Chacina do Curió: "Colocaram a arma na minha boca", descreve sobrevivente durante julgamento

O momento marcou o primeiro dia do quarto julgamento relacionado ao caso Curió, nesta segunda-feira, 25; vítima tinha 18 anos na época

19:15 | Ago. 25, 2025

Por: Jéssika Sisnando
Nova fase do julgamento do chacina do Curió, no Fórum Clovis Beviláqua, aconteceu nesta segunda-feira, 25 (foto: FABIO LIMA/O POVO)

Um metalúrgico de 28 anos prestou depoimento como vítima de tortura mental no caso Curió, nesta segunda-feira, 25, primeiro dia do 4º julgamento no fórum Clóvis Beviláqua, na Capital. O processo foi desmembrado e, nesta etapa, sete novos réus são julgados pelo Conselho de Sentença (jurados) da 1ª Vara do Júri de Fortaleza.

A vítima sobrevivente tinha 18 anos no período da chacina do Curió e estava na casa da namorada. Ele afirma que foi para a casa da namorada, no dia da chacina, pois estava assustado com a movimentação policial, após a morte de um agente de segurança.

O rapaz descreve que saiu da casa para observar as aeronaves que sobrevoavam o local, e que presenciou dois automóveis descaracterizados e uma viatura caracterizada, além de uma motocicleta, todos juntos como um comboio.

Chacina do Curió: ex-PM é condenado nos EUA por mentir sobre participação no caso | LEIA MAIS

Ele disse que o motociclista passou por ele e o encarou, em seguida uma viatura da Polícia Militar foi até o local e mandou que as pessoas entrassem para as suas casas.

Em seguida, pessoas que ocupavam carros descaracterizados e se diziam agentes de segurança da Coordenadoria de Inteligência (Coin) solicitaram entrada na residência onde a vítima estava. "Colocaram a arma na minha boca, me colocaram de joelho de costas", afirma.

O rapaz relata que foi interrogado de maneira informal e foi solicitado o desbloqueio do aparelho celular. Após desbloquear, os homens acessaram suas mensagens pessoais e verificaram a mensagem de um outro rapaz afirmando que "o reservado estava na área".

Os homens indagavam se a vítima conhecia um indivíduo de nome Curió, que era morador da mesma rua que a vítima. Ele descreveu ainda que indicou a casa de Curió e explicou que ele havia sido preso uma semana antes. Os policiais foram até a casa do indivíduo e constataram que Curió estava preso.

A vítima afirmou que foi levada no carro descaracterizado e que o veículo ficou parado em uma praça. Ele ficou dentro do automóvel. Em seguida foi levado para a delegacia do 16º Distrito Policial.

Mudança de facção motivou morte de casal no Papicu; mulher estava grávida | LEIA MAIS

Durante o caminho ele afirma que era ameaçado e ao passar por um local onde havia um cadáver, ele ouviu dos policiais que se não colaborasse aquele seria o destino: a morte.

Ele afirma que ao chegar na delegacia, um policial militar o fotografou e que em seguida o liberaram.

Ele ainda descreveu ao Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE) que ficou com medo de ir embora sozinho ou acompanhado da mãe e que solicitou que os policiais o deixassem em casa, por se sentir mais seguro. Por volta das 3 horas da madrugada os homens o deixaram na residência.

"Só pedia a Deus para voltar para casa, pois não tinha cometido nenhum crime. Hoje eu acho que a qualquer momento vai acontecer algo comigo", relatou durante o depoimento.