Mãe de vítima da chacina do Curió conta que ouviu ameaça antes do julgamento
A mulher que perdeu o filho na chacina de 2015 conta que ouviu, dias antes do julgamento, que "tem é que calar essas mães, elas estão falando muita besteira"
10:24 | Set. 24, 2025
Uma das mães de vítimas da chacina do Curió, em Fortaleza, relatou que precisou se mudar após ouvir ameaças no mês de agosto deste ano, período que acontecia o quarto júri do caso. O relato foi registrado nessa segunda-feira, 22, em depoimento durante o primeiro dia do quinto julgamento do crime.
Catarina Ferreira Cavalcante é mãe de Pedro Alcântara Barroso do Nascimento Filho, morto aos 18 anos de idade, no dia 11 de novembro de 2015. Além de "Pedrinho", como a mãe o chamava carinhosamente, outros 10 foram mortos, destes, oito jovens.
Mais sete pessoas ficaram feridas, muitas com sequelas físicas e psicológicas da trágica madrugada.
Catarina afirmou, durante o julgamento, que acabou se mudando neste ano por medo, antes que o julgamento começasse.
Ela descreve que foi a um mercadinho, no mês de agosto, quando acontecia o quarto julgamento dos agentes de segurança que eram acusados de omissão, e viu no notíciário da TV uma matéria sobre o caso.
Um homem, então, teria afirmado que um dos réus era vizinho dele e que seria julgado no mês de setembro. O homem dizia que "tem é que calar essas mães, elas estão falando muita besteira", reproduziu Catarina.
No julgamento dessa segunda-feira, 22, durante as perguntas realizadas pelo Ministério Público do Ceará (MPCE), a mulher afirmou que tem medo de represálias, mas que precisa pedir Justiça pela morte do filho.
Catarina conta quye a vida se dividiu quando o filho morreu. Ela há havia perdido outro filho seis meses antes, morto após um câncer. Depois que Pedrinho morreu, ela ainda precisou lidar com problemas de saúde do marido e da mãe, que também morreu. Além de toda a situação de medo que envolvia o caso da chacina.
Durante o depoimento, ela descreveu ter visto o filho baleado. Ele os outros garotos estavam feridos e foram socorridos por um pastor evangélico, em um automóvel com carroceria. A mãe contou ainda que acompanhava o transporte das vítimas na carroceria quando eles foram perseguidos por um outro veículo.
O carro que realizava o socorro então parou e alguns homens encapuzados passaram a perguntar se os jovens possuíam antecedentes criminais.
Catarina diz que um dos homens tentou puxar o filho dela e ainda desferiu um murro em outra vítima.
Conforme o relato da mãe, depois que chegaram ao Frotinha de Messejana, as vítimas e ela foram cercadas por policiais fardados. Ela afirma que viaturas estavam dentro da unidade hospitalar e que os PMs acessavam o interior da área de atendimento médico.
Catarina descreveu ainda que, ao chegar com o filho ferido, foi surpreendida por alguns agentes que filmavam ela e os feridos desembarcando da caminhonete. Ela escutou os filhos sendo chamados de vagabundos e foi chamada de chefe dos vagabundos.
Ainda contu que um dos policiais chamou a atenção de um dos filhos dela dizendo que aquilo que acontecia era "culpa dele".
Julgamentos
Os policiais que estão sendo julgados são Marcílio Costa de Andrade e Luciano Breno Freitas Martiniano. Ambos estavam de folga no dia do crime, à paisana.
Laudos periciais mostram que a arma de Marcílio teria sido utilizada em uma das mortes e o veículo particular de Luciano Breno teria passado pelos locais dos crimes durante a madrugada.
Dias antes da chacina, Marcílio Costa de Andrade foi apontado como autor de um homicídio e uma tentativa de homicídio.
De acordo com o Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE), os crimes teriam sido motivados por conflitos familiares envolvendo a irmã de Marcílio e a companheira do sobrevivente.
O pai da vítima fatal teria ameaçado Marcílio e também foi assassinado. O laudo pericial da Polícia Federal confirmou que a mesma arma utilizada no homicídio do pai, um cadeirante, foi empregada na morte de Marcelo da Silva Mendes, vítima da chacina.
O policial teria apresentado os fatos pessoais a outros policiais como se fossem de interesse institucional, o que teria contribuído para o clima de revolta entre os policiais.
Conforme o MPCE, Marcílio teria agido na articulação dos atos violentos que se seguiram. Após as mortes, a irmã de Marcílio deixou o bairro em uma mudança que, segundo testemunhas, contou com apoio de homens encapuzados e viaturas da PM. Os fatos ocorreram no fim de outubro de 2015, dias antes da chacina.
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