Da periferia às passarelas: conheça a modelo cearense Amanda Lima
Em 2023, Amanda se tornou vice Miss Universo Ceará. No ano seguinte, ganhou o Miss Ceará CNB (Concurso Nacional de Beleza), se tornando Miss Supranational
18:07 | Ago. 10, 2025
Vencedora do Miss Ceará CNB 2024, Amanda Lima é a segunda mulher negra a vencer a competição. A fortalezense recentemente representou o Estado no Miss Grand Brasil 2025, ficando em 15º lugar. A advogada e modelo relembra o início da carreira, obstáculos e como faz para se preparar para as competições.
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O primeiro concurso de Amanda foi o "Garota Portal Messejana", que participou em 2018, ficando no top 10. Em 2019, a modelo foi top 6 no "Miss Fortaleza Be Emoction".
Em 2023, ela se tornou vice Miss Universo Ceará. No ano seguinte, ganhou o Miss Ceará CNB (Concurso Nacional de Beleza), se tornando Miss Supranational.
Neste ano Amanda representou o Ceará no Miss Grand Brasil 2025, após a desistência da também modelo Pacífico. Ela foi a segunda miss cearense negra em sete edições do concurso.
O termo "Grand Slam" em concursos de beleza se refere aos 5 maiores concursos mais prestigiados: Miss Universo, Miss Mundo, Miss Internacional, Miss Grand International e Miss Supranational. Confira abaixo a definição de cada um:
- Miss Universo: É o concurso mais popular e prestigiado, com grande audiência na Ásia e nas Américas.
- Miss Mundo: É o concurso mais antigo, com foco na beleza com propósito.
- Miss Internacional: Tem foco na promoção da compreensão e amizade internacional.
- Miss Grand International: Concurso com foco em campanhas de conscientização sobre violência e guerras.
- Miss Supranational: Um dos concursos que também se tornou um dos mais importantes no mundo.
"A mulher negra ainda é tratada como exceção", diz modelo
Amanda Lima nasceu e cresceu em bairros periféricos da Capital, como Barroso, Lagamar, Tancredo Neves e Tasso Jereissati.
“Minha família sempre foi simples, mas muito unida. Vivi de perto problemas como violência e drogas, mas também tive uma infância cheia de amor, com muitos primos, aniversários cheios, brincadeiras na rua e muita bagunça na casa da minha bisavó”, relembra a modelo.
Amanda conta que desde pequena sonhava em ser modelo, mas como não se sentia representada enquanto uma garota negra, o sonho parecia ser impossível.
“Quando fiz 20 anos, decidi parar de aceitar o que diziam que eu podia ou não ser. Comecei a participar de concursos de miss e projetos de modelo, mesmo ouvindo que já era tarde pra começar”, conta.
Para ela, um dos maiores obstáculos é o padrão de beleza que a sociedade impõe. Amanda conta que a mulher negra ainda é tratada como exceção.
“Muitas marcas mantêm o mesmo perfil de modelo — branca e magra — e só lembram da modelo negra em datas específicas ou pra dizer que são ‘diversas’. Em concursos de miss, é comum nos colocarem só pra preencher uma cota simbólica, sem chances reais de ganhar”, lamenta.
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Para se preparar para as competições, a modelo conta que faz aulas de passarela, cuida da alimentação e treina idiomas, um deles é o inglês.
“Mas o que faz mesmo a diferença é o preparo mental. Autoconhecimento e inteligência emocional são fundamentais num concurso de beleza — porque não é só sobre estética, é sobre estar pronta para lidar com pressão, críticas e expectativas sem perder quem eu sou”, complementa.
Ela acredita que uma forte candidata é a que conhece suas raízes, respeita seus limites e transforma cada desafio em combustível. “É isso que eu busco todos os dias: alinhar técnica, corpo e mente pra subir no palco inteira, de verdade”, adiciona.
Para Amanda, é um “orgulho enorme” a chance de ter representado o Ceará no Miss Grand Brasil. “Porque levo comigo minha história, minha cor, minha família e comunidade”.
Mas ela ressalta que ainda faltam oportunidades às meninas negras. “É um sinal de alerta. Ser só a segunda mostra que ainda falta muito pra que mais meninas negras tenham as mesmas oportunidades. É importante abrir caminho, mas também garantir que ele continue aberto para quem vem depois”, afirma.
Para ela, participar das competições já é uma vitória. “Nem sempre quem leva a faixa é quem mais faz história. Meu título como Miss Ceará e minhas participações nacionais provam que a beleza negra importa e merece ocupar espaços que antes nos foram negados”, ressalta.
“Cada palco é uma porta aberta para outras meninas entenderem que o impossível não existe quando a gente honra nossas raízes. No fim, a vitória é coletiva — minha, da minha comunidade e de todas que sonham junto comigo”.
Ela aconselha as meninas que sonham em seguir carreira como modelo: “Não desistam. Sonhem alto, mesmo que tudo pareça contra. É difícil, é cansativo, mas vale a pena”.
“Ocupe o lugar que você quer, mesmo que digam que não é pra você. Se proteja, cuide de si, mas não deixe de tentar, porque sua história pode abrir portas pra muitas outras depois”, finaliza.