenho é essa: não desistam”, conta.

Esta é a segunda vez que Lenir realiza o procedimento de micropigmentação mamária e, dessa vez, busca ainda mais naturalidade no desenho. Se descrevendo como “vaidosa desde sempre”, Lenir reforça o quanto o retorno da aréola representa autoestima. “A gente se olhar no espelho e ver que tá lá bonitinho… A gente fica super feliz. Pra mim é maravilhoso.”

A ação é um processo de cura também para quem realiza o procedimento, como descreve Joelena Baracho. A esteticista atua como micropigmentadora paramédica há 15 anos e há 11 é voluntária do Amigos do Peito.

“As pacientes saem maravilhadas e a gente sai renovada”, afirma. Ela ainda descreve que cada paciente passa pelo momento de um jeito: “Tem pessoas que encaram tudo com leveza. Há também aquelas que chegam muito fragilizadas, que choram durante o procedimento. Por isso, a gente tem um cuidado especial para deixá-las à vontade”.

Na maioria dos casos, as pacientes não sentem dor durante a micropigmentação. Isso porque além de técnicas bem aplicadas, devido às cirurgias anteriores muitas pacientes perdem parte da sensibilidade na região da mama.

Quem também foi atendida no mutirão foi Adriana Mendes, de 39 anos. Ela descobriu o câncer em 2017 e passou pela cirurgia no ano seguinte. Hoje, comemora o fechamento de um ciclo.

“Eu tive o nódulo só em uma mama. Mas, observando outras pessoas que faziam tratamento, percebi que era muito recorrente o problema voltar no outro seio. Então, pedi pra fazer a retirada dos dois, por precaução”, relata.

Antes mesmo de finalizar o procedimento, com lágrimas nos olhos e um sorriso largo no rosto, elogiava o trabalho feito pelas voluntárias: “Isso não é só estética, representa a cura, o novo ciclo que se inicia na vida da paciente. Quantas acham que não podem mais se olhar no espelho, vestir um biquíni, ficar à vontade diante do marido… Mas podem sim! É um trabalho bonito, realista — você jura que é real.”

De acordo com o Ministério da Saúde e o Instituto Nacional de Câncer (Inca), o Brasil deve registrar 73.610 novos casos de câncer de mama em 2025. Adriana aproveita o momento para reforçar a importância da prevenção.

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“Fazer o autoexame e procurar um médico, não ficar esperando, não ter vergonha nem medo. O importante é procurar ajuda a tempo. Eu descobri o meu câncer porque sempre fazia o autoexame. Um mês não tinha nada, e no outro já tinha. Ninguém está preparado para um diagnóstico assim, mas, já que veio, é preciso aceitar e se cuidar”, aconselha.

Como se inscrever

Além dos mutirões realizados no Outubro Rosa, o grupo mantém uma rotina de atendimentos individuais durante o ano. As inscrições são gratuitas e realizadas por meio do Instagram @amigosdopeitoce.

Após o cadastro, a equipe avalia o histórico de tratamento e a liberação médica de cada candidata. As interessadas precisam ter concluído a reconstrução mamária após o câncer de mama e estar com alta médica. É necessário que tenha passado, no mínimo, 12 meses desde a última cirurgia.